domingo, 7 de dezembro de 2014

Amsterdam: liberalidade com civilidade

Amsterdam é a lendária metrópole dos canais fluviais (165) e das casas flutuantes (mais de 2,5 mil), a cidade onde a liberalidade - com destaque para a legalidade da prostituição e da venda e consumo da maconha -  é uma das principais "atrações", razão pela qual atrai gente descolada do mundo inteiro e ferve noite a dentro.
A capital holandesa é também conhecida pelos seus muitos museus, pelas bicicletas que se tornaram um dos principais meios de transporte da cidade, pelos belos parques, pelos mercados e pelo urbanismo singular, formado por um conjunto de canais concêntricos margeados por ruas sempre elegantes.

Visitamos a cidade no outono, na primeira quinzena de outubro, com temperaturas variando entre 10 °C e 20 °C, ideal para longas caminhadas e pedaladas. Para completar, tivemos a sorte de contar com a presença do sol em vários momentos dos quatro dias em que lá estivemos (é bem verdade que Amsterdam merece que se dedique mais dias).
O hotel escolhido, via Hoteis.com, não poderia ter sido melhor. O Room Mate Aitana (aitana.room-matehotels.com) faz parte de uma rede de hotéis design, com localização privilegiadíssima, a pouca distância da Central Station, do centro da cidade e do Jordaan, o bairro mais charmoso de Amsterdam.
Logo que chegamos à Cidade dos Canais, no começo da tarde de uma sexta-feira, fomos bater perna até o centro da cidade, com parada na praça Dam para um chopp (apesar de adorar a Heineken e ver sua marca em todos os lugares, não perdi a oportunidade de optar pelas inúmeras marcas e variedades de cerveja, a bebida mais consumida por essas bandas) e uma boa parrilla argentina (sim, em toda parte se encontra uma steak house portenha).
 No retorno, entramos no Red Light District, área da cidade famosa pela prostituição (relembrando que na Holanda é uma atividade devidamente legalizada e vista com muita naturalidade), com várias casas de shows de sexo explícito dia e noite. O mais pitoresco são os becos estreitos com sequências de pequenos quartos com portas de vidro (sempre com uma luz vermelha acima), onde as moças ficam expostas em trajes sensuais. Os serviços são prestados ali mesmo, naturalmente fechando-se as cortinas. Embora presentes em toda parte, no Red Light District parece haver maior concentração de coffee shops, bares onde é vendida e consumida a maconha, com igual naturalidade.
O dia seguinte foi dedicado a mais caminhadas. Começamos pela feira livre do Nordermarket, que funciona às quartas e aos sábados e onde se encontra de tudo um pouco: desde antiquidades até frutas, verduras, frutos do mar e queijos e mais queijos, de todos os tipos, sempre deliciosos, outra grande especialidade dos holandeses.

