Um dos "enigmas" matemáticos mais difundidos e comentados, aparentemente sem solução, na verdade não passa de uma "pegadinha" ou uma indução ao erro por partir de uma premissa falsa.
Trata-se da história de 3 amigos pagando uma conta de bar: a conta totalizou R$ 25,00, cada um pagou R$ 10,00 e combinaram dar ao garçon gorjeta de R$ 2,00. Feito isso, o garçon embolsou sua parte e devolveu R$ 1,00 a cada um dos clientes.
Nesse ponto surge a falsa questão: se cada um dos clientes recebeu R$ 1,00 de volta, então os 3 pagaram R$ 27,00 (3 x 9,00) que, somados aos R$ 2,00 que ficaram com o garçon, totalizaria R$ 29,00. Onde estaria, então, o R$ 1,00 para completar os R$ 30,00? Sumiu?
Vamos ao raciocínio correto, de duas formas:
a) Os R$ 30,00 foram assim divididos: R$ 25,00 para a conta, R$ 2,00 para o garçon e R$ 3,00 para os clientes (o troco), sem sobrar nem faltar nenhum R$ 1,00.
b) Os R$ 27,00 foram assim divididos: R$ 25,00 para a conta e R$ 2,00 para o garçon, ou seja, e obviamente, a gorjeta do garçon é parte dos R$ 27,00, não fazendo sentido ser somada ao total.
Como pode ser visto, em ambas as análises as contas fecham. A tentativa de somar os R$ 2,00 aos R$ 27,00 e querer chegar aos R$ 30,00 é a "pegadinha".
Espaço para divulgar minhas ideias, alimentar polêmicas e interagir com quem desejar. Temas prediletos: negócios, tecnologia, economia e política.
domingo, 29 de maio de 2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
Madrid, siesta e fiesta (em outubro de 2009)
Após alguns dias em Lisboa, seguimos para Madrid. É marcante a diferença entre essas duas principais cidades da Península Ibérica. Madrid tem ares de metrópole, movimentada, that never sleeps. Ficamos hospedados no Tryp Memphis, em plena Gran Via, a rua mais famosa e agitada da cidade, novamente com excelente tarifa obtida via booking.com (média de 90 euros a diária). Em toda a sua extensão, nas calçadas largas da Gran Via são encontradas mesas de bares que servem a indissociável dupla cañas e tapas (chopps e petiscos).
Um dos extremos da Gran Via é a Plaza Cibeles, cartão postal da cidade onde fica o Palácio das Comunicaciones. A praça é cruzada pelo Paseo del Prado que leva ao imperdível Museo del Prado, a maior pinacoteca do mundo. Reserve algumas horas para deleitar-se diante de agumas dezenas de obras-primas de artistas como Goya, Velásquez e El Greco. No sentido oposto, seguindo pelo Paseo del Prado, chega-se à Plaza Colón em cujas imediações, especialmente na Calle Serrano, são encontradas lojas de grandes grifes internacionais.
O outro lado da Gran Via dá na Plaza de Espanha, cujas estátuas de Cervantes e de seus personagens Dom Quixote e Sancho Pança formam outro cartão postal da cidade. Dali segue-se em direção ao Palácio Real e à Catedral de Almudena até se chegar na Calle Mayor que nos leva à Plaza Mayor, parada obrigatória para fotos. Vale buscar a saída da Plaza que dá na Calle Imperial, para poder se deleitar com as imagens do cotidiano madrilenho presentes nas inúmeras vielas do entorno da Plaza.
E como diriam os espanhóis, cerca de la Plaza Mayor fica o Mercado de San Mateus, que descobrimos por acaso e acabou revelando-se uma grata surpresa. São várias tendas formando uma verdadeira feira de delícias e petiscos os mais variados, principalmente de frutos do mar, que podem ser deliciosamente consumidos ali mesmo, acompanhados com cerveja ou vinho. Os boquerones (espécie de pequenas sardinhas) fritos e a famosa salada de frutos do mar são simplesmente imperdíveis.
Fizemos outra parada em uma das mesas ao ar livre do charmoso Anciano Rey de los Vinos (www.elancianoreydelosvinos.es). Lá saboreamos mais uma taça de vinho acompanhada de um purito Romeo y Julieta (nos freeshops de Lisboa e Madrid você compra uma caixa com 5 unidades por apenas 4 euros).
No retorno para a Plaza de Espanha, em direção ao hotel, resolvemos cortar caminho pela Plaza Oriente e mais uma surpresa, o La Botilleria Del Café de Oriente (www.botilleria.es), com seu charmoso ambiente no lado de fora, com vista para o Palácio Real. Não resistimos a mais essa parada de começo de noite, temperatura caindo, para beber um tinto Rioja, optar por um jantar leve e deixar o tempo passar. Não foi a primeira vez que deixamos a programação seguir o acaso, abrindo mão de planos anteriormente traçados para nos entregar ao inesperado.
Não há como deixar de aproveitar uma viagem ao exterior e ir às compras nos outlets, hoje presentes em todas as grandes cidades. São shoppings normalmente a céu aberto, afastados dos centros das cidades, onde lojas das mais famosas grifes vendem seus produtos com descontos expressivos. Foi o que fizemos no sábado indo ao Las Rozas Outlet, a cerca de 20 minutos do centro de Madrid, com translado de 20 euros a partir da Plaza de Espanha número 7.
Na última noite optamos por um jantar especial e a escolha recaiu sobre El Espigón (www.elespigon.com). É uma casa de cozinha andaluza, charmosa e confortável, mas que pratica preços razoáveis. Na entrada a especialidade é a fritada de frutos do mar, uma deliciosa combinação de pequenos peixes, camarões e lulas fritos. O cardápio da casa é formado por uma variedade de peixes e crustáceos feitos com simplicidade, mas extraindo seus melhores sabores. Destacamos também os licores caseiros de sabores variados e servidos à vontade.
Somente a TAP tentou ofuscar o brilho dessa inesquecível viagem a dois, e conseguiu, ainda que parcialmente. No embarque em Lisboa, provenientes de Madrid em vôo da mesma companhia que atrasou apenas 30 minutos, fomos impedidos de embarcar de volta para o Brasil e obrigados a permanecer mais 24 horas em Lisboa. A empresa recusou-se a tratar o episódio como negativa de embarque, alegando atraso de conexão para livrar-se da multa de 600 euros.
Depois dessa viagem, chegamos a uma conclusão: Madrid é uma daquelas cidades que merecem ser visitadas, ou melhor, vividas, mais de uma vez. Tantas quantas possíveis.
(*) Co-autoria de @EloisaGaldino
Um dos extremos da Gran Via é a Plaza Cibeles, cartão postal da cidade onde fica o Palácio das Comunicaciones. A praça é cruzada pelo Paseo del Prado que leva ao imperdível Museo del Prado, a maior pinacoteca do mundo. Reserve algumas horas para deleitar-se diante de agumas dezenas de obras-primas de artistas como Goya, Velásquez e El Greco. No sentido oposto, seguindo pelo Paseo del Prado, chega-se à Plaza Colón em cujas imediações, especialmente na Calle Serrano, são encontradas lojas de grandes grifes internacionais.
O outro lado da Gran Via dá na Plaza de Espanha, cujas estátuas de Cervantes e de seus personagens Dom Quixote e Sancho Pança formam outro cartão postal da cidade. Dali segue-se em direção ao Palácio Real e à Catedral de Almudena até se chegar na Calle Mayor que nos leva à Plaza Mayor, parada obrigatória para fotos. Vale buscar a saída da Plaza que dá na Calle Imperial, para poder se deleitar com as imagens do cotidiano madrilenho presentes nas inúmeras vielas do entorno da Plaza.
