Sou daqueles que apreciam o vinho, sem a pretensão de se tornar especialista, pouco menos um insuportável "enochato". Acredito que os melhores vinhos são aqueles que mais agradam o paladar e, nesse caso, cada um tem o seu.
Como tem sido comum amigos me pedirem sugestões de rótulos, resolvi criar essa despretensiosa lista, que inclui variadas procedências, uvas e preços, por enquanto apenas de tintos. À medida que for lembrando de outros, irei acrescentando. Alguns rótulos são encontrados com diferentes uvas e distintos períodos de envelhecimento (invariavelmente os mais envelhecidos - chamados de reserva e gran reserva - são superiores). Indico com (*) aqueles que oferecem excelente relação custo/benefício.
PAÍS: Espanha
REGIÕES: Rioja, Navarra
RÓTULOS:
- Pata Negra (*)
- Marquês de Arienzo
- Marquês de Riscal
- Cepa 21
PAÍS: Chile
UVAS: Carmenére, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah
RÓTULOS:
- 35 Sur (*)
- Gran Tarapacá (*)
- Trio
- Palo Alto
- La Célia
- Montes Alpha
- Marquês de Casa Concha
PAÍS: Portugal
REGIÕES: Douro, Alentejo, Ribatejo, Dão
RÓTULOS:
- Monte Velho
- Rapariga da Quinta (*)
- Esporão
- Quinta da Bacalhôa
PAÍS: Argentina
UVAS: Cabernet Sauvignon, Malbec
RÓTULOS:
- Trivento Reserva (*)
- Alta Vista Premium (*)
- Las Perdices
- Septima
- Angélica Zapata
NACIONAIS:
- Miolo Terroir
- Miolo Lote 43
- Salton (Talento e Volpi) (*)
- Casa Valduga Mundvs
DIVERSOS:
- Jacobs Creek (Austrália)
- Robert Mondavi (Califórnia)
- Montes Toscanini (Uruguai)
ONDE COMPRO:
- Fasouto
- www.wine.com.br
Espaço para divulgar minhas ideias, alimentar polêmicas e interagir com quem desejar. Temas prediletos: negócios, tecnologia, economia e política.
sábado, 31 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Uma Constituinte para as reformas
Quando vi a forma como a imprensa internacional festejou a ascensão do Brasil ao posto de 6a maior economia do planeta, superando o Reino Unido (a exemplo dessa matéria do MailOnLine), não pude conter o misto de alegria e orgulho e, logo em seguida, parar para algumas reflexões que desejo compartilhar com meus (poucos) diletos leitores.
Em primeiro lugar é preciso reconhecer que o crescimento da economia brasileira vem se dando a partir de contribuições dos últimos governos, a começar da abertura econômica de Collor (ainda que atabalhoada), passando pelas privatizações de FHC (necessárias, porém mal feitas) e culminando com a política econômica diferenciada de Lula, que fez muito mais do que apenas dar continuidade aos fundamentos estabelecidos por FHC, mirando no mercado interno, nas políticas compensatórias, na recuperação do salário mínimo e no consequente crescimento da massa salarial. Tudo isso promoveu a maior mobilidade de classes sociais da nossa história, fazendo vicejar uma nova classe média que se tornou um dos pilares da economia do país.
Ocorre que ainda há muito a fazer para que possamos continuar crescendo com distribuição de renda e redução das ainda abissais desigualdades sociais. Alguns fatores precisam ser atacados com menos timidez do que estão sendo, com destaque para a infraestrutura produtiva, a educação e as reformas. O passivo da infraestrutura, embora gigantesco, para ser pago só depende de decisão política e adequada alocação de recursos públicos. Noves fora equívocos como sediar a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos (vide Copa e Olimpíada: quem vai pagar a conta?), esse dever de casa, mais cedo ou mais tarde, terá que ser feito, incluindo a indispensável adoção dos modais ferroviário e aquaviário na equivocada matriz de transportes do Brasil.
São os capítulos da educação e das reformas que mais preocupam, inclusive pela subordinação do primeiro ao segundo. Inobstante os avanços quantitativos do acesso de largas faixas da população à escola pública, qualitativamente os ganhos são quase insignificantes. Dispensável citar as frustrações dos últimos governos, aí incluo FHC e Lula, que não conseguiram mudar esse cenário. E educação é insumo básico para sustentar o crescimento econômico, logo, se continuarmos patinando nessa área, as projeções de crescimento para as próximas décadas precisarão ser refeitas. Ocorre que não basta alocar mais recursos no orçamento sem que seja aplicada profunda transformação no atual modelo (se é que existe algum) de educação pública, desde a gestão (ou ausência de) até o papel do professor (cujo corporativismo atrasado já foi fartamente diagnosticado como uma das razões desse lamentável cenário). Esse nível de mudança, contudo, irá requerer igualmente alterações em marcos legais e aí, finalmente, chegamos nas reformas.
O Brasil carece, hoje, de várias reformas, sobretudo a política, a tributária e a trabalhista, ou seja, precisa ficar livre de um legado cartorial que produz uma máquina pública perdulária e burocrática; de uma legislação trabalhista senil e absolutamente incompatível com as demandas das economias modernas; de uma carga tributária que, combinada com uma legislação obtusa e uma burocracia fiscalista insana, impede as empresas de crescerem; e de um sistema político que mercantilizou o processo eleitoral e passou a servir de ante-sala para os piores esquemas de corrupção.
Como se vê, não são reformas simples, portanto, jamais serão concluídas na agenda do Congresso Nacional, com os representantes que lá estão e que são, quase todos, beneficiários desse modelo. Aqui cabe parênteses: com a generosidade peculiar desse período natalino, podemos assegurar que não menos de 50% dos nossos parlamentares - por incompetência, carreirismo, mercancia de votos - estariam mais adequadamente instalados em uma ... deixe pra lá.
Eis porque não resta alternativa senão a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para as reformas e funcionando simultânea e independentemente do Congresso Nacional. Sendo o prazo de funcionamento de dois anos e vedada a candidatura de detentores de mandatos, teríamos o privilégio de eleger apenas novos nomes. Mais que isso, defendo que os constituintes ficariam inelegíveis por 8 anos, justamente para afastar o mais possível o oportunismo e para evitar conflito de interesse quando forem debatidas regras como reeleição, durações dos mandatos etc.
Tudo isso não passará de uma quimera, já que longe do interesse da classe política, exceto se uma mobilização popular - e hoje as redes sociais podem ser o instrumento - exigir: Assembléia Nacional Constituinte já!
domingo, 4 de dezembro de 2011
Autoridade e disciplina na escola: o Atheneu de Maria da Glória
Após concluir as 4 primeiras séries do ensino fundamental no Grupo Escolar Edézio Vieira de Melo, em Capela, desembarquei no Colégio Estadual Atheneu Sergipense em 1973 para cursar a 5a série. Além do natural impacto da transição do curso primário para o ginasial, ainda mais em uma cidade algumas vezes maior do que a terra natal, deparei-me com um colégio que mais parecia escombro de uma guerra: sujo, banheiros quebrