A intenção de passar uma temporada de estudos
nos EUA era antiga, mas a carregada agenda de trabalho sempre inviabilizava
qualquer plano. Até que em 2011, com a adesão do filho mais novo, Daniel, ao
projeto, vislumbrei a oportunidade e, desde o começo do ano, começamos a
planejar a viagem para realizar em julho.
Embora já tivesse ido várias outras vezes àquele
país (mais precisamente 14 vezes desde a primeira viagem em 1995), esta seria
uma viagem diferente, mais longa e com um propósito bem definido: praticar o
idioma inglês vivenciando o dia a dia de alguma cidade americana. A primeira
escolha foi New York mas, alertados quanto ao intenso calor do verão, buscamos
outra cidade mais ao norte e nos deparamos com Boston. Não foi difícil concluir
que aquela seria a melhor escolha.
Boston é a capital e a maior cidade do Estado
do Massachusets e uma das mais antigas do país (1630). Maior aglomerado urbano
da região, Boston é considerada como a capital de New England (formada pelos
estados do Maine, New Hampshire, Vermont, Massachusets, Rhode Island e
Connecticut) devido aos seus impactos econômico e cultural. A cidade
propriamente dita tem uma população de apenas 600 mil habitantes, o que lhe dá
ares e vantagens de uma pequena metrópole. Já a Grande Boston é a décima maior
área metropolitana do país com seus 4,5 milhões de habitantes.
Com muitas universidades na cidade e no seu
entorno, Boston é um dos mais importantes centros mundiais de educação superior
e um reconhecido centro de medicina. A economia da cidade é também baseada em
pesquisa científica, eletrônica, engenharia, finanças e alta tecnologia. Como resultado,
a cidade é um dos principais centros financeiros do mundo (12° no Top 20 Global
Financial Centers) e a número 1 em inovação no planeta.
Depois de pesquisar em publicações especializadas
e na Internet, escolhemos no Kaplan International Colleges (www.kaplaninternational.com)
o Vacation English course com 18
horas-aula/semana (mais do que isso é exigido visto especial de estudante).
Como sempre, via www.booking.com, escolhi o Holiday Inn Express Boston, com
diária competitiva, boa localização (encravado no interessante South Bay
Shopping Center) e a 300m da estação Andrew do eficiente metrô da cidade (o
mais antigo do país). As passagens aéreas foram compradas no Submarino Viagens,
onde consegui o melhor preço, mesmo assim muito elevado (US$ 2.200 ida e
volta). A escolha de Daniel foi por hospedagem em casa de família.
A proximidade com o South Bay Shopping foi um
facilitador: para as compras, porque ali estão lojas da Best Buy (verdadeiro
paraíso para os amantes de produtos eletrônicos), Marshall's, Target, TJ Maxx e
Stop&Shop Supermarket, dentre outras; e para comer, com ótimas opções como
Olive Garden (rede de comida italiana com excelente relação custo/benefício) e
Applebee's (culinária americana e mexicana).
Procurei construir uma rotina que me permitisse
viver o dia a dia da cidade com olhos mais de aprendiz do que de turista, e
assim o fiz. Acordava cedo como se em casa estivesse, quase sempre ia para a
academia (www.goldsgym.com), tomava café da manhã, estudava cerca de 2h e saia
para conhecer alguma coisa nova (o que achei de mais interessante registrarei a
seguir). Costumava almoçar por volta das 13h30 e, das 14h30 até as 18h00,
estava na sala de aula, em meio a uma dúzia de colegas (invariavelmente jovens
abaixo dos 25 anos) das mais diversas partes do planeta, o que tornou a
experiência ainda mais valiosa.
Por conta do seu proeminente papel na Revolução
Americana, muitos lugares históricos relacionados com aquele período estão
preservados como parte do Boston National Historical Park. Uma boa parte,
exatamente 17, é encontrada ao longo da Freedom
Trail (www.thefreedomtrail.org), demarcada
por uma linha de tijolos vermelhos no chão interligando prédios e monumentos
situados no centro da cidade, normalmente percorrida em uma caminhada de 3
horas. No sentido sul a trilha termina no bucólico Common Boston, parque
público de 20ha adequado para caminhadas e para momentos de ócio.
Com intensa vida cultural, a cidade sedia
diversos museus de arte, com destaque para o Museum of Fine Arts, um dos
maiores dos EUA, que atrai um milhão de visitantes por ano e com acervo de 450
mil peças. Para quem gosta de ciência, o Museum of Science é parada
obrigatória. Também é mandatório visitar o New England Aquarium e se encantar
com as belezas da vida marinha.
No centro de Boston o Faneuil Hall Marketplace
é a região mais agitada da cidade, com lojas, restaurantes, pubs e o
tradicional Quincy Market onde se encontra alimentos frescos e frutos do mar.