E como diriam os espanhóis, cerca de la Plaza Mayor fica o Mercado de San Mateus, que descobrimos por acaso e acabou revelando-se uma grata surpresa. São várias tendas formando uma verdadeira feira de delícias e petiscos os mais variados, principalmente de frutos do mar, que podem ser deliciosamente consumidos ali mesmo, acompanhados com cerveja ou vinho. Os boquerones (espécie de pequenas sardinhas) fritos e a famosa salada de frutos do mar são simplesmente imperdíveis.
Fizemos outra parada em uma das mesas ao ar livre do charmoso Anciano Rey de los Vinos (www.elancianoreydelosvinos.es). Lá saboreamos mais uma taça de vinho acompanhada de um purito Romeo y Julieta (nos freeshops de Lisboa e Madrid você compra uma caixa com 5 unidades por apenas 4 euros).
No retorno para a Plaza de Espanha, em direção ao hotel, resolvemos cortar caminho pela Plaza Oriente e mais uma surpresa, o La Botilleria Del Café de Oriente (www.botilleria.es), com seu charmoso ambiente no lado de fora, com vista para o Palácio Real. Não resistimos a mais essa parada de começo de noite, temperatura caindo, para beber um tinto Rioja, optar por um jantar leve e deixar o tempo passar. Não foi a primeira vez que deixamos a programação seguir o acaso, abrindo mão de planos anteriormente traçados para nos entregar ao inesperado.
Não há como deixar de aproveitar uma viagem ao exterior e ir às compras nos outlets, hoje presentes em todas as grandes cidades. São shoppings normalmente a céu aberto, afastados dos centros das cidades, onde lojas das mais famosas grifes vendem seus produtos com descontos expressivos. Foi o que fizemos no sábado indo ao Las Rozas Outlet, a cerca de 20 minutos do centro de Madrid, com translado de 20 euros a partir da Plaza de Espanha número 7.
Na última noite optamos por um jantar especial e a escolha recaiu sobre El Espigón (www.elespigon.com). É uma casa de cozinha andaluza, charmosa e confortável, mas que pratica preços razoáveis. Na entrada a especialidade é a fritada de frutos do mar, uma deliciosa combinação de pequenos peixes, camarões e lulas fritos. O cardápio da casa é formado por uma variedade de peixes e crustáceos feitos com simplicidade, mas extraindo seus melhores sabores. Destacamos também os licores caseiros de sabores variados e servidos à vontade.
Somente a TAP tentou ofuscar o brilho dessa inesquecível viagem a dois, e conseguiu, ainda que parcialmente. No embarque em Lisboa, provenientes de Madrid em vôo da mesma companhia que atrasou apenas 30 minutos, fomos impedidos de embarcar de volta para o Brasil e obrigados a permanecer mais 24 horas em Lisboa. A empresa recusou-se a tratar o episódio como negativa de embarque, alegando atraso de conexão para livrar-se da multa de 600 euros.
Depois dessa viagem, chegamos a uma conclusão: Madrid é uma daquelas cidades que merecem ser visitadas, ou melhor, vividas, mais de uma vez. Tantas quantas possíveis.
(*) Co-autoria de @EloisaGaldino
sábado, 21 de maio de 2011
Computação em nuvem
A área de Tecnologia da Informação (TI) é famosa pela capacidade de criar neologismos e importar estrangeirismos, quase todos vindos do inglês e rapidamente se incorporando às demais línguas sem dar lugar às respectivas palavras e expressões traduzidas. Assim ocorreu com software, termo usado no mundo inteiro e que significa, em português, programa de computador. Um novo conceito domina o setor de TI neste momento mundo afora: o de cloud computing ou simplesmente computação em nuvem, cujo significado e importância vão além dos comuns modismos ou invencionices. Na verdade estamos diante de um novo ponto de inflexão na dinâmica curva evolutiva da TI, que está transformando drasticamente a forma como se compra e usa os seus recursos. É sobre isso, de forma introdutória, que escrevo a seguir.
O modelo de computação em nuvem está associado à utilização dos recursos (memória, capacidade de armazenamento e de processamento) de computadores compartilhados e interligados por meio da Internet, acessados remotamente (daí a alusão à nuvem). Computadores, dados e programas são vendidos como serviços compartilhados que podem ser acessados de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, sem a necessidade de se preocupar com os vários aspectos operacionais envolvidos. O poder computacional e a capacidade de armazenamento tornam-se commodity, comprados quando necessários e escaláveis sob demanda.
Atualmente, a computação em nuvem é dividida em cinco tipos: infraestrutura como serviço (IaaS), quando se utiliza uma parte de um servidor que se adeque às necessidades do contratante; plataforma como serviço (PaaS), quando se contrata apenas uma plataforma (banco de dados, webservice etc); desenvolvimento como serviço (DaaS), quando são oferecidas ferramentas de desenvolvimento compartilhadas; software como serviço (SaaS), quando o software é utilizado via Web (a exemplo do Google Docs, MS Sharepoint Online etc); comunicação como serviço (CaaS), quando se utiliza de uma solução de comunicação unificada oferecida remotamente.
A lista de vantagens da computação em nuvem é enorme, a começar da possibilidade de utilizar softwares sem que estes estejam instalados no computador do usuário e, na maioria das vezes, sem precisar se preocupar com o sistema operacional e o hardware que está usando em seu computador pessoal, acessando seus dados na "nuvem computacional" independentemente disso. O mesmo vale para o ambiente corporativo das organizações.
É no quesito economia, certamente o mais importante, onde residem as maiores vantagens da adoção desse novo modelo computacional, cujos recursos são vendidos de forma compartilhada e pagos sob demanda de uso, portanto, a custos bem menores do que aqueles requeridos para se ter e manter estrutura computacional própria. Essa economia começa com a eliminação das licenças de uso de software, uma vez que a maioria dos provedores de serviços em nuvem fornece aplicações que vão desde a gratuidade até o pagamento por nível de utilização.
No que se refere à infraestrutura (computadores, sistemas operacionais, bancos de dados etc), os custos de manutenção podem cair drasticamente, a depender do que for transferido para a nuvem. Isso inclui toda a gama de serviços de suporte, desenvolvimento, instalação, configuração e manutenção de softwares, além daqueles relacionados a hardware, que passam a ficar a cargo do provedor dos serviços em nuvem, restando nas organizações apenas os computadores clientes (dos usuários finais) configurados em rede e com acesso à Internet.
Há outros aspectos relevantes a justificar a corrida para as nuvens, como a compreensão de que se trata de uma resposta perfeita para a emergente comunicação móvel corporativa, dispensando a dispendiosa infraestrutura para suportar soluções móveis. Outro quesito tido como mais importante do que a economia para algumas empresas, é a agilidade com que suas demandas por escalabilidade (mais capacidade de armazenamento ou de processamento) são atendidas.
Apesar de todas as vantagens citadas, migrar para a nuvem requer uma séria de cuidados, sobretudo quando se trata de aplicação de missão crítica. São muitas as recomendações dadas pelos especialistas, incluindo avaliar a reputação do provedor do serviço, o nível de segurança oferecido, a facilidade (ou não) de trocar de provedor (garantia de portabilidade) e os dispositivos contratuais com níveis de serviço claros e penalidades bem definidas. A principal recomendação é: comece levando para a nuvem uma aplicação de menor porte e baixa criticidade.