A caminhada prosseguiu pelo Jordaan, com uma parada aqui, outra acolá, para repor as energias bebendo ora uma cerveja, ora um tinto. A chuva atrapalhou um pouco, mas faz parte do clima da cidade. No percurso paramos no The Cheese Museum, uma lojinha de queijos com degustação permanente e onde voltamos depois para comprar, além dos próprios queijos, acessórios de cozinha criativos e úteis.
Seguimos em direção à área mais badalada da cidade, a Leidseplein, uma praça e seu entorno cheios de bares e restaurantes (de novo muitas casas de carnes argentinas, mas também brasileiras, uruguaias etc). Nas proximidades fica o Hard Rock Café (pit stop obrigatório) e o Waterhole, que oferece música ao vivo à noite. Lá voltamos a tempo de ver o final do show da primeira banda e o início da segunda, ambas de pop rock.
Menos de um quilômetro à frente está a primeira fábrica da Heineken, hoje utilizada para a Heineken Experience, uma interessante visita às antigas dependências, mesclada com ensinamentos sobre o processo de fabricação de cerveja. Impossível entrar na loja que tem uma enorme diversidade de produtos associados à marca sem sair com sacolas cheias. Voltamos para a Leidseplein e comemos uma farta parrillada em um dos restaurantes argentinos e terminamos a noite no Waterhole.
No domingo o sol deu o ar da sua graça e não perdemos tempo: dia de pedalar. Alugamos a bike em uma loja que fica na Central Station, a Mac. Pedalar em Amsterdam é uma emoção e um prazer à parte, mas é preciso muito cuidado, afinal de contas são milhares (ou centenas de milhares?) de bicicletas disputando espaço com pedestres e, embora em menor quantidade, com carros e bondes. Os ciclistas locais costumam andar em alta velocidade, fazendo manobras quase radicais, sem falar nas motos que são liberadas para andar nas ciclovias (não consigo entender a razão), e como todo motoqueiro, praticando as tradicionais imprudências.
Percorremos o centro da cidade em direção à Leidseplein e seguimos em frente até o Vondelpark, um belíssimo parque com muitas árvores, extensos gramados e lagos. Em um dos cafés dentro do parque fizemos uma parada para a necessária hidratação, com cerveja, é claro. No retorno, fomos à Casa de Anne Frank, cuja visita é obrigatória. É uma imersão no mundo dos horrores do nazismo, que emociona e nos faz voltar a refletir sobre a ilimitada estupidez humana. Na volta ao hotel, já noite e com mais intimidade com as ruas e as regras do trânsito, experimentamos a inesquecível sensação de liberdade sobre duas rodas, com o vento frio batendo no rosto.

O último dia foi dedicado a algumas comprinhas e à indispensável visita ao Van Gogh Museum. Reserve ao menos duas horas para apreciar a vasta obra desse admirável artista holandês, conhecendo as transições entre as fases artísticas que atravessou em sua curta e intensa existência. A loja do museu oferece uma variedade de produtos inspirados na obra de Van Gogh, sendo natural sair de lá carregando algumas sacolas de compras.
Eis mais uma daquelas cidades que demorarei a dizer "dou por vista". Amsterdam é para voltar outras vezes, para visitar outros museus, novamente bater perna, pedalar, beber cerveja e sentir o clima de liberalidade que, ao contrário do que se pode imaginar, não se traduz em irresponsabilidade e pouco menos em libertinagem.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Petista, eu!?

Tenho notado que meu posicionamento nas redes sociais, muitas vezes na contra-mão do senso comum, faz com que seja taxado de defensor do governo, petista etc.
Não tenho filiação partidária (simplesmente porque no quadro atual não me sinto representado por nenhum deles) e pouco menos procuração para defender o governo.
Quando faço posts sobre os avanços que o Brasil vem experimentando, sobretudo nos últimos governos, o faço para oferecer um contraponto à tentativa manipulada de negar e desconstruir o que vem sendo feito.
Isso não significa que esteja defendendo a continuidade do atual governo ou que desconheça os seus erros e equívocos: sou adepto da alternância de poder e sempre desejarei que ocorra, mas desde que apareça algum projeto melhor (tenho certeza que o projeto tucano é pior e ainda não conhecemos os fundamentos da proposta de Eduardo Campos).
No mais, incomoda e irrita profundamente quando vejo pessoas (em tese) esclarecidas, que se deixam emprenhar pelos ouvidos e assimilam (e propagam) discursos contaminados pelos piores interesses (como faz com indisfarçável maestria o nauseante Arnaldo Jabor) e que, a pretexto de atacar o governo, insultam o país.
Aos trancos e barrancos, do nosso jeito, respeitando e entendendo nossos traços culturais e históricos, vamos continuar avançando, acumulando novas conquistas, fazendo o nosso dever de casa.
Àqueles incomodados e indignados tardios, que dizem que o Brasil é uma m..., a porta de saída é a serventia da casa.
Tenho dito.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Empresários e economistas veem exagero em aumento de pessimismo dos mercados

