segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Turismo em Sergipe: reflexões e contribuições

    Comecei a me interessar pela economia sergipana a partir da criação do Fórum Empresarial de Sergipe, da qual participei no final dos anos 90, cuja agenda sempre priorizou a temática do desenvolvimento econômico do Estado. Logo nos primeiros anos, os membros do Fórum produziram documentos com propostas setoriais que foram encaminhados ao governo, um deles versando sobre o turismo.
     Daí em diante passei a conversar com empresários, ler estudos e examinar pesquisas, sempre com especial interesse porque reconhecia a importância desse setor como um dos agentes dinamizadores da nossa economia. E aqui abro parêntese para evidenciar um problema que afeta o desenvolvimento do nosso turismo e que acredito não ser fácil resolver: a reduzida autoestima do sergipano que considera nossas praias menos atrativas que as demais do Nordeste. Mas esse é tema para outro post. Fecho parêntese.
     Com o advento do governo Marcelo Déda assumi a titularidade da Sedetec e, nos primeiros dois anos, a atuação com a Setur (à frente João Gama) foi muito próxima, de verdadeira parceria. Em 2009, com a extinção daquela pasta, a função turismo foi incorporada à Sedetec e, por quase dois anos, coordenei essa política pública, fazendo algumas apostas sobre as quais comentarei a seguir.
     A primeira das apostas, aliás seguindo o que já vinha adotando na Sedetec, foi garantir que a política do turismo também fosse formulada de forma participativa. Para isso, propus ao governador (e ele acatou) alterações no decreto que dispõe sobre o Fórum Estadual do Turismo, a partir de discussões com representantes do trade turístico, dando mais efetividade ao seu papel de protagonista da formulação e do acompanhamento da política estadual do setor. Tornei regulares as reuniões do Fórum e submeti aos seus membros (representantes do próprio governo, da sociedade e do trade turístico) a validação do Plano Estadual de Turismo (elaborado de forma participativa), da matriz de investimentos do Prodetur Nacional/Sergipe e dos respectivos PDITS (Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável) dos pólos Velho Chico e Costa dos Coqueirais.
     A segunda aposta foi no Prodetur Nacional/Sergipe, cuja carta consulta foi elaborada e aprovada quando João Gama esteve à frente da Setur e tem investimentos previstos de US$ 100 milhões. Reformulei a Unidade Coordenadora do Projeto e acelerei as tratativas junto ao MTur e ao BID, sempre com o permanente apoio de José Roberto de Lima Andrade, à época presidente da Emsetur. Ajustamos a matriz de investimentos para guardar coerência com os PDITS (creio que pela primeira vez na história do governo estadual um projeto dessa magnitude teve seus investimentos definidos exclusivamente a partir de critérios técnicos), introduzimos demandas da área da cultura e conseguimos conveniar com o MTur quase R$ 30 milhões a título de antecipação de contrapartida não-reembolsável. Nesse montante estão os recursos aplicados nas rodovias Santa Luzia/Crasto e Convento/Pontal, além de cerca de R$ 6 milhões para ações de promoção do destino turístico Sergipe.
     A terceira aposta foi no turismo de eventos, desde sempre, e inexplicavelmente, tratado sem muita ênfase tanto pelo governo, quanto pelo próprio trade turístico. Logo no começo do governo, em 2007, a Sedetec e a Setur ampliaram o apoio ao Aracaju Convention & Visitors Bureau, mas o maior desafio continua sendo superar as limitações do Centro de Convenções de Sergipe. Adepto da filosofia popular de que o ótimo é o inimigo do bom, e ciente das dificuldades de captar no mínimo R$ 50 milhões para construir um novo, discuti com representantes do trade turístico e conclui que a ampliação e reforma do CCS era viável e de baixo custo (cerca de R$ 10 milhões). Fomos adiante e a Codise (titular do equipamento) elaborou o anteprojeto e ainda captamos no MTur os recursos para a elaboração dos projetos de engenharia. Quero crer que essa estratégia esteja mantida, sem prejuízo de um projeto maior de um novo centro de convenções, até porque não há qualquer restrição a termos dois, complementares, um médio e um grande.
     Apesar de ter sido apenas um ano e sete meses, com discrição e dedicação deixamos nossa modesta contribuição, que teve como uma marca importante a composição de uma equipe técnica nomeada com base nos melhores princípios da meritocracia. Pessoalmente foi grande o aprendizado, sobre o qual quero compartilhar algumas conclusões com o viés da boa e necessária crítica construtiva (e que assim seja recebida). Primeiramente, conclui que o nosso trade turístico é por demais heterogêneo e suas lideranças pouco propositivas, não valorizando e nem tirando proveito de espaços institucionais nobres, como o Fórum Estadual de Turismo, preferindo exercer sua influência a partir de relações pessoais com os dirigentes governamentais de plantão.
     Outra conclusão a que cheguei é que nossos especialistas e empresários optam por fazer mais do mesmo, ao invés de exercitar a criatividade em busca de novos modelos de atração de turistas e de fomento ao setor. Fazer mais do mesmo, por exemplo, é só enxergar o turismo de lazer e valorizar instrumentos como a mídia compartilhada que, na prática, significa tornar-se refém da lógica perversa de certa operadora de viagens, cujo hegemonismo impõe as regras de um jogo em que invariavelmente ela ganha.
     Por fim, mas não menos importante, estou absolutamente certo de que o turismo em Sergipe vem se consolidando (é bem verdade que mais lentamente do que desejamos) a partir de inegáveis esforços dos últimos governos e do próprio trade turístico, e que as críticas aos seus trabalhos devem ser feitas com responsabilidade e respeito, mas também precisam ser recebidas com humildade e como inestimáveis contribuições.

Um comentário:

  1. Caro Jorge,
    A sua abordagem foi clara, oportuna e feliz.
    Você tem razão quando fala do trade. Acredito que o problema não é só a heterogeneidade, mas também a falta clara de consciência sobre o papel da iniciativa privada, principalmente no marketing turístico.Por Exemplo: Quantas vezes você já viu publicidade de nossos empreendimentos na mídia nacional ou mesmo regional?
    Outro aspecto em que você tem razão é quando fala do fazer mais do mesmo, algumas ações são necessárias, a exemplo da mídia compartilhada, o que podemos discutir é ampliar a relação de operadoras com as quais compartilhamos, e aí é necessária a participação do empresariado,pois cabe a eles a política de preços. Entretanto o exercício da criatividade e a mudança de paradigmas está relacionada com o abandono de velhos hábitos, principalmente o achismo e a "chutometria". Reciclar-se participando de seminários, congressos, cursos, ou mesmo através da leitura é algo pouco conjugado por aqui. Talvez por não entender muito da área me sinto mal quando em um ano não vou ao menos a um evento para aprender, e faço isto por conta própria apesar de funcionário público nunca tive auxílio do estado para isto.
    Há um aspecto importante do turismo que você deixou passar, o papel das Prefeitura Municipais na atividade turística. Quantas prefeituras do chamados municípios turísticos têm um órgão de turismo com recursos para desempenhar o seu papel? Quantas tem um calendário de eventos divulgado com antecedência? Quantas têm posto de informação turística funcionando adequadamente?
    O turismo é uma atividade multidisciplinar e qualquer analise, por mais ampla que seja, apenas roçará a superfície.

    Carlos Nascimento

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