É preciso ter em mente que a computação em nuvem ainda está na infância, com regras e políticas incipientes. Exemplo dessa fragilidade foi a recente falha no sistema da Amazon, chamado Elastic Compute Cloud, que afetou diretamente mais de 70 sites, dentre outros do FourSquare, que permite aos usuários a marcação do local em que se encontram, e a do jornal norte-americano The New York Times.
Embora o mercado de computação em nuvem venha evoluindo rapidamente, não faltam críticas sobre a falta de interoperabilidade, receio quanto ao aprisionamento a determinado fornecedor e riscos de segurança. Uma iniciativa para responder à demanda por interoperabilidade é a Open Data Center Alliance, organização cujos membros incluem a BMW, Deutsche Bank, JPMorgan Chase, Lockheed, Marriott, Shell, Terremark, UBS, Baidu, eBay e Kraft Foods. A aliança foi formada no ano passado e o número de membros mais do que dobrou desde então, chegando a 150 empresas, que somam 85 bilhões de dólares de gastos anuais com TI.
Por outro lado, o recente lançamento pela Google do Chromebook, notebook com sistema operacional de código aberto concebido para utilizar computação em nuvem (o usuário acessa os programas que estão disponíveis remotamente, bastando uma conexão à Internet), é mais uma demonstração de que estamos diante de um caminho sem volta.
Empresas como Google, IBM e Microsoft foram as primeiras a iniciar uma grande ofensiva nessa "nuvem de informação" (information cloud), que especialistas consideram uma nova fronteira da era digital. Aos poucos, essa tecnologia vai deixando de ser utilizada apenas em laboratórios para ingressar nas empresas e em computadores domésticos.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Telecomunicações no Brasil: até quando seremos explorados?
Não é de agora que tenho chamado a atenção para os abusos perpetrados pelas empresas de telecomunicações (teles), sobretudo nas operações de telefonia móvel. Para não parecer que critico sem fundamento, ainda mais no twitter, cuja limitação de 140 caracteres dificulta maiores explicações, resolvi escrever esse post, pegando carona em matérias sobre o tema publicadas na Folha de São Paulo de 08/02/2010.
Vamos aos textos extraídos das matérias (em azul), seguidos de meus comentários:
Uma pesquisa recente da consultoria europeia Bernstein Research colocou o minuto de celular no Brasil em segundo lugar entre os mais caros do mundo. O país só perde para a África do Sul e está à frente da Nigéria. O que o levantamento não revelou é que as tarifas são elevadas porque o governo brasileiro não abre mão de impostos e as operadoras não querem baixar o valor extra cobrado por minuto de seus clientes quando estes telefonam para um assinante da concorrente.
Resultado: em média, o consumidor brasileiro paga R$ 0,45 por minuto, segundo a pesquisa, em chamadas locais para celulares da própria operadora. Esse valor passa de R$ 1 caso a chamada termine em um número da operadora móvel concorrente.
Há anos, as teles, por meio de sua associação, a Acel, defendem a redução da carga tributária que, em média, é de 42% do preço por minuto ao consumidor. O setor diz que é uma das cargas mais pesadas do mundo.
Até o momento, o governo -tanto o estadual quanto o federal- não deu nenhuma sinalização de que irá baixar as alíquotas que incidem sobre o serviço. Dados da Telebrasil, associação que reúne representantes do setor de telecomunicações (incluindo as teles fixas e móveis), revelam que, em alguns Estados, a arrecadação com serviços de telecomunicações chega a 40% do total.
Aqui reside um imenso equívoco: se a carga tributária é de 42%, como justificar que a tarifa média praticada no Brasil chega a ser 10x maior que a média mundial e 3x a média dos países em desenvolvimento, segundo outros estudos realizados pelo IPEA e OCDE?
Não é só imposto
Mas não é só isso que pesa para o consumidor. A conta também sobe porque as operadoras móveis não querem perder parte de sua receita de interconexão, valor cobrado por minuto nas ligações que, para serem completadas, precisam passar pela rede de companhias concorrentes.
Em média, esse valor oscila entre R$ 0,40 e R$ 0,45 por minuto e é adicionado ao preço do minuto definido em contrato pela operadora nos planos pré e pós-pagos escolhidos pelo cliente. Entre o quarto trimestre de 2008 e o terceiro trimestre de 2009, TIM, Vivo e Oi angariaram R$ 4,9 bilhões com a interconexão. A Claro não divulga essa informação.
"Grande parte desses recursos [de interconexão] é dinheiro na veia das operadoras", diz Paulo Mattos, diretor de regulamentação da Oi. "Se pegar a receita anual de todas elas [incluindo a própria Oi], 35% é dinheiro da interconexão."
Mattos afirma que esses valores praticados no Brasil são 150% superiores aos da Europa e dos EUA.
A GVT chegou a ir à Justiça contra as operadoras móveis, considerando abusivos os preços cobrados pela interconexão. A disputa foi parar até na SDE (Secretaria de Direito Econômico), órgão do Ministério da Justiça que investiga casos que podem ferir a concorrência comercial.
Anatel diz que consultoria vai estudar modelo
A Anatel informa que já contratou uma consultoria especializada para ajudá-la a definir o modelo de custo dos serviços prestados pelas operadoras móveis. O trabalho deverá ser concluído em 18 meses.
A UIT (União Internacional de Telecomunicações) participa desse projeto. A organização, ligada à ONU, atuou na elaboração desses sistemas de monitoramento de custos das teles em outros países.
Contudo, os valores (de interconexão) em vigor atualmente são considerados exorbitantes. A Folha apurou que a agência pretende acelerar a definição de um modelo de custos para que os consumidores possam utilizar o celular sem se preocupar tanto com o preço do minuto, como acontece em países desenvolvidos.
Segundo a consultoria Bernstein Research, nem mesmo em nações em desenvolvimento o minuto passa de R$ 0,10, já considerando impostos. Na Índia, cujo PIB (Produto Interno Bruto) se assemelha ao do Brasil, o minuto é R$ 0,02; na Indonésia e na China, R$ 0,06; no México, na Rússia e no Egito é R$ 0,10, mesmo preço cobrado nos EUA.
Recentemente, países da América Latina e Caribe começaram a revisão dos custos das operadoras para derrubar o preço do minuto. No Chile, a interconexão caiu pela metade.
Vejam que detalhe interessante: a ANATEL precisava de 18 meses (!!) para definir novo modelo de custos! Será que os estudos foram contratados e iniciados? Quem souber morre ...
As teles afirmam que a interconexão está nesse patamar porque o investimento na telefonia celular é muito maior que na fixa, exigindo novos aportes a cada três anos.
Isso porque haveria uma evolução de tecnologias mais acelerada na plataforma móvel. Um exemplo: nem bem foram realizados os aportes na construção de uma rede de telefonia 3G (terceira geração) no Brasil e as operadoras já discutem os investimentos necessários ao 4G (quarta geração).
Por isso, elas dizem que não dá para abrir mão da receita da interconexão sem colocar algo no lugar. Além disso, ainda segundo as companhias, parte dessa receita ajuda a manter o cliente pré-pago, que gasta, em média, menos de R$ 10 por mês. Essa quantia não remunera o serviço e afeta a lucratividade da companhia. Resultado: com uma redução drástica da interconexão, seria preciso aumentar mais o minuto.
