A área de Tecnologia da Informação (TI) é famosa pela capacidade de criar neologismos e importar estrangeirismos, quase todos vindos do inglês e rapidamente se incorporando às demais línguas sem dar lugar às respectivas palavras e expressões traduzidas. Assim ocorreu com software, termo usado no mundo inteiro e que significa, em português, programa de computador. Um novo conceito domina o setor de TI neste momento mundo afora: o de cloud computing ou simplesmente computação em nuvem, cujo significado e importância vão além dos comuns modismos ou invencionices. Na verdade estamos diante de um novo ponto de inflexão na dinâmica curva evolutiva da TI, que está transformando drasticamente a forma como se compra e usa os seus recursos. É sobre isso, de forma introdutória, que escrevo a seguir.
O modelo de computação em nuvem está associado à utilização dos recursos (memória, capacidade de armazenamento e de processamento) de computadores compartilhados e interligados por meio da Internet, acessados remotamente (daí a alusão à nuvem). Computadores, dados e programas são vendidos como serviços compartilhados que podem ser acessados de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, sem a necessidade de se preocupar com os vários aspectos operacionais envolvidos. O poder computacional e a capacidade de armazenamento tornam-se commodity, comprados quando necessários e escaláveis sob demanda.
Atualmente, a computação em nuvem é dividida em cinco tipos: infraestrutura como serviço (IaaS), quando se utiliza uma parte de um servidor que se adeque às necessidades do contratante; plataforma como serviço (PaaS), quando se contrata apenas uma plataforma (banco de dados, webservice etc); desenvolvimento como serviço (DaaS), quando são oferecidas ferramentas de desenvolvimento compartilhadas; software como serviço (SaaS), quando o software é utilizado via Web (a exemplo do Google Docs, MS Sharepoint Online etc); comunicação como serviço (CaaS), quando se utiliza de uma solução de comunicação unificada oferecida remotamente.
A lista de vantagens da computação em nuvem é enorme, a começar da possibilidade de utilizar softwares sem que estes estejam instalados no computador do usuário e, na maioria das vezes, sem precisar se preocupar com o sistema operacional e o hardware que está usando em seu computador pessoal, acessando seus dados na "nuvem computacional" independentemente disso. O mesmo vale para o ambiente corporativo das organizações.
É no quesito economia, certamente o mais importante, onde residem as maiores vantagens da adoção desse novo modelo computacional, cujos recursos são vendidos de forma compartilhada e pagos sob demanda de uso, portanto, a custos bem menores do que aqueles requeridos para se ter e manter estrutura computacional própria. Essa economia começa com a eliminação das licenças de uso de software, uma vez que a maioria dos provedores de serviços em nuvem fornece aplicações que vão desde a gratuidade até o pagamento por nível de utilização.
No que se refere à infraestrutura (computadores, sistemas operacionais, bancos de dados etc), os custos de manutenção podem cair drasticamente, a depender do que for transferido para a nuvem. Isso inclui toda a gama de serviços de suporte, desenvolvimento, instalação, configuração e manutenção de softwares, além daqueles relacionados a hardware, que passam a ficar a cargo do provedor dos serviços em nuvem, restando nas organizações apenas os computadores clientes (dos usuários finais) configurados em rede e com acesso à Internet.
Há outros aspectos relevantes a justificar a corrida para as nuvens, como a compreensão de que se trata de uma resposta perfeita para a emergente comunicação móvel corporativa, dispensando a dispendiosa infraestrutura para suportar soluções móveis. Outro quesito tido como mais importante do que a economia para algumas empresas, é a agilidade com que suas demandas por escalabilidade (mais capacidade de armazenamento ou de processamento) são atendidas.
Apesar de todas as vantagens citadas, migrar para a nuvem requer uma séria de cuidados, sobretudo quando se trata de aplicação de missão crítica. São muitas as recomendações dadas pelos especialistas, incluindo avaliar a reputação do provedor do serviço, o nível de segurança oferecido, a facilidade (ou não) de trocar de provedor (garantia de portabilidade) e os dispositivos contratuais com níveis de serviço claros e penalidades bem definidas. A principal recomendação é: comece levando para a nuvem uma aplicação de menor porte e baixa criticidade.
É preciso ter em mente que a computação em nuvem ainda está na infância, com regras e políticas incipientes. Exemplo dessa fragilidade foi a recente falha no sistema da Amazon, chamado Elastic Compute Cloud, que afetou diretamente mais de 70 sites, dentre outros do FourSquare, que permite aos usuários a marcação do local em que se encontram, e a do jornal norte-americano The New York Times.
Embora o mercado de computação em nuvem venha evoluindo rapidamente, não faltam críticas sobre a falta de interoperabilidade, receio quanto ao aprisionamento a determinado fornecedor e riscos de segurança. Uma iniciativa para responder à demanda por interoperabilidade é a Open Data Center Alliance, organização cujos membros incluem a BMW, Deutsche Bank, JPMorgan Chase, Lockheed, Marriott, Shell, Terremark, UBS, Baidu, eBay e Kraft Foods. A aliança foi formada no ano passado e o número de membros mais do que dobrou desde então, chegando a 150 empresas, que somam 85 bilhões de dólares de gastos anuais com TI.
Por outro lado, o recente lançamento pela Google do Chromebook, notebook com sistema operacional de código aberto concebido para utilizar computação em nuvem (o usuário acessa os programas que estão disponíveis remotamente, bastando uma conexão à Internet), é mais uma demonstração de que estamos diante de um caminho sem volta.
Empresas como Google, IBM e Microsoft foram as primeiras a iniciar uma grande ofensiva nessa "nuvem de informação" (information cloud), que especialistas consideram uma nova fronteira da era digital. Aos poucos, essa tecnologia vai deixando de ser utilizada apenas em laboratórios para ingressar nas empresas e em computadores domésticos.
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