domingo, 30 de setembro de 2012

Por que o Brasil cresce pouco? (I)


Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
02/09/2012

Meu livro de cabeceira em matéria de economia brasileira contemporânea chama-se "Conhecimento e inovação para a competitividade" (versão pdf na íntegra), na verdade um relatório do Banco Mundial publicado pela CNI, que oferece uma análise crítica, propositiva e honesta, despida de qualquer viés ideológico.
A questão central do estudo é estabelecer os desafios postos ao nosso país para ocupar a devida posição no cenário da economia do conhecimento. Segundo os autores, governos recentes lograram êxito na enorme tarefa de extirpar a hiperinflação e reduzir a dívida externa, mas viram competidores globais sairem à frente na corrida pela competitividade: a China se tornou o maior fabricante de equipamentos eletrônicos do mundo e a Índia é a capital mundial da terceirização tecnológica, ambos crescendo a mais de 7% ao ano; enquanto isso, o Brasil permanece como grande exportador de matérias-primas e cresceu, em média, 3,6% ao ano na década passada.
O diagnóstico do Banco Mundial aponta três principais causas para o crescimento mais lento da economia brasileira. Primeiro, o Brasil ficou para trás dos seus competidores, especialmente da Ásia, na oferta de um serviço educacional de qualidade. Segundo, o país tem buscado a inovação de ponta e intensiva em capital, que produz avanços tecnológicos em nível mundial, mas ignora as inovações mais corriqueiras dos processos de produção, que tendem a render os maiores resultados econômicos. Em terceiro lugar, o Brasil tem dependido muito do governo para incentivar a inovação, desprezando o caminho mais eficiente e menos oneroso do uso de incentivos para encorajar a inovação no setor privado, que normalmente se espalha mais rapidamente por toda a economia.
Ainda de acordo com o relatório, nas últimas décadas o Brasil implementou uma lenta liberalização comercial e reformas trabalhistas ineficientes, além de ter negligenciado a deficiência do seu sistema de ensino básico. Se houvesse adotado mudanças mais radicais, o país estaria muito mais apto a beneficiar-se das oportunidades domésticas e internacionais, como fizeram seus concorrentes, a exemplo da China.
O fato é que o Brasil não pode mais ignorar a economia do conhecimento e fazer um extenso dever de casa que inclui um amplo conjunto de reformas (tributária, trabalhista, política etc), pesados investimentos em infraestrutura física, expressiva melhoria do ambiente de negócios e, sobretudo, reinventar o sistema educacional ineficiente e desigual que não consegue produzir o tipo de capital humano necessário à competitividade global.
O estudo reconhece que a estabilidade do ambiente macroeconômico ajudou a reverter os acentuados declínios da "década perdida", mas não foi suficiente para estimular o necessário crescimento acelerado. De igual modo, os insuficientes investimentos públicos em infraestrutura e a lentidão das reformas para facilitar o clima de investimentos, não sugerem perspectiva de um crescimento substancialmente mais elevado.
 O que fazer para alterar esse cenário? A resposta: estímulo à inovação e uma revolução no sistema educacional. Esses serão os assuntos das duas próximas semanas. Até lá.


Para refletir: A competitividade de um país não começa nas indústrias ou nos laboratórios de engenharia. Ela começa na sala de aula. Lee Iacocca.
Para ler: Conhecimento e inovação para a competitividade - versão pdf gratuita aqui

Twitter: @jsantana61

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