A TelComp, associação que representa as operadoras que defendem a competição, acredita que a redução da interconexão obrigaria as empresas a se tornarem mais eficientes, criando fórmulas e planos que atraiam novos clientes, estimulando justamente o uso do celular na realização de chamadas.
Foi o que aconteceu em países da Europa e nos EUA, que praticamente zeraram o valor da interconexão, fazendo com que o tráfego de voz saltasse rapidamente para um dos mais elevados do mundo.
Esse trecho é autoexplicativo: as teles tentando justificar o injustificável ou perpetuar um modelo de negócios baseado na sua baixa competitividade.
Eis as minhas conclusões:
1. As telecomunicações no Brasil se transformaram em um dos melhores negócios do mundo, combinando a oferta de serviços de péssima qualidade, com tarifas exorbitantes e regulação frouxa (há quem justifique a frouxidão da Anatel por conta do marco regulatório intencionalmente omisso, obra da era privatizante de FHC e que os governos seguintes, assim como o Congresso Nacional, mantêm intocável).
2. O cenário transcende a telefonia móvel e atinge a oferta de serviços de comunicação em banda larga, também abusivamente caros e com velocidades ridículas para os tempos atuais. O cinismo é tanto que, com a chegada do concorrente GVT, a Oi reduziu drasticamente os preços do seu problemático Velox, comprovando os abusivos sobrepreços até então praticados.
3. Nós usuários temos parcela significativa de culpa porque: a) usamos excessivamente o celular; b) não utilizamos outras formas de comunicação de custo baixíssimo, uma vez que rodam na Internet, como Skype, e-mail etc. Mais recentemente, aplicativos de voz sobre IP (VoIP) foram disponibilizados com alta qualidade, a exemplo do Viber para iPhone, mas pouquíssimas pessoas utilizam.
Vamos aos textos extraídos das matérias (em azul), seguidos de meus comentários:
Uma pesquisa recente da consultoria europeia Bernstein Research colocou o minuto de celular no Brasil em segundo lugar entre os mais caros do mundo. O país só perde para a África do Sul e está à frente da Nigéria. O que o levantamento não revelou é que as tarifas são elevadas porque o governo brasileiro não abre mão de impostos e as operadoras não querem baixar o valor extra cobrado por minuto de seus clientes quando estes telefonam para um assinante da concorrente.
Resultado: em média, o consumidor brasileiro paga R$ 0,45 por minuto, segundo a pesquisa, em chamadas locais para celulares da própria operadora. Esse valor passa de R$ 1 caso a chamada termine em um número da operadora móvel concorrente.
Há anos, as teles, por meio de sua associação, a Acel, defendem a redução da carga tributária que, em média, é de 42% do preço por minuto ao consumidor. O setor diz que é uma das cargas mais pesadas do mundo.
Até o momento, o governo -tanto o estadual quanto o federal- não deu nenhuma sinalização de que irá baixar as alíquotas que incidem sobre o serviço. Dados da Telebrasil, associação que reúne representantes do setor de telecomunicações (incluindo as teles fixas e móveis), revelam que, em alguns Estados, a arrecadação com serviços de telecomunicações chega a 40% do total.
Aqui reside um imenso equívoco: se a carga tributária é de 42%, como justificar que a tarifa média praticada no Brasil chega a ser 10x maior que a média mundial e 3x a média dos países em desenvolvimento, segundo outros estudos realizados pelo IPEA e OCDE?
Não é só imposto
Mas não é só isso que pesa para o consumidor. A conta também sobe porque as operadoras móveis não querem perder parte de sua receita de interconexão, valor cobrado por minuto nas ligações que, para serem completadas, precisam passar pela rede de companhias concorrentes.
Em média, esse valor oscila entre R$ 0,40 e R$ 0,45 por minuto e é adicionado ao preço do minuto definido em contrato pela operadora nos planos pré e pós-pagos escolhidos pelo cliente. Entre o quarto trimestre de 2008 e o terceiro trimestre de 2009, TIM, Vivo e Oi angariaram R$ 4,9 bilhões com a interconexão. A Claro não divulga essa informação.
"Grande parte desses recursos [de interconexão] é dinheiro na veia das operadoras", diz Paulo Mattos, diretor de regulamentação da Oi. "Se pegar a receita anual de todas elas [incluindo a própria Oi], 35% é dinheiro da interconexão."
Mattos afirma que esses valores praticados no Brasil são 150% superiores aos da Europa e dos EUA.
A GVT chegou a ir à Justiça contra as operadoras móveis, considerando abusivos os preços cobrados pela interconexão. A disputa foi parar até na SDE (Secretaria de Direito Econômico), órgão do Ministério da Justiça que investiga casos que podem ferir a concorrência comercial.
Anatel diz que consultoria vai estudar modelo
A Anatel informa que já contratou uma consultoria especializada para ajudá-la a definir o modelo de custo dos serviços prestados pelas operadoras móveis. O trabalho deverá ser concluído em 18 meses.
A UIT (União Internacional de Telecomunicações) participa desse projeto. A organização, ligada à ONU, atuou na elaboração desses sistemas de monitoramento de custos das teles em outros países.
Contudo, os valores (de interconexão) em vigor atualmente são considerados exorbitantes. A Folha apurou que a agência pretende acelerar a definição de um modelo de custos para que os consumidores possam utilizar o celular sem se preocupar tanto com o preço do minuto, como acontece em países desenvolvidos.
Segundo a consultoria Bernstein Research, nem mesmo em nações em desenvolvimento o minuto passa de R$ 0,10, já considerando impostos. Na Índia, cujo PIB (Produto Interno Bruto) se assemelha ao do Brasil, o minuto é R$ 0,02; na Indonésia e na China, R$ 0,06; no México, na Rússia e no Egito é R$ 0,10, mesmo preço cobrado nos EUA.
Recentemente, países da América Latina e Caribe começaram a revisão dos custos das operadoras para derrubar o preço do minuto. No Chile, a interconexão caiu pela metade.
Vejam que detalhe interessante: a ANATEL precisava de 18 meses (!!) para definir novo modelo de custos! Será que os estudos foram contratados e iniciados? Quem souber morre ...
As teles afirmam que a interconexão está nesse patamar porque o investimento na telefonia celular é muito maior que na fixa, exigindo novos aportes a cada três anos.
Isso porque haveria uma evolução de tecnologias mais acelerada na plataforma móvel. Um exemplo: nem bem foram realizados os aportes na construção de uma rede de telefonia 3G (terceira geração) no Brasil e as operadoras já discutem os investimentos necessários ao 4G (quarta geração).
Por isso, elas dizem que não dá para abrir mão da receita da interconexão sem colocar algo no lugar. Além disso, ainda segundo as companhias, parte dessa receita ajuda a manter o cliente pré-pago, que gasta, em média, menos de R$ 10 por mês. Essa quantia não remunera o serviço e afeta a lucratividade da companhia. Resultado: com uma redução drástica da interconexão, seria preciso aumentar mais o minuto.
A TelComp, associação que representa as operadoras que defendem a competição, acredita que a redução da interconexão obrigaria as empresas a se tornarem mais eficientes, criando fórmulas e planos que atraiam novos clientes, estimulando justamente o uso do celular na realização de chamadas.
Foi o que aconteceu em países da Europa e nos EUA, que praticamente zeraram o valor da interconexão, fazendo com que o tráfego de voz saltasse rapidamente para um dos mais elevados do mundo.
Esse trecho é autoexplicativo: as teles tentando justificar o injustificável ou perpetuar um modelo de negócios baseado na sua baixa competitividade.
Eis as minhas conclusões:
1. As telecomunicações no Brasil se transformaram em um dos melhores negócios do mundo, combinando a oferta de serviços de péssima qualidade, com tarifas exorbitantes e regulação frouxa (há quem justifique a frouxidão da Anatel por conta do marco regulatório intencionalmente omisso, obra da era privatizante de FHC e que os governos seguintes, assim como o Congresso Nacional, mantêm intocável).
2. O cenário transcende a telefonia móvel e atinge a oferta de serviços de comunicação em banda larga, também abusivamente caros e com velocidades ridículas para os tempos atuais. O cinismo é tanto que, com a chegada do concorrente GVT, a Oi reduziu drasticamente os preços do seu problemático Velox, comprovando os abusivos sobrepreços até então praticados.
3. Nós usuários temos parcela significativa de culpa porque: a) usamos excessivamente o celular; b) não utilizamos outras formas de comunicação de custo baixíssimo, uma vez que rodam na Internet, como Skype, e-mail etc. Mais recentemente, aplicativos de voz sobre IP (VoIP) foram disponibilizados com alta qualidade, a exemplo do Viber para iPhone, mas pouquíssimas pessoas utilizam.
segunda-feira, 2 de maio de 2011
A energia nuclear e a soberania nacional, Samuel Pinheiro Guimarães
(publicado em 04/05/2010 no portal www.cartamaior.com.br)
O acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera provoca o aquecimento global e suas catastróficas conseqüências. Cerca de 77% desses gases correspondem a CO2, dióxido de carbono, resultado inevitável da queima de combustíveis fósseis para gerar energia elétrica e para movimentar indústrias e veículos, desde automóveis a aviões e navios. Esta é a base da economia industrial moderna, desde a construção de uma máquina a vapor, capaz de girar uma roda, em 1781, por James Watt.
A redução das emissões de dióxido de carbono é essencial para impedir que a concentração de gases, que hoje alcança 391 partículas por milhão, ultrapasse 450 ppm. Este nível de concentração corresponderia a um aumento de 2ºC na temperatura, um limiar hoje considerado como o máximo tolerável, devido ao degelo das calotas polares e ao aquecimento dos oceanos - o que, ao ocorrer de forma gradual e combinada, levaria à inundação das zonas costeiras de muitos países, onde vivem cerca de 70% da população mundial.
Todavia, desde a assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, que estabeleceu metas para 2008-2012 de redução dessas emissões a níveis 5% inferiores àqueles verificados em 1990, a emissão de gases de efeito estufa aumentou. 70% da energia elétrica nos Estados Unidos é gerada por termoelétricas a carvão e gás; 50% da energia elétrica produzida na Europa é gerada por termoelétricas a carvão e a gás; 80% da energia elétrica chinesa tem como origem termoelétricas a carvão.
Em grande medida, a solução da crise ambiental depende, assim, da transformação radical da matriz energética, em especial das usinas de geração de eletricidade de modo a que venham a utilizar fontes renováveis de energia. Muitos dos países que são importantes emissores de gases de efeito estufa que teriam de transformar suas matrizes energéticas (responsáveis por 70% das emissões desses gases), não têm recursos hídricos suficientes (China, Índia, Europa etc.) ou não têm capacidade para gerar energia eólica e solar economicamente - fontes que, por serem intermitentes (a usina eólica funciona, em média, 25% do tempo e a solar somente durante período do dia) não asseguram continuidade de suprimento e nem sua energia pode ser armazenada. Mesmo a produção econômica de energia a partir da biomassa (etanol) se aplicaria mais à substituição de gasolina e diesel em veículos do que à produção de energia elétrica.
Resta, portanto, a energia nuclear como solução viável para a geração de energia elétrica em grande escala, uma vez que estão superados os problemas ambientais e de segurança. A energia nuclear, que hoje responde por 20% da energia elétrica produzida nos Estados Unidos; 75% na França; 25% no Japão e 20% na Alemanha, é produzida, como se sabe, a partir do urânio. Patrick Moore , fundador do Greenpeace, foi enfático ao declarar: “a energia nuclear é a única grande fonte de energia que pode substituir os combustíveis fósseis.”
81% das reservas de urânio conhecidas se encontram em seis países. O Brasil tem a 6ª maior reserva de urânio do mundo, tendo ainda a prospectar mais de 80% do seu território. A estimativa é de que o Brasil pode vir a deter a terceira maior reserva do mundo. Cinco companhias no mundo produzem 71% do urânio. O urânio na natureza se encontra em um grau de concentração de 0,7%. Para ser usado como combustível esse urânio tem de ser minerado, beneficiado, convertido em gás, enriquecido a cerca de 4%, reconvertido em pó e transformado em pastilhas, que é a forma do combustível utilizado nos reatores.
Esse processo industrial é extremamente complexo e apenas oito países do mundo detém o conhecimento tecnológico do ciclo completo e a capacidade industrial para produzir todas as etapas do ciclo. Um deles é o Brasil. O Brasil combina, assim, a posse de reservas substanciais, e potencialmente muito maiores, com o conhecimento tecnológico e a capacidade industrial além de deter a capacidade industrial que permitiria produzir reatores.
Apesar da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) prever um crescimento moderado da demanda por urânio enriquecido, o fato é que países como a China e a Índia precisarão de instalar capacidade extraordinária de usinas não poluentes para aumentar a oferta de energia elétrica sem aumentar de forma extraordinária suas emissões de CO2. A China planeja aumentar sua capacidade instalada total de geração de energia elétrica em 100.000 MW por ano, o que equivale a toda a atual capacidade brasileira.
Caso os países desenvolvidos não aumentassem sua produção industrial e pudessem assim ser mantidos os atuais níveis de geração de eletricidade e, portanto, de emissão de gases, e os grandes países emergentes também não aumentassem suas emissões atuais de gases (e, portanto, mantivessem sua produção atual, com crescimento econômico zero) o nível de limiar do aumento de temperatura, 2ºC seria atingido muito antes do previsto - e até ultrapassado.
Assim, é urgentemente necessário diminuir a emissão de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, manter o crescimento econômico/social elevado para retirar centenas de milhões de seres humanos da situação abjeta de pobreza em que vivem. Isto só é possível através da geração de energia elétrica a partir do urânio. Para gerar 1Kw de energia elétrica, uma usina a carvão gera 955 gramas de CO2; uma usina a óleo 818 g; uma usina a gás gera 446 g e a usina nuclear 4 g (quatro!) de CO2.
Oa grandes países produtores de energia, portanto, terão de mudar sua matriz energética, cuja base hoje são combustíveis fósseis, para utilizar combustíveis renováveis e não-fósseis como a energia nuclear - única que atende aos requisitos de regularidade, de suprimento, de economia e de localização flexível. Mas os extraordinários interesses das grandes empresas produtoras de petróleo, de gás e de carvão dos países que detém as principais jazidas desses combustíveis fósseis - carvão (Estados Unidos e China); gás (Rússia e EUA); e petróleo (Arábia Saudita, etc. - e os custos, difíceis de exagerar, de transformação de suas matrizes energéticas e de seus hábitos de consumo, tendem a influenciar as considerações dos técnicos que elaboram aquelas estimativas conservadoras da Agência Internacional de Energia – AIE, que prevêem o contínuo uso de combustíveis fósseis e um pequeno aumento de demanda por energia nuclear nos próximos anos.
