domingo, 22 de julho de 2012

O apagão de mão de obra especializada


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
15/07/2012


            O crescimento da economia mundial nas décadas mais recentes trouxe uma consequência que atinge atualmente muitos países, inclusive o Brasil: a escassez de mão de obra especializada, sobretudo nas atividades técnicas e tecnológicas, aí incluídas as engenharias, a computação e suas respectivas carreiras técnicas de nível médio.
            Na área de Tecnologia da Informação (TI), embora o setor empregue atualmente 600 mil profissionais no país, há um déficit de cerca de 90 mil especialistas de acordo com projeções do Observatório Softex. Mantida essa tendência, o déficit poderá chegar a 200 mil em 2013. Adicionalmente, de acordo com a Brasscom (associação que reúne empresas de TI de perfil exportador), apenas 85 mil estudantes concluem, em média, os cursos superiores de TI, de um total de 460 mil vagas oferecidas anualmente pelas instituições de ensino.
            Com as engenharias o cenário é igualmente desalentador: são 197 mil vagas oferecidas e somente 120 mil preenchidas nos vestibulares. Já o número anual de graduados (dados de 2010) são, comparativamente, assustadores quando comparados com outros países: China (400 mil), Índia (250 mil), Rússia (100 mil), Coréia do Sul (80 mil) e Brasil (32 mil).
            Mas a que se deve tamanho desinteresse e o que justificaria uma evasão que chega a ultrapassar 80%? As causas são diversas, mas destaco duas: a ilusão que está por trás da busca pelas carreiras de Estado; e a falta de base matemática na escola regular, reflexo do investimento anual por estudante que é quatro a cinco vezes menor do que a média dos países da OCDE para a educação básica, e 20% maior na  educação superior.
            Sobre a ilusão das carreiras de Estado, temos aí uma perversidade: motivados pela estabilidade do emprego e pelos salários desnecessariamente elevados, os jovens são pressionados pelas suas famílias a buscarem cursos que favoreçam a participação em concursos públicos (sobretudo Direito, com 1.240 cursos no Brasil e 1.100 no resto do mundo). Resultado: 1 em cada 1.000 vai concretizar esse sonho, alguns poucos vão se dar bem como profissionais autônomos, enquanto o restante vai engrossar a massa de subempregados frustrados. E onde está a perversidade? Exatamente no desperdício de tantos jovens talentosos, essenciais nas engenharias e com grande potencial para o empreendedorismo, que são vistos ocupando as monótonas carreiras de Estado.
     A realidade do ensino médio profissionalizante é ainda pior: a falta de investimentos públicos nas últimas décadas levou o Brasil a uma situação negativamente singular. Enquanto nos países ditos desenvolvidos tem-se 1 profissional de nível superior para cada 5 de nível médio, em nosso país são 2 de nível superior para cada 1 de nível médio. Felizmente os últimos governos vêm buscando corrigir esta distorção com a construção de 214 novas escolas técnicas federais, que já começam a se somar às apenas 140 unidades construídas entre 1909 e 2002.


Para refletir: A preguiça anda tão devagar, que a pobreza facilmente a alcança. Confúcio.
Para ler: Know-How – As 8 competências que separam os que fazem dos que não fazem, de Ram Charan

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Formação de equipes


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
08/07/2012


            Um grande desafio que se impõe ao gestor é formar sua equipe, sobretudo naquelas situações em que se parte do zero, a exemplo da criação de um novo negócio, ou quando se atravessa a turbulência de um processo de crescimento acelerado. As dicas que apresento aqui decorrem de experiência própria, em particular de erros que vivenciei em tempo recente.
1. A pirâmide da senioridade: os profissionais especializados são normalmente classificados em três "níveis de senioridade": júnior, pleno e sênior. Naturalmente o profissional júnior é aquele em início de carreira, a quem se deve delegar tarefas menos complexas; o pleno é intermediário; e o sênior, obviamente, aquele que possui maior experiência e maturidade, fiel depositário dos problemas de maior complexidade. Um dos grandes segredos na formação de um time vitorioso é equilibrar as presenças dos três níveis de senioridade, sem achatar (excesso de júniores), nem esticar (excesso de sêniores) a pirâmide.
2. Não tente caçar com gato: o ditado popular não deve ser aplicado no preenchimento de uma vaga da sua equipe. Se você precisa caçar e não tem um cão, se vire para arrumar um, mas não tente fazer isso com um gato. Costumo dizer que pior do que uma vaga aberta é ela mal preenchida, ou seja, mantenha a posição desocupada (quando muito ocupada interinamente ou acumule-a você mesmo) até encontrar alguém realmente apto a preenchê-la. Atente para um detalhe: não são poucas as vezes em que, quem tanto procuramos, está ao nosso lado, isto é, dentro da própria organização, portanto, não deixe de olhar em sua volta e dar oportunidades de ascensão aos da casa.
3. "Não existe o profissional que preciso": eis uma grande mentira. Pode não ser fácil encontrar o profissional com o perfil que você precisa, mas ele existe e sua obrigação é caçá-lo. Saiba, contudo, que essa busca tende a ser exaustiva e você poderá ter que recorrer a um head hunter (especialista em recrutar profissionais mais difíceis de encontrar) para dar conta da missão. Outra coisa: cada um "vale o quanto pesa", logo, não queira ter um grande jogador sem a indispensável disposição para pagar o quanto ele vale.
4. Quem escolhe o jogador é o técnico: jamais delegue a escolha de um dos membros do seu time a terceiros. É claro que o pessoal de RH deve atuar nas várias etapas de um processo seletivo, mas a entrevista final e a escolha precisam ser daquele que responde pela equipe, utilizando opiniões e relatórios de entrevistas que outros fizeram antes. Em geral somente o feeling do líder é capaz de enxergar talentos que estão invisíveis a olhos comuns.
5. A necessidade de oxigenar a equipe: por mais inacreditável que seja, nas organizações privadas é frequente se ver a perpetuação de profissionais sem as qualidades (técnicas ou pessoais) necessárias para os cargos que ocupam. Sem precisar chegar a extremos, e sem querer dizer nenhuma heresia, concordo com a estratégia de Jack Welch (o celebrado ex-CEO da GE) que consiste em renovar, compulsória e anualmente, uma pequena parte de todas as equipes da empresa.
            No mais, é conscientizar-se de que, nesses tempos de Economia do Conhecimento, um dos maiores (senão o maior) patrimônios de uma organização é o seu capital humano, portanto, cuide bem dele, a começar da escolha de cada um dos membros da sua equipe.


Para refletir: Os líderes comunicam a missão da organização incansavelmente; têm paixão por avaliar as pessoas; são decisivos nas avaliações. Jack Welch.

Para ler: Transformando suor em ouro, de Bernardinho.


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Estudar e aprender, sempre


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
01/07/2012


            Foi-se o tempo em que para ser um empreendedor bem sucedido bastaria tino e vocação, ou seja, atributos natos que seriam suficientes para garantir o sucesso nos negócios. O mundo mudou, tornou-se mais complexo e passou a exigir dos homens e mulheres de negócios muito mais conhecimento para crescer e competir.
            A boa notícia é que para adquirir conhecimento ou para se reciclar continuamente existem muitas alternativas, a maior parte adaptável à dinâmica sempre intensa de quem dirige uma empresa, mesmo de pequeno porte. Para aqueles que concluíram curso superior, que também se tornou acessível, as pós-graduações voltadas para negócios, principalmente os famosos MBAs (do inglês Master in  Business Administration), estão presentes nas mais diversas instituições, alguns deles com chancelas respeitadas, como da Fundação Getúlio Vargas e da HSM. Os MBAs normalmente têm duração entre 1 e 2 anos e carga horária superior a 360 h, sendo muitas vezes oferecidos em horários alternativos (noites e finais de semana).
            Como se não bastassem os impactos que vem produzindo nas mais diversas áreas (comunicações, negócios, relacionamentos etc), a Internet também vem revolucionando a educação com a crescente oferta de cursos à distância, outra excelente opção para aqueles que buscam flexibilidade e conforto, muito embora exija um requisito indispensável: disciplina rigorosa para alocar tempo e cumprir com a obrigação de fazer as aulas normalmente sozinho.
            O participante de um curso on line utiliza seu computador para navegar pelas diferentes áreas do curso, como área de estudos, ferramenta de chat, calendário, biblioteca virtual e "sala de aula". Também acessa o conteúdo teórico e interage com o professor-tutor e com a equipe de suporte técnico. Os alunos participam de atividades individuais e em equipe, discussões abertas e fechadas em sala de aula, chats abertos e fechados, gincanas, auto-avaliações e jogos. A participação dos alunos no curso também costuma ser avaliada e faz parte de sua média final. Para um bom desempenho, recomenda-se que dediquem, no mínimo, cinco horas semanais, acessando o site e desenvolvendo suas atividades on line.  Toda turma tem um professor-tutor especialista na área do curso, que irá acompanhar as atividades, mediar as discussões e tirar as dúvidas dos alunos.
            Desde cursos com poucas horas de duração até MBAs completos, a oferta já é enorme e, dentre tantas instituições que oferecem esse tipo de curso, destaco a própria FGV (www5.fgv.br/fgvonline/CursosGratuitos.aspx e www5.fgv.br/fgvonline/Cursos30Horas.aspx) e o Sebrae (www.ead.sebrae.com.br).
            Uma iniciativa muito interessante é o Portal Veduca (www.veduca.com.br) que oferece mais de 4000 vídeo-aulas e de 200 cursos das mais importantes universidades do Brasil e do mundo, nas mais diversas áreas do conhecimento. Detalhe: gratuitamente.
            Não há, portanto, tempo a perder. Comece agora seu programa pessoal de educação continuada, presencial ou on line, e descubra que na Era do Conhecimento estudar (e aprender) é essencial.


