domingo, 30 de setembro de 2012

A menina do Vale


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
23/09/2012

O êxito dos outros sempre suscita um largo espectro de sentimentos, que costumam ir da inspiração à inveja. Inspirar-se naqueles casos de sucesso que foram construídos sob o alicerce do trabalho e da ética, é um exercício que produz aprendizado e motivação, devendo ser sempre praticado.
A trajetória de Bel Pesce, de apenas 24 anos, é um desses casos que inspiram e que merecem ser conhecidos, sobretudo por quem trilha (ou pretende) o sinuoso caminho do empreendedorismo. No site de divulgação do seu livro "A menina do Vale", Bel é assim apresentada: "Nascida e criada em São Paulo, Bel estudou no renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT). Durante a faculdade, trabalhou na Microsoft, Google e Deutsche Bank, e terminou vários cursos: Engenharia Elétrica, Ciências da Computação, Administração, Economia e Matemática, além de fazer programas em Liderança e Inovação. Desde pequena, Bel gosta de criar idéias e começar projetos, e já esteve envolvida com muitas startups. Após se formar, resolveu viver no Vale do Silício, onde se respira empreendedorismo. Liderou três times de engenheiros na companhia americana Ooyala e mais recentemente se juntou ao time fundador da Lemon. Apenas 3 meses após o lançamento, a Lemon já conta com mais de 1 milhão de usuários. Bel é uma grande defensora de que todos os sonhos são atingíveis e de que a força está dentro de cada um de nós. Sua história possui episódios completamente improváveis e Bel acredita piamente que qualquer pessoa é capaz de alcançar os seus sonhos. Sempre dando o melhor de si, Bel recebeu diversos prêmios no MIT, na Microsoft e na Google, foi finalista de uma série de competições de planos de negócios e é uma Sandboxer e TED Fellow, dentre muitos outros reconhecimentos".
Mas Bel não se conforma em apenas administrar seu sucesso e os ganhos decorrentes: em meio à intensa agenda de quem comanda uma startup (startup é uma empresa nova, até mesmo embrionária ou ainda em fase de constituição, que conta com projetos promissores, ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento de ideias inovadoras) ela encontrou tempo para escrever seu best-seller "A menina do Vale" e está sempre disposta a compartilhar sua experiência em sucessivas palestras mundo afora. O livro, que ainda não tem versão impressa, em apenas 3 meses já teve 700 mil downloads (link para versão pdf gratuita). Segundo declarou a autora em recente entrevista ao Portal Exame, "Desde o início desejei que o livro ficasse disponível gratuitamente na internet. Foi um projeto feito nas minhas horas vagas com muito carinho, sem fins lucrativos. Há pouco mais de um mês, fechei contrato com uma editora, e agora uma versão impressa já está chegando às livrarias".
O que tem de tão especial no livro? Na verdade seu conteúdo é leve, sincero, singelo, mas muito inspirador para quem deseja trilhar (ou já está com o pé) na difícil estrada do empreendedorismo. Li integralmente, no próprio iPhone, durante um vôo RIO-AJU e, mesmo do alto de quase 30 anos de vivência empresarial, confesso que extraí lições valiosas da jovem Bel.
São 18 capítulos que tratam, com objetividade e simplicidade, dos mais variados temas e desafios da arte de empreender, oferecendo conselhos preciosos, a maioria tão óbvios, porém muito pouco praticados. Não deixe de ler, aprender e praticar os ensinamentos dessa menina prodígio.


Para refletir: Você vê que as possibilidades são infinitas quando sai da sua zona de conforto. Bel Pesce.
Para ler: A menina do Vale, de Bel Pesce, versão pdf gratuita aqui
Para visitar: www.ameninadovale.com

Twitter: @jsantana61

Por que o Brasil cresce pouco? (III)