Apesar de tudo, a deterioração das condições climáticas e fenômenos extremos farão com que a urgência de medidas de reorganização econômica se imponham, inclusive pela pressão dos cidadãos sobre os governos, apesar da contra-pressão dos interesses das mega-empresas. Assim, apesar daquelas estimativas modestas, o mercado internacional para urânio enriquecido será extremamente importante nas próximas décadas, caso se queira evitar catástrofes climáticas irreversíveis.
Certas iniciativas dos países nucleares, a pretexto de enfrentar ameaças terroristas, podem afetar profundamente as possibilidades de participação do Brasil nesse mercado. Tais iniciativas se caracterizam por procurar concentrar nos países altamente desenvolvidos a produção de urânio enriquecido e de impedir sua produção em outros países, em especial naqueles que detêm reservas de urânio e tecnologia de enriquecimento. Em outros países, que são a maioria, o tema não tem importância, e serve apenas para criar meios de pressão sobre os primeiros. Isto afeta diretamente o Brasil, do ponto de vista econômico e de vulnerabilidade política.
Por outro lado, esses países procuram restringir por todos os meios a transferência de tecnologia, procuram impedir o desenvolvimento autônomo de tecnologia e procuram conhecer o que os demais países estão fazendo, sem revelar o que eles mesmos fazem. O Protocolo Adicional aos Acordos de Salvaguarda com a AIEA, previstos pelo TNP (Tratado de Não Proliferação) é um instrumento poderoso, em especial naqueles países onde há capacidade de desenvolvimento tecnológico - caso do Brasil. Onde não há essa capacidade não tem o Protocolo qualquer importância, nem para os que dele se beneficiam (os Estados nucleares) nem para aqueles que a suas obrigações se submetem (os Estados não-nucleares que não detêm urânio, nem tecnologia, nem capacidade industrial e que são a maioria esmagadora dos países do mundo).
A concordância do Brasil com a assinatura de um Protocolo Adicional ao TNP permitiria que inspetores da AIEA, sem aviso prévio, inspecionassem qualquer instalação industrial brasileira que considerassem de interesse, além das instalações nucleares (inclusive as fábricas de ultracentrífugas) e do submarino nuclear, e tivessem acesso a qualquer máquina, a suas partes e aos métodos de sua fabricação, ou seja, a qualquer lugar do território brasileiro, quer seja civil ou militar, para inspecioná-lo, inclusive instituições de pesquisas civis e militares. Ora, os inspetores são formalmente funcionários da AIEA, mas, em realidade, técnicos altamente qualificados, em geral nacionais de países desenvolvidos, naturalmente imbuídos da “justiça” da existência de um oligopólio nuclear não só militar, mas também civil, e sempre prontos a colaborar não só com a AIEA, o que fazem por dever profissional, mas também com as autoridades dos países de que são nacionais.
O Protocolo Adicional e as propostas de centralização em instalações internacionais da produção de urânio enriquecido são instrumentos disfarçados de revisão do TNP no seu pilar mais importante para o Brasil, que é o direito de desenvolver tecnologia para o uso pacífico da energia nuclear. Esta foi uma das condições para o Brasil aderir ao TNP, sendo a outra o desarmamento geral, tanto nuclear como convencional, dos Estados nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra), como dispõe o Decreto legislativo 65, de 2/7/1998: “a adesão do Brasil ao presente Tratado está vinculada ao entendimento de que, nos termos do artigo VI, serão tomadas medidas efetivas visando à cessação, em data próxima, da corrida armamentista nuclear, com a completa eliminação das armas atômicas”.
Todavia, desde 1968, quando foi assinado o TNP, os Estados nucleares, sob variados pretextos, aumentaram suas despesas militares e incrementaram de forma extraordinária a letalidade de suas armas não só nucleares como convencionais e assim, portanto, descumpriram as obrigações assumidas solenemente ao subscreverem o TNP. Agora tentam rever o Tratado para tornar a situação deles ainda mais privilegiada, com poder de arbítrio ainda maior, enquanto a situação econômica e política dos países não nucleares fica ainda mais vulnerável diante do exercício daquele arbítrio.
Ao contrário da maior parte dos países que assinaram o Protocolo Adicional, o Brasil conquistou o domínio da tecnologia de todo o ciclo de enriquecimento do urânio e tem importantes reservas de urânio. Só três países - Brasil, Estados Unidos e Rússia - têm tal situação privilegiada em um mundo em que a energia nuclear terá de ser a base da nova economia livre de carbono, indispensável à sobrevivência da humanidade. Aceitar o Protocolo Adicional e a internacionalização do enriquecimento de urânio seria, assim, um crime de lesa-pátria.
A redução das emissões de dióxido de carbono é essencial para impedir que a concentração de gases, que hoje alcança 391 partículas por milhão, ultrapasse 450 ppm. Este nível de concentração corresponderia a um aumento de 2ºC na temperatura, um limiar hoje considerado como o máximo tolerável, devido ao degelo das calotas polares e ao aquecimento dos oceanos - o que, ao ocorrer de forma gradual e combinada, levaria à inundação das zonas costeiras de muitos países, onde vivem cerca de 70% da população mundial.
Todavia, desde a assinatura do Protocolo de Quioto, em 1997, que estabeleceu metas para 2008-2012 de redução dessas emissões a níveis 5% inferiores àqueles verificados em 1990, a emissão de gases de efeito estufa aumentou. 70% da energia elétrica nos Estados Unidos é gerada por termoelétricas a carvão e gás; 50% da energia elétrica produzida na Europa é gerada por termoelétricas a carvão e a gás; 80% da energia elétrica chinesa tem como origem termoelétricas a carvão.
Em grande medida, a solução da crise ambiental depende, assim, da transformação radical da matriz energética, em especial das usinas de geração de eletricidade de modo a que venham a utilizar fontes renováveis de energia. Muitos dos países que são importantes emissores de gases de efeito estufa que teriam de transformar suas matrizes energéticas (responsáveis por 70% das emissões desses gases), não têm recursos hídricos suficientes (China, Índia, Europa etc.) ou não têm capacidade para gerar energia eólica e solar economicamente - fontes que, por serem intermitentes (a usina eólica funciona, em média, 25% do tempo e a solar somente durante período do dia) não asseguram continuidade de suprimento e nem sua energia pode ser armazenada. Mesmo a produção econômica de energia a partir da biomassa (etanol) se aplicaria mais à substituição de gasolina e diesel em veículos do que à produção de energia elétrica.
Resta, portanto, a energia nuclear como solução viável para a geração de energia elétrica em grande escala, uma vez que estão superados os problemas ambientais e de segurança. A energia nuclear, que hoje responde por 20% da energia elétrica produzida nos Estados Unidos; 75% na França; 25% no Japão e 20% na Alemanha, é produzida, como se sabe, a partir do urânio. Patrick Moore , fundador do Greenpeace, foi enfático ao declarar: “a energia nuclear é a única grande fonte de energia que pode substituir os combustíveis fósseis.”
81% das reservas de urânio conhecidas se encontram em seis países. O Brasil tem a 6ª maior reserva de urânio do mundo, tendo ainda a prospectar mais de 80% do seu território. A estimativa é de que o Brasil pode vir a deter a terceira maior reserva do mundo. Cinco companhias no mundo produzem 71% do urânio. O urânio na natureza se encontra em um grau de concentração de 0,7%. Para ser usado como combustível esse urânio tem de ser minerado, beneficiado, convertido em gás, enriquecido a cerca de 4%, reconvertido em pó e transformado em pastilhas, que é a forma do combustível utilizado nos reatores.
Esse processo industrial é extremamente complexo e apenas oito países do mundo detém o conhecimento tecnológico do ciclo completo e a capacidade industrial para produzir todas as etapas do ciclo. Um deles é o Brasil. O Brasil combina, assim, a posse de reservas substanciais, e potencialmente muito maiores, com o conhecimento tecnológico e a capacidade industrial além de deter a capacidade industrial que permitiria produzir reatores.
Apesar da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) prever um crescimento moderado da demanda por urânio enriquecido, o fato é que países como a China e a Índia precisarão de instalar capacidade extraordinária de usinas não poluentes para aumentar a oferta de energia elétrica sem aumentar de forma extraordinária suas emissões de CO2. A China planeja aumentar sua capacidade instalada total de geração de energia elétrica em 100.000 MW por ano, o que equivale a toda a atual capacidade brasileira.
Caso os países desenvolvidos não aumentassem sua produção industrial e pudessem assim ser mantidos os atuais níveis de geração de eletricidade e, portanto, de emissão de gases, e os grandes países emergentes também não aumentassem suas emissões atuais de gases (e, portanto, mantivessem sua produção atual, com crescimento econômico zero) o nível de limiar do aumento de temperatura, 2ºC seria atingido muito antes do previsto - e até ultrapassado.
Assim, é urgentemente necessário diminuir a emissão de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, manter o crescimento econômico/social elevado para retirar centenas de milhões de seres humanos da situação abjeta de pobreza em que vivem. Isto só é possível através da geração de energia elétrica a partir do urânio. Para gerar 1Kw de energia elétrica, uma usina a carvão gera 955 gramas de CO2; uma usina a óleo 818 g; uma usina a gás gera 446 g e a usina nuclear 4 g (quatro!) de CO2.
Oa grandes países produtores de energia, portanto, terão de mudar sua matriz energética, cuja base hoje são combustíveis fósseis, para utilizar combustíveis renováveis e não-fósseis como a energia nuclear - única que atende aos requisitos de regularidade, de suprimento, de economia e de localização flexível. Mas os extraordinários interesses das grandes empresas produtoras de petróleo, de gás e de carvão dos países que detém as principais jazidas desses combustíveis fósseis - carvão (Estados Unidos e China); gás (Rússia e EUA); e petróleo (Arábia Saudita, etc. - e os custos, difíceis de exagerar, de transformação de suas matrizes energéticas e de seus hábitos de consumo, tendem a influenciar as considerações dos técnicos que elaboram aquelas estimativas conservadoras da Agência Internacional de Energia – AIE, que prevêem o contínuo uso de combustíveis fósseis e um pequeno aumento de demanda por energia nuclear nos próximos anos.
Apesar de tudo, a deterioração das condições climáticas e fenômenos extremos farão com que a urgência de medidas de reorganização econômica se imponham, inclusive pela pressão dos cidadãos sobre os governos, apesar da contra-pressão dos interesses das mega-empresas. Assim, apesar daquelas estimativas modestas, o mercado internacional para urânio enriquecido será extremamente importante nas próximas décadas, caso se queira evitar catástrofes climáticas irreversíveis.
Certas iniciativas dos países nucleares, a pretexto de enfrentar ameaças terroristas, podem afetar profundamente as possibilidades de participação do Brasil nesse mercado. Tais iniciativas se caracterizam por procurar concentrar nos países altamente desenvolvidos a produção de urânio enriquecido e de impedir sua produção em outros países, em especial naqueles que detêm reservas de urânio e tecnologia de enriquecimento. Em outros países, que são a maioria, o tema não tem importância, e serve apenas para criar meios de pressão sobre os primeiros. Isto afeta diretamente o Brasil, do ponto de vista econômico e de vulnerabilidade política.
Por outro lado, esses países procuram restringir por todos os meios a transferência de tecnologia, procuram impedir o desenvolvimento autônomo de tecnologia e procuram conhecer o que os demais países estão fazendo, sem revelar o que eles mesmos fazem. O Protocolo Adicional aos Acordos de Salvaguarda com a AIEA, previstos pelo TNP (Tratado de Não Proliferação) é um instrumento poderoso, em especial naqueles países onde há capacidade de desenvolvimento tecnológico - caso do Brasil. Onde não há essa capacidade não tem o Protocolo qualquer importância, nem para os que dele se beneficiam (os Estados nucleares) nem para aqueles que a suas obrigações se submetem (os Estados não-nucleares que não detêm urânio, nem tecnologia, nem capacidade industrial e que são a maioria esmagadora dos países do mundo).
A concordância do Brasil com a assinatura de um Protocolo Adicional ao TNP permitiria que inspetores da AIEA, sem aviso prévio, inspecionassem qualquer instalação industrial brasileira que considerassem de interesse, além das instalações nucleares (inclusive as fábricas de ultracentrífugas) e do submarino nuclear, e tivessem acesso a qualquer máquina, a suas partes e aos métodos de sua fabricação, ou seja, a qualquer lugar do território brasileiro, quer seja civil ou militar, para inspecioná-lo, inclusive instituições de pesquisas civis e militares. Ora, os inspetores são formalmente funcionários da AIEA, mas, em realidade, técnicos altamente qualificados, em geral nacionais de países desenvolvidos, naturalmente imbuídos da “justiça” da existência de um oligopólio nuclear não só militar, mas também civil, e sempre prontos a colaborar não só com a AIEA, o que fazem por dever profissional, mas também com as autoridades dos países de que são nacionais.
O Protocolo Adicional e as propostas de centralização em instalações internacionais da produção de urânio enriquecido são instrumentos disfarçados de revisão do TNP no seu pilar mais importante para o Brasil, que é o direito de desenvolver tecnologia para o uso pacífico da energia nuclear. Esta foi uma das condições para o Brasil aderir ao TNP, sendo a outra o desarmamento geral, tanto nuclear como convencional, dos Estados nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra), como dispõe o Decreto legislativo 65, de 2/7/1998: “a adesão do Brasil ao presente Tratado está vinculada ao entendimento de que, nos termos do artigo VI, serão tomadas medidas efetivas visando à cessação, em data próxima, da corrida armamentista nuclear, com a completa eliminação das armas atômicas”.
Todavia, desde 1968, quando foi assinado o TNP, os Estados nucleares, sob variados pretextos, aumentaram suas despesas militares e incrementaram de forma extraordinária a letalidade de suas armas não só nucleares como convencionais e assim, portanto, descumpriram as obrigações assumidas solenemente ao subscreverem o TNP. Agora tentam rever o Tratado para tornar a situação deles ainda mais privilegiada, com poder de arbítrio ainda maior, enquanto a situação econômica e política dos países não nucleares fica ainda mais vulnerável diante do exercício daquele arbítrio.
Ao contrário da maior parte dos países que assinaram o Protocolo Adicional, o Brasil conquistou o domínio da tecnologia de todo o ciclo de enriquecimento do urânio e tem importantes reservas de urânio. Só três países - Brasil, Estados Unidos e Rússia - têm tal situação privilegiada em um mundo em que a energia nuclear terá de ser a base da nova economia livre de carbono, indispensável à sobrevivência da humanidade. Aceitar o Protocolo Adicional e a internacionalização do enriquecimento de urânio seria, assim, um crime de lesa-pátria.