Para refletir:  Somos continuamente confrontados com grandes oportunidades, brilhantemente disfarçadas de problemas insolúveis. (Lee Iacocca).

Para ler: Empreendedorismo: transformando ideias em negócios, de José Dornelas.

Para visitar: www.veduca.com.br

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domingo, 1 de julho de 2012

Administração do tempo


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
24/06/2012

            Um dos maiores desafios de qualquer profissional, sobretudo daqueles que gerenciam um negócio, é administrar o tempo diante do turbilhão de atividades com as quais é obrigado a se envolver e dar conta. Isso tem se agravado - paradoxalmente - com os avanços tecnológicos que proporcionam conectividade plena em regime 24 x 7, tornando-nos recursos on line acessíveis a qualquer momento, ou seja, trabalhando muito mais do que se supunha há algumas poucas décadas.
            São inúmeras os estudiosos que nos apresentam as mais diversas técnicas de gerenciamento do tempo, quase sempre úteis e melhores do que não adotar método algum. Dentre tantos, destaca-se Stephen Covey, o guru americano autor do best-seller "Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes". Covey propõe classificar as atividades do dia a dia em urgentes e importantes e distribuí-las em quadrantes a partir do cruzamento de dois eixos: o da importância e o da urgência.
            A lógica dos quadrantes de Covey é simples e intuitiva, começando pela distinção entre importância e urgência. A partir daí, deve-se priorizar aquilo que é importante e urgente (crises, problemas inadiáveis, projetos com data marcada, reuniões), e em seguida o que é importante mesmo não sendo urgente (ações preventivas, criatividade, aprendizado, pesquisa, lazer). O que for urgente, embora não importante (interrupções, telefonemas, correspondências) vem em terceiro lugar e, obviamente, o que não é importante e nem urgente deve merecer menor atenção e alocação de tempo (detalhes, pequenas tarefas, perda de tempo, redes sociais).
            Ocorre que normalmente dedicamos quase 100% do nosso tempo às atividades urgentes - importantes ou não -, que tendem a se avolumar justamente porque algumas tarefas importantes, mas não urgentes, deixam de ser feitas (são elas que irão atacar problemas que minimizarão as urgentes).
            Covey faz uma analogia interessante quando ensina a distribuir as atividades no tempo: os compromissos importantes são como pedras grandes e os urgentes como pedras pequenas, e você precisa colocar todas em um mesmo recipiente (a sua agenda). Se colocar primeiro as pequenas, simplesmente não vai restar espaço para as grandes, que sobrarão todas; mas se fizer o contrário, irá conseguir acomodar ambas e a sobra será das menores.
            O mesmo autor também chama a atenção para um aspecto significativo: a identificação de todos os seus papéis enquanto indivíduo e a alocação de tempo, semanalmente, para cada um desses papéis (profissional, pai/mãe, marido/mulher, membro de associação/igreja/clube etc). Sem esse cuidado, invariavelmente dedicamos quase todo o tempo à agenda profissional e nos tornamos negligentes nos demais papéis que a vida nos reserva.
            Existem várias outras dicas e técnicas que ajudam muito a disciplinar a alocação do tempo, esse que pode ser um aliado ou um adversário, portanto vale a pena ler livros e artigos sobre o tema. A propósito, é sempre bom lembrar que o tempo é uma das mais democrática riquezas: todos recebemos exatamente a mesma quantidade, muitos desperdiçam e alguns poucos tiram o melhor proveito.