Nessa área está instalado o Hard Rock Café Boston, sempre uma boa pedida para
uma cerveja (em todo lugar predomina as diversas opções da saborosa Samuel
Adams, orgulho da cidade). À noite, sobretudo a partir de quinta-feira, os pubs
oferecem música ao vivo e lotam de gente animada, previsível em uma cidade com
tantos universitários. Um dos pubs mais animados é The Tap (www.thetapbarboston.com)
com suas divertidas performances musicais. Outro lugar agradabilíssimo, nas
proximidades, é o Beer Works (www.beerworks.net), cervejaria artesanal ampla,
para onde fui várias vezes almoçar e, após as aulas, beber chopp e jogar sinuca
com os colegas do Kaplan. É sempre bom lembrar que, como no restante do país,
as casas noturnas fecham obrigatoriamente às 2h da madrugada e nem pensar em
entrar quem tiver menos de 21 anos. São rigores impostos em lei federal que
deveriam servir de exemplo para o Brasil.
Nas imediações desse sítio histórico está o
Central Wharf, onde fica o New England Aquarium e outros tantos restaurantes
especializados em frutos do mar, com destaque para a lagosta, encontrada a
preços acessíveis e um dos símbolos da cidade. Por falar em gastronomia, também
é obrigatória uma passada no Top of the Hub (www.topofthehub.net), um dos mais
finos restaurantes da cidade, instalado no 52° andar do
Prudential Center, proporcionando uma vista fantástica da cidade. Na noite em
que lá estivemos, uma banda de jazz insistia em tocar Tom Jobim, para meu
deleite.
Para aqueles que, como eu, apreciam uma boa
cerveja, a cidade sedia a Boston Beer Company (www.samueladams.com), jovem
cervejaria fundada em 1984 que produz a famosíssima Samuel Adams (o nome da
cerveja homenageia o patriota americano conhecido por sua atuação na Revolução
Americana e que teria sido um cervejeiro), hoje a maior cervejaria de capital
nacional depois que a InBev comprou a Anheuser-Busch em 2008. O tour pela
fábrica, que fica a poucos metros da estação Stony Brook do metrô, é gratuito e
termina com uma farta degustação de vários tipos das cervejas ali fabricadas,
com destaque para a lager.
Vizinha a Boston, a poucos minutos de metrô,
está Cambridge, uma pequena cidade que abriga dois gigantes: a Harvard
University e o Massachusets Institute of Technology (MIT). Reserve ao menos um
turno para cada tour, guiado por um estudante, que percorre o campus com
paradas nos diversos prédios. No MIT o tour inclui a visita a uma das
residências universitárias, exatamente como vemos nos filmes. É tudo muito
organizado, limpo, conservado, um verdadeiro paraíso para quem gosta de estudar
e, obviamente, pode pagar. A vida noturna de Cambridge é intensa, com muitos
pubs sempre lotados de estudantes e professores das mais diversas
nacionalidades, todos bebendo um draft
(o que aqui chamamos de chopp), quase sempre Samuel Adams.
Ninguém vai aos EUA, sobretudo com o dólar desvalorizado,
para não fazer uma boa farra de compras. Além do South Bay, onde ficava o
hotel, são muitas as lojas na região central da cidade (Downtown Crossing) e na
sofisticada Newbury Street. É claro que não poderia faltar um dia em um outlet (shoppings afastados dos grandes
centros onde lojas de famosas grifes praticam preços surpreendentes),
naturalmente da maior rede americana do gênero, a Premium
(www.premiumoutlets.com), situado em Wrentham, a cerca de uma hora de Boston.
Alugamos um carro no fim de semana e passamos a tarde do sábado ocupados com
compras.
No segundo fim de semana resolvemos visitar New
York City fazendo Boston-NYC-Boston de trem, em um confortável Acela Express,
da Amtrak. A tarifa de aproximadamente US$ 100 por trecho é similar à aérea,
mas a viagem, embora mais longa, é mais prazerosa, sem falar da conveniência de
embarcar e desembarcar nos centros das cidades (South Station em Boston e
Pennsilvania Station em NYC).
Apesar dos 21 dias na cidade, como boa parte do
tempo foi dedicada aos estudos, deixei muito por ver e fazer: passeio de barco
pelo Charlie River; jogo de baseball do Red Sox no Fenway Park (impressionante
a paixão dos cidadãos por esse time que joga todos os dias em época de
temporada); passeio de barco para ver baleias; praias próximas, dentre elas a
badalada ilha Martha's Vineyard, local onde o presidente Obama costuma passar
férias etc. Conclusão: precisarei voltar.
Como disse antes, embora predominasse no Kaplan
jovens com menos de 25 anos, me senti à vontade e fiz muitas amizades com gente
da Europa, da Ásia, da América do Sul e vários brasileiros. A experiência foi surpreendente,
superou minhas melhores expectativas, cumpriu com o objetivo traçado e
proporcionou uma oportunidade que, estou certo, irei repetir outras vezes,
certamente em outras cidades americanas. E já tenho planos para a próxima, em alguma cidade da ensolarada e bela Califórnia. Por fim, fica a
dica: curtas temporadas de estudo no exterior, mesmo para cinquentões, como eu,
têm tudo a ver.


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