Comecei a me interessar pela economia sergipana a partir da criação do
Fórum Empresarial de Sergipe, da qual participei no final dos anos 90,
cuja agenda sempre priorizou a temática do desenvolvimento econômico do
Estado. Logo nos primeiros anos, os membros do Fórum produziram
documentos com propostas setoriais que foram encaminhados ao governo, um
deles versando sobre o turismo.
Daí em diante passei a conversar com empresários, ler estudos e examinar
pesquisas, sempre com especial interesse porque reconhecia a
importância desse setor como um dos agentes dinamizadores da nossa
economia. E aqui abro parêntese para evidenciar um problema que afeta o
desenvolvimento do nosso turismo e que acredito não ser fácil resolver: a
reduzida autoestima do sergipano que considera nossas praias menos
atrativas que as demais do Nordeste. Mas esse é tema para outro post.
Fecho parêntese.
Com o advento do governo Marcelo Déda assumi a titularidade da Sedetec
e, nos primeiros dois anos, a atuação com a Setur (à frente João Gama)
foi muito próxima, de verdadeira parceria. Em 2009, com a extinção daquela pasta, a função
turismo foi incorporada à Sedetec e, por quase dois anos, coordenei essa
política pública, fazendo algumas apostas sobre as quais comentarei a
seguir.
A primeira das apostas, aliás seguindo o que já vinha adotando na
Sedetec, foi garantir que a política do turismo também fosse formulada
de forma participativa. Para isso, propus ao governador (e ele acatou)
alterações no decreto que dispõe sobre o Fórum Estadual do Turismo, a
partir de discussões com representantes do trade turístico, dando mais
efetividade ao seu papel de protagonista da formulação e do
acompanhamento da política estadual do setor. Tornei regulares as
reuniões do Fórum e submeti aos seus membros (representantes do próprio
governo, da sociedade e do trade turístico) a validação do Plano
Estadual de Turismo (elaborado de forma participativa), da matriz de
investimentos do Prodetur Nacional/Sergipe e dos respectivos PDITS
(Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável) dos pólos
Velho Chico e Costa dos Coqueirais.
A segunda aposta foi no Prodetur Nacional/Sergipe, cuja carta consulta foi elaborada e aprovada quando João Gama esteve à frente da Setur e tem investimentos previstos de US$ 100 milhões. Reformulei a
Unidade Coordenadora do Projeto e acelerei as tratativas junto ao MTur e
ao BID, sempre com o permanente apoio de José Roberto de Lima Andrade,
à época presidente da Emsetur. Ajustamos a matriz de investimentos para
guardar coerência com os PDITS (creio que pela primeira vez na história
do governo estadual um projeto dessa magnitude teve seus investimentos
definidos exclusivamente a partir de critérios técnicos), introduzimos
demandas da área da cultura e conseguimos conveniar com o MTur quase R$
30 milhões a título de antecipação de contrapartida não-reembolsável.
Nesse montante estão os recursos aplicados nas rodovias Santa
Luzia/Crasto e Convento/Pontal, além de cerca de R$ 6 milhões para
ações de promoção do destino turístico Sergipe.
A terceira aposta foi no turismo de eventos, desde sempre, e
inexplicavelmente, tratado sem muita ênfase tanto pelo governo, quanto
pelo próprio trade turístico. Logo no começo do governo, em 2007, a
Sedetec e a Setur ampliaram o apoio ao Aracaju Convention & Visitors
Bureau, mas o maior desafio continua sendo
superar as limitações do Centro de Convenções de Sergipe. Adepto da
filosofia popular de que o ótimo é o inimigo do bom, e ciente das
dificuldades de captar no mínimo R$ 50 milhões para construir um novo,
discuti com representantes do trade turístico e conclui que a ampliação e
reforma do CCS era viável e de baixo custo (cerca de R$ 10 milhões).
Fomos adiante e a Codise (titular do equipamento) elaborou o anteprojeto
e ainda captamos no MTur os recursos para a elaboração dos projetos de
engenharia. Quero crer que essa estratégia esteja mantida, sem prejuízo
de um projeto maior de um novo centro de convenções, até porque não há
qualquer restrição a termos dois, complementares, um médio e um grande.
Apesar de ter sido apenas um ano e sete meses, com discrição e
dedicação deixamos nossa modesta contribuição, que teve como uma marca importante a composição de uma equipe técnica nomeada com base nos melhores princípios da meritocracia. Pessoalmente foi grande o
aprendizado, sobre o qual quero compartilhar algumas conclusões com o
viés da boa e necessária crítica construtiva (e que assim seja recebida). Primeiramente,
conclui que o nosso trade turístico é por demais heterogêneo e suas lideranças pouco
propositivas, não valorizando e nem tirando proveito de espaços institucionais
nobres, como o Fórum Estadual de Turismo, preferindo exercer sua
influência a partir de relações pessoais com os dirigentes
governamentais de plantão.
Outra conclusão a que cheguei é que nossos especialistas e empresários
optam por fazer mais do mesmo, ao invés de exercitar a criatividade em
busca de novos modelos de atração de turistas e de fomento ao setor.
Fazer mais do mesmo, por exemplo, é só enxergar o turismo de lazer e
valorizar instrumentos como a mídia compartilhada que, na prática,
significa tornar-se refém da lógica perversa de certa operadora de
viagens, cujo hegemonismo impõe as regras de um jogo em que
invariavelmente ela ganha.
Por fim, mas não menos importante, estou absolutamente certo de que o
turismo em Sergipe vem se consolidando (é bem verdade que mais
lentamente do que desejamos) a partir de inegáveis esforços dos últimos
governos e do próprio trade turístico, e que as críticas aos seus
trabalhos devem ser feitas com responsabilidade e respeito, mas também precisam
ser recebidas com humildade e como inestimáveis contribuições.
Caro Jorge,
ResponderExcluirA sua abordagem foi clara, oportuna e feliz.
Você tem razão quando fala do trade. Acredito que o problema não é só a heterogeneidade, mas também a falta clara de consciência sobre o papel da iniciativa privada, principalmente no marketing turístico.Por Exemplo: Quantas vezes você já viu publicidade de nossos empreendimentos na mídia nacional ou mesmo regional?
Outro aspecto em que você tem razão é quando fala do fazer mais do mesmo, algumas ações são necessárias, a exemplo da mídia compartilhada, o que podemos discutir é ampliar a relação de operadoras com as quais compartilhamos, e aí é necessária a participação do empresariado,pois cabe a eles a política de preços. Entretanto o exercício da criatividade e a mudança de paradigmas está relacionada com o abandono de velhos hábitos, principalmente o achismo e a "chutometria". Reciclar-se participando de seminários, congressos, cursos, ou mesmo através da leitura é algo pouco conjugado por aqui. Talvez por não entender muito da área me sinto mal quando em um ano não vou ao menos a um evento para aprender, e faço isto por conta própria apesar de funcionário público nunca tive auxílio do estado para isto.
Há um aspecto importante do turismo que você deixou passar, o papel das Prefeitura Municipais na atividade turística. Quantas prefeituras do chamados municípios turísticos têm um órgão de turismo com recursos para desempenhar o seu papel? Quantas tem um calendário de eventos divulgado com antecedência? Quantas têm posto de informação turística funcionando adequadamente?
O turismo é uma atividade multidisciplinar e qualquer analise, por mais ampla que seja, apenas roçará a superfície.
Carlos Nascimento