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
16/09/2012

Na terceira parte dessa trilogia, que se baseia no estudo "Conhecimento e inovação para a competitividade" do Banco Mundial publicado pela CNI (versão pdf na íntegra), veremos a relação causal entre um sistema educacional anacrônico e ineficiente e as tímidas taxas de crescimento do Brasil. Antes, já vimos que nosso país não pode mais ignorar a economia do conhecimento e que precisa fazer um extenso dever de casa, que inclui um amplo conjunto de reformas (tributária, trabalhista, política etc), pesados investimentos em infraestrutura física, expressiva melhoria do ambiente de negócios e, sobretudo, reinventar o sistema educacional e encorajar a inovação no setor privado.
Ao tratar desse imenso déficit do sistema educacional brasileiro, o relatório começa por abordar o baixíssimo alcance do ensino médio profissionalizante, que sofreu com a falta de investimentos públicos nas últimas décadas, levando o Brasil a uma situação negativamente singular. Enquanto nos países ditos desenvolvidos tem-se 1 profissional de nível médio para cada 5 de nível superior, em nosso país são 2 de nível superior para cada 1 de nível médio. Felizmente o governo Lula contribuiu para corrigir esta distorção com seu corajoso programa de ampliação e interiorização das escolas técnicas federais (214 novas escolas técnicas federais que vêm se somar às 140 unidades construídas entre 1909 e 2002).
Quanto ao ensino superior, o estudo critica: o fato de nenhuma das nossas universidades encontrar-se entre as 100 melhores do mundo; a concentração da produção de pesquisas em um grupo muito pequeno de universidades públicas, e menor ainda de privadas; a elitização dos melhores cursos que se tornam acessíveis quase que exclusivamente a estudantes de renda alta; e a desconexão entre as universidades e a iniciativa privada, dois mundos que não interagem  e muito menos se fecundam mutumente.
Mas é no ensino fundamental que residem as maiores apreensões e o maior impacto negativo para a competitividade e produtividade do país, diante da assustadora deficiência da qualidade da educação oferecida por este sistema, que sequer proporciona o conhecimento mínimo de português e matemática, indispensável a uma participação produtiva em um mercado de trabalho baseado em tecnologia. Isso faz com que as empresas tenham que investir no treinamento de seus trabalhadores, em grande parte para preencher lacunas básicas em sua capacitação deixadas pelo sistema de ensino formal.
Ao analisar as causas para o desempenho insatisfatório das escolas brasileiras, o estudo toca em algumas feridas e afirma que os professores brasileiros ganham relativamente bem (56% a mais que a média nacional de salário, enquanto nos países da OCDE os professores ganham 15% menos do que a mesma média). E vai além ao revelar que a variação salarial dos professores brasileiros está estritamente ligada ao tempo de serviço, sem penalidades, nem recompensas para o seu desempenho e menos ainda para o aprendizado do aluno.
O estudo termina por concluir que o baixo nível e a limitada distribuição do ensino entre os brasileiros são dados mais esclarecedores do que o frequentemente estudado ciclo de pobreza e desigualdade. E sustenta que as qualificações básicas e avançadas constituem insumos essenciais para que a nação se beneficie da inovação e do aumento da produtividade, melhore a competitividade e acelere o crescimento econômico.


Para refletir: A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. Nelson Mandela

Para ler: Conhecimento e inovação para a competitividade - versão pdf gratuita aqui

Twitter: @jsantana61

Por que o Brasil cresce pouco? (II)