Para refletir: Plante um pensamento, colha uma ação; plante uma ação, colha um hábito; plante um hábito, colha um caráter; plante um caráter, colha um destino. (Stephen Covey).

Para ler: Está sem tempo?, artigo de Mauro Silveira, em http://migre.me/9xVv3


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Responsabilidade Social Empresarial


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
17/06/2012


            Provavelmente o leitor já deve ter ouvido falar de responsabilidade social empresarial, cidadania empresarial, balanço social e coisas do gênero. Tudo isso representa uma prática recente e inovadora, que tem sensibilizado um número cada vez maior de empresários para o compromisso com ações efetivas, que possam ir além do objetivo legítimo da obtenção do lucro em seus negócios.
            A empresa socialmente responsável se compromete em participar da construção de um "outro mundo possível" e contribui para a criação de um modelo de desenvolvimento social e ambientalmente sustentável. A adoção de valores éticos – como honestidade, integridade, justiça, lealdade e solidariedade – é o alicerce sobre o qual irá se construir a empresa cidadã. A partir deste compromisso com a ética, a prática da responsabilidade social empresarial tem se dado através de inúmeras ações relacionadas a meio-ambiente, local de trabalho, comunidade, mercado e direitos humanos.
            O meio-ambiente dá espaço para muitas iniciativas cidadãs, como o estabelecimento de uma política ecológica de compras, a minimização de resíduos, a redução do consumo de papel, a utilização de produtos recicláveis e a doação de excedente de móveis e equipamentos. A prevenção da poluição tem destaque especial no dia-a-dia da empresa cidadã. Nesta mesma linha, o uso eficaz de energia e água, com a adoção de iluminação inteligente, a utilização de transporte alternativo e até o trabalho em casa, tornam-se hábitos saudáveis que costumam atrair o compromisso de todos os colaboradores da empresa.
            Diversas práticas de responsabilidade social estão relacionadas com o ambiente de trabalho. Uma das mais relevantes é a adoção da diversidade como um valor essencial da empresa, traduzido no compromisso de contratar pessoas com experiências e perspectivas diferentes, abolindo a discriminação de raça, sexo, idade, religião, ascendência, nacionalidade, estado civil, orientação sexual, deficiência física ou mental e condições de saúde. O combate ao assédio sexual, o encorajamento ao trabalho voluntário e a promoção do equilíbrio entre trabalho e família, são outros exemplos de práticas socialmente responsáveis e benéficas à corporação e aos seus colaboradores.
            O envolvimento com a comunidade é outra excelente arena para o exercício efetivo da responsabilidade social.  Investir em comunidade carente traz muitos resultados para a empresa, favorecendo o trabalho voluntário dos colaboradores. Já o compromisso com os direitos humanos é elemento-chave na responsabilidade social corporativa. Por exemplo, o tratamento justo dado aos trabalhadores, o combate ao trabalho infantil e ao trabalho forçado, a liberdade de associação e as condições de saúde e segurança do trabalhador, devem estar presentes na empresa e em seus parceiros.
            Muitas ONGs (Organizações Não-Governamentais) mundo afora estão dedicadas à difusão da responsabilidade social empresarial. No Brasil, o Instituto Ethos tem desenvolvido um belo trabalho e publicado documentos muito elucidativos sobre a matéria, que podem ser obtidos em seu site (www.ethos.org.br).


Para refletir: A natureza dos homens soberbos e vis é mostrar-se insolentes na prosperidade e abjetos e humildes na adversidade. (Maquiavel).

Para ler: Finanças para empreendedores e profissionais não financeiros (Gustavo Cerbasi e Rafael Paschoarelli, Editora Saraiva)

Para visitar: www.ethos.org.br

Twitter: @jsantana61