Samuel Pinheiro Guimarães, à época Ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Fukushima fez de mim um partidário das usinas nucleares, George Monbiot
(publicado originalmente no Guardian e republicado na Folha de São Paulo)
Você não se surpreenderá ao ouvir que os acontecimentos no Japão me fizeram mudar de opinião sobre a energia nuclear. Mas pode se surpreender com a direção da mudança. Como resultado do desastre em Fukushima, abandonei a neutralidade quanto à energia nuclear, e agora apoio seu uso.
Uma usina velha e dotada de recursos de segurança insuficientes foi atingida por um monstruoso terremoto.
As redes de energia falharam, derrubando o sistema de refrigeração. Os reatores começaram a explodir.
O desastre expôs um legado conhecido, de projetos deficientes e o uso de gambiarras para reduzir custos. Mas, pelo menos até onde sabemos, ninguém recebeu uma dose letal de radiação.
Não estou propondo que sejamos complacentes. Mas é preciso perspectiva.
Como a maioria dos ecologistas, defendo uma grande expansão no uso de fontes de energia renováveis.
Também simpatizo com as queixas dos oponentes disso. Não são apenas as instalações de energia eólica próximas à costa que incomodam, mas as novas conexões de rede elétrica (fios, postes).
Os impactos e custos das fontes renováveis crescem em proporção ao volume de energia que elas fornecem.
Sempre apelei pelo uso de fontes de energia renovável como substitutas do combustível fóssil.
Deveríamos exigir que elas também substituíssem a atual capacidade de geração nuclear? Quanto mais esperarmos das fontes renováveis de energia, mais difícil será a tarefa de persuadir o público quanto ao seu uso.
Mas a fonte de energia a que a maioria das economias recorreriam caso fechassem suas usinas nucleares não é madeira, água, vento ou luz solar, e sim o combustível fóssil. O carvão é 100 vezes pior que a energia nuclear.
Sim, continuo a desprezar os mentirosos que comandam a indústria da energia nuclear. Sim, eu preferiria que o setor fosse fechado, caso existissem alternativas.
Mas não há solução ideal. Toda tecnologia de energia tem seu custo, e a ausência dessas tecnologias também teria. A energia nuclear foi submetida a um dos mais severos testes possíveis, e o impacto sobre o planeta foi pequeno. A crise em Fukushima fez de mim um defensor da energia nuclear.
domingo, 1 de maio de 2011
Tim Berners-Lee: o desconhecido pai da Web
A indústria da tecnologia da informação tem produzido mitos que se tornaram bilionários e são celebrados mundo afora pelos seus feitos, como os norte-americanos Bill Gates (Microsoft), Steve Jobs (Apple) e Larry Ellisson (Oracle), dentre vários outros. Naturalmente o glamour que os cerca tem mais relação com suas fortunas e (pseudo)irreverências do que propriamente pelo quanto contribuíram para o progresso da tecnologia.
Em posição diametralmente oposta encontramos nomes pouco conhecidos, que não acumularam fortunas, mas cujas contribuições para o avanço tecnológico são inestimáveis. Nesse rol merecem destaque o finlandês Linus Torvalds (criador do sistema operacional de código aberto Linux) e o inglês Tim Berners-Lee (pai da Web), a quem homenageio neste breve ensaio.
De acordo com a Wikipedia, Sir Timothy John Berners-Lee nascido em Londres, em 8 de junho de 1955, é engenheiro, cientista da computação e professor do MIT, a quem é creditada a invenção da World Wide Web (WWW), fazendo a primeira proposta para sua criação em março de 1989. Em 25 de dezembro de 1990, com a ajuda de Robert Cailliau e um jovem estudante do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), implementou a primeira comunicação bem-sucedida entre um cliente HTTP e o servidor através da Internet.
A World Wide Web (cuja tradução livre seria "Rede de alcance mundial", também conhecida como Web e WWW) é um sistema de documentos em hipermídia que são interligados e executados na Internet. Os documentos podem estar na forma de vídeos, sons, hipertextos e figuras. Para visualizar a informação, pode-se usar um programa de computador chamado navegador que descarrega os chamados "documentos" ou "páginas" de servidores web (ou "sítios") e mostra na tela do usuário. O usuário pode então seguir as hiperligações na página para outros documentos ou mesmo enviar informações de volta ao servidor para interagir com ele. O ato de seguir hiperligações é, comumente, chamado de "navegar" ou "surfar" na Web. Possivelmente, não fosse a genialidade de Tim, poderíamos hoje estar trocando e acessando informações na Internet utilizando algo como a não-intuitiva interface Windows e pagando caro por isso.
Visionário de fato, já em 1980, quando trabalhava no CERN, Berners-Lee propôs um projeto baseado no conceito de hipertexto para facilitar a partilha e atualização de informações entre os pesquisadores. Em 1989, o CERN era o maior nó da internet na Europa e Berners-Lee viu a oportunidade de unir hipertexto com internet: "Eu só precisei tomar a ideia de hipertexto e conectá-la às ideias de Transmission Control Protocol e Domain Name System e - ta-da! - a World Wide Web".
A partir daí ele construiu o primeiro navegador e o primeiro servidor Web. O primeiro website foi construído e posto on line em 6 de agosto de 1991, contendo informações sobre o projeto WWW. Visitantes poderiam aprender mais sobre hipertexto, detalhes técnicos para a criação de sua própria página web e até mesmo uma explicação sobre como pesquisar a Web para obter informações.
Em 1994, Berners-Lee fundou o World Wide Web Consortium (W3C) no MIT. É composto por várias empresas dispostas a criar normas e recomendações para melhorar a qualidade na Web. Berners-Lee deixou sua ideia disponível livremente, sem patente e sem royalties devidos. O World Wide Web Consortium decidiu que as suas normas deveriam ser baseadas em tecnologia livre de royalties, de modo que pudessem ser facilmente adotada por qualquer um.
Eis, portanto, o maior mérito desse cientista, que justificaria ser celebrado como um dos maiores homens da história: resistiu à tentação de apropriar-se sozinho da sua criação e enriquecer com ela, desprezando patentes e royalties e compreendendo que conhecimento deve ser compartilhado e não mercantilizado.
Como se não bastasse, foi uma das vozes pioneiras, e continua a percorrer o mundo em favor do princípio da neutralidade da rede (Internet), defendendo que provedores devem fornecer "conectividade sem restrições", e não deveriam nem controlar nem monitorar as atividades dos navegadores dos clientes sem o seu consentimento expresso.
Em novembro do ano passado, Berners-Lee publicou na Scientific American um artigo que se transformou em um verdadeiro libelo pela neutralidade da rede. Intitulado "Vida longa para a Web: um grito pela continuidade dos padrões abertos e neutralidade", nele diz o autor: "A Web é crítica não meramente pela revolução digital, mas para a continuidade da nossa prosperidade - e mesmo da nossa liberdade. Como a democracia em si, (a neutralidade) precisa ser defendida".
Recentemente, Tim Berners-Lee foi considerado um dos maiores gênios vivos do mundo, segundo o levantamento "Top100 Living Geniuses", da consultoria Creators Synectics. Em janeiro último esteve no Brasil, na Campus Party, onde foi aplaudido pela sua imensa legião de admiradores da comunidade de tecnologia da informação brasileira. Na ocasião, afirmou: "A internet deve ser livre e qualquer tentativa de controle sobre a informação acaba por descaracterizar o propósito com que ela nasceu. Deveríamos lutar pelo oposto, justamente por um maior acesso à informação e maior liberdade e não partir para discussões sobre censura".
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