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
09/09/2012

Na primeira parte dessa trilogia, que se baseia no estudo "Conhecimento e inovação para a competitividade" (versão pdf na íntegra) do Banco Mundial publicado pela CNI, vimos que o Brasil não pode mais ignorar a economia do conhecimento e que precisa fazer um extenso dever de casa que inclui um amplo conjunto de reformas (tributária, trabalhista, política etc), pesados investimentos em infraestrutura física, expressiva melhoria do ambiente de negócios e, sobretudo, reinventar o sistema educacional e encorajar a inovação no setor privado.
Nada mais natural do que a ênfase que o relatório dá à importância da inovação nas empresas como antídoto às baixas taxas de crescimento da economia brasileira, assegurando que dois elementos formam a atual base da relativa deficiência do Brasil em inovação: a tendência à pesquisa excessivamente "teórica" nas universidades públicas e a expressiva falta de investimento do setor privado que, ainda protegido, é poupado da necessidade de competir.
Os autores reconhecem que iniciativas recentes de estímulo a investimentos das empresas em inovação - como a Lei de Inovação e os Fundos Setoriais - foram importantes, mas é preciso ampliar as políticas públicas de tecnologia e inovação para que as empresas privadas passem a investir mais, assumindo riscos e expandindo suas atividades produtivas para novas áreas "menos seguras". O estudo detecta ainda a necessidade de liberalizar ainda mais a economia, em parte para forçar as firmas nacionais a se tornarem mais competitivas.
O investimento público em P&D, prossegue o relatório, precisa ser mais eficiente também para criar uma infraestrutura que possibilite comercializar e disseminar o novo conhecimento, através de parques tecnológicos, incubadoras de empresas, escritórios de transferência de tecnologia, operações de capital de risco etc.
Ampliando o escopo do conceito de inovação, que não deve ser compreendida apenas como uma invenção ou o primeiro uso global de uma tecnologia inédita, e considerando que os países em desenvolvimento estão defasados na curva tecnológica na maioria dos setores, o estudo sugere que eles precisam pensar menos em inventar e mais em fazer coisas diferentes com o conhecimento e a tecnologia disponível que possam adquirir.
O relatório propõe que sejam adotadas três vertentes de inovação: a) criação e comercialização de novos conhecimentos e tecnologia; b) aquisição de conhecimento e tecnologia do exterior para uso e adaptação local; e c) disseminação e aplicação eficaz do conhecimento e da tecnologia (criada ou obtida) que já estejam disponíveis no país.
Já enveredando pelo próximo desafio - o de reinventar o anacrônico sistema educacional -, os autores são taxativos ao afirmar que a falta de capacitação básica dos trabalhadores é provavelmente o único e mais importante obstáculo ao uso de novas tecnologias e equipamentos ou ao livre fluxo de práticas inovadoras nas empresas. E concluem: as empresas brasileiras investem tempo e recursos expressivos no treinamento dos seus empregados, principalmente para suprir a falta de habilidades básicas que deveriam ter sido tratadas pela escola. Esse é o tema da terceira e última parte desse ensaio, que você vai ler no próximo domingo.


Para refletir: Quando o ritmo da mudança dentro da empresa for ultrapassado pelo ritmo da mudança fora dela, o fim está próximo. Jack Welch.
Para ler: Conhecimento e inovação para a competitividade - versão pdf gratuita aqui
Para visitar: www.iadb.org/pt/

Twitter: @jsantana61

Por que o Brasil cresce pouco? (I)


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
02/09/2012

Meu livro de cabeceira em matéria de economia brasileira contemporânea chama-se "Conhecimento e inovação para a competitividade" (versão pdf na íntegra), na verdade um relatório do Banco Mundial publicado pela CNI, que oferece uma análise crítica, propositiva e honesta, despida de qualquer viés ideológico.
A questão central do estudo é estabelecer os desafios postos ao nosso país para ocupar a devida posição no cenário da economia do conhecimento. Segundo os autores, governos recentes lograram êxito na enorme tarefa de extirpar a hiperinflação e reduzir a dívida externa, mas viram competidores globais sairem à frente na corrida pela competitividade: a China se tornou o maior fabricante de equipamentos eletrônicos do mundo e a Índia é a capital mundial da terceirização tecnológica, ambos crescendo a mais de 7% ao ano; enquanto isso, o Brasil permanece como grande exportador de matérias-primas e cresceu, em média, 3,6% ao ano na década passada.
O diagnóstico do Banco Mundial aponta três principais causas para o crescimento mais lento da economia brasileira. Primeiro, o Brasil ficou para trás dos seus competidores, especialmente da Ásia, na oferta de um serviço educacional de qualidade. Segundo, o país tem buscado a inovação de ponta e intensiva em capital, que produz avanços tecnológicos em nível mundial, mas ignora as inovações mais corriqueiras dos processos de produção, que tendem a render os maiores resultados econômicos. Em terceiro lugar, o Brasil tem dependido muito do governo para incentivar a inovação, desprezando o caminho mais eficiente e menos oneroso do uso de incentivos para encorajar a inovação no setor privado, que normalmente se espalha mais rapidamente por toda a economia.
Ainda de acordo com o relatório, nas últimas décadas o Brasil implementou uma lenta liberalização comercial e reformas trabalhistas ineficientes, além de ter negligenciado a deficiência do seu sistema de ensino básico. Se houvesse adotado mudanças mais radicais, o país estaria muito mais apto a beneficiar-se das oportunidades domésticas e internacionais, como fizeram seus concorrentes, a exemplo da China.
O fato é que o Brasil não pode mais ignorar a economia do conhecimento e fazer um extenso dever de casa que inclui um amplo conjunto de reformas (tributária, trabalhista, política etc), pesados investimentos em infraestrutura física, expressiva melhoria do ambiente de negócios e, sobretudo, reinventar o sistema educacional ineficiente e desigual que não consegue produzir o tipo de capital humano necessário à competitividade global.
O estudo reconhece que a estabilidade do ambiente macroeconômico ajudou a reverter os acentuados declínios da "década perdida", mas não foi suficiente para estimular o necessário crescimento acelerado. De igual modo, os insuficientes investimentos públicos em infraestrutura e a lentidão das reformas para facilitar o clima de investimentos, não sugerem perspectiva de um crescimento substancialmente mais elevado.
 O que fazer para alterar esse cenário? A resposta: estímulo à inovação e uma revolução no sistema educacional. Esses serão os assuntos das duas próximas semanas. Até lá.