Valor Econômico, 19/03/2014, por Arícia Martins e Olivia Alonso | De São Paulo
Empresários e economistas presentes em evento promovido ontem pela revista "CartaCapital" reconhecem que a economia brasileira não vive um momento róseo, mas avaliam que a situação não seria a catástrofe que o mau humor recente dos mercados sugere. A antecipação do debate eleitoral, problemas de comunicação e a deterioração das contas públicas foram mencionados como motivos por trás do aumento do pessimismo com o Brasil, mas também foram destacados aspectos positivos da conjuntura atual.
Convidado às pressas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para substituí-lo na abertura dos debates, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo afirmou que o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro não tem sido "uma maravilha" no período pós-crise, mas não está tão ruim se comparado a outras economias. O México, por exemplo, atual "queridinho" dos mercados, cresceu apenas 1,1% em 2013, ante expansão de 2,3% do Brasil, observou Belluzzo.
Segundo o economista, os países que tiveram recuperação muito acima da média após a crise financeira são justamente aqueles que não respeitam o tripé macroeconômico, formado por metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário: China, Índia e Indonésia. Belluzzo afirmou que não é contra o tripé, mas o considera um "fetiche".
Num painel cujos dados foram fornecidos por Mantega, Belluzzo ainda destacou a evolução dos investimentos no período de 2003 a 2012, quando a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida das contas nacionais do que se investe em máquinas e construção civil) aumentou 5,7% ao ano, em média, ao passo que a alta do PIB foi de 3,6% na mesma ordem. Em sua visão, a queda do custo relativo dos investimentos nos últimos anos seria outro ponto importante, que não é, no entanto, captado pelo IBGE.
Em seguida à apresentação de Belluzzo, a presidente da rede varejista Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, afirmou que o varejo brasileiro vive uma "década de ouro" e rebateu novamente a ideia de que existe uma "bolha" no mercado de consumo. "O Brasil tem mercado e todo mundo quer esse mercado", disse. Luiza também apontou que março tem sido um mês muito bom para a empresa e para o comércio como um todo.
Para o presidente da Vale, Murilo Ferreira, a maior desconfiança de investidores em relação ao Brasil foi impulsionada pela antecipação do debate eleitoral. Em discussão após as apresentações, Ferreira comentou que precisa fazer um curso de Ph.D. para explicar tudo que as pessoas perguntam a ele sobre o setor elétrico, mesmo trabalhando numa empresa do setor de mineração que produz 1,2 mil megawatts de energia para consumo próprio em seus projetos no país.
O empresário ainda relatou que, sempre que chega em algum banco, o primeiro ponto abordado pelos investidores são as finanças públicas. "Isso acontece, porque antecipamos a discussão eleitoral em dois anos", disse Ferreira. Segundo ele, existem notícias negativas, como o aumento do déficit em transações correntes e mesmo a piora das contas públicas, mas algumas informações têm sido discutidas num contexto eleitoral. O presidente da Vale ainda observou que há aspectos positivos no cenário atual, como o baixo desemprego e a renda real dos trabalhadores.
Luiza Trajano avaliou que o maior desafio do país para reverter a piora de sua imagem ainda é a comunicação. De acordo com a empresária, esse assunto foi tratado por ela recentemente com Mantega, a quem teria dito que a presidente Dilma Rousseff "precisa se comunicar".
Já para o presidente do grupo Caoa, Antonio Maciel Neto, outros dois fatores explicam o mau humor com o Brasil, além da piora da política fiscal: a questão da Petrobras e do setor energético. Sobre a estatal, Maciel Neto afirmou que o fato de a empresa ter feito "um mega-aumento" de capital e, em seguida, controlado os preços dos combustíveis não foi bem visto. Em sua avaliação, a mudança de um preço de patamar não pode ser considerada inflação, que seria um processo de reajuste constante dos preços.
Durante sua apresentação, Maciel Neto argumentou que a inflação elevada, o baixo nível de investimentos e da produtividade são entraves a um crescimento maior do país. Depois, no debate, disse que a economia brasileira não estava tão bem quanto parecia há alguns anos, mas que a situação atual também não é tão ruim como o humor dos mercados indica.