Para refletir: A competitividade de um país não começa nas indústrias ou nos laboratórios de engenharia. Ela começa na sala de aula. Lee Iacocca.
Para ler: Conhecimento e inovação para a competitividade - versão pdf gratuita aqui

Twitter: @jsantana61

Administração municipal e desenvolvimento econômico


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
26/08/2012

O período eleitoral é momento adequado para reflexões acerca dos papéis da administração municipal, que precisa ir além daqueles que têm relação direta com a infraestrutura e os serviços urbanos. As municipalidades, por exemplo, devem ter papel de destaque na formulação e execução de uma política de desenvolvimento econômico, mas são raros os casos em que isso acontece nos municípios brasileiros.
Não é por outra razão que o abrangente documento que a centenária Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (ACESE) elaborou e está entregando aos candidatos a prefeito de Aracaju neste pleito de 2012, destaca a necessidade de uma agenda de desenvolvimento econômico e propõe que tal seja um dos pilares da próxima administração. Ao tempo em que parabenizo os dirigentes da ACESE pelo documento, peço permissão para adotá-lo como base desta reflexão, extraindo e comentando seus principais tópicos relativos ao tema em tela.
Ao diagnosticar a ausência de uma política de desenvolvimento econômico em Aracaju, a ACESE propõe que ela venha a ser formulada de modo participativo no Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico, criado por lei, mas ainda inativo. Dado o perfil da economia aracajuana, onde predominam as atividades do setor terciário - tradicional em comércio, educação e saúde -, embora já despontando segmentos da economia do conhecimento, como tecnologia da informação, conclui-se que a política deverá ter largo espectro e levar em conta as respectivas agendas setoriais.
Para as empresas de serviços, o documento identifica a necessidade de desoneração tributária via redução da alíquota do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) para determinados segmentos, de 5% para 2%, a exemplo do que se pratica em muitas cidades brasileiras, sobretudo nas capitais. Dentre os setores a serem beneficiados, consta Tecnologia da Informação, cujo crescimento e capacidade de gerar empregos diferenciados começam a ser afetados pela perda de  competitividade decorrente da alíquota reduzida praticada por quase todas as capitais do país. Se tal redução não ocorrer, Aracaju verá uma fuga em massa, que aliás já começa a ocorrer, de empresas migrando para capitais vizinhas ou até para cidades do interior, como é o caso de São Cristóvão que, por sinal, acaba de aprovar uma política de incentivo fiscal para empresas de perfil inovador.
As propostas da ACESE também alcançam o turismo, indicando que seja elaborada uma política para o setor, com a reativação do Conselho Municipal de Turismo e dando a devida  ênfase ao turismo de eventos. A necessidade de criação de um órgão municipal de meio ambiente também é oportunamente apontada pela ACESE em seu documento.
O fato é que as administrações municipais precisam subir um degrau e assumir o seu papel de agentes do desenvolvimento econômico,  buscando a necessária intimidade com práticas como o uso do poder de compra, a organização de arranjos produtivos locais, a capacitação de mão de obra, o incentivo a setores dinâmicos da economia, o apoio às micro e pequenas empresas, dentre muitas outras. Nunca é demais lembrar que um dos principais produtos do desenvolvimento econômico é o emprego que, por sua vez, é o melhor antídoto para neutralizar a miséria.


Para refletir: É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la. Sêneca.
Para ler: Desenvolvimento Local e o Papel das Pequenas e Médias Empresas - Dante Pinheiro Martinelli 
Para visitar: www.bndes.gov.br

Twitter: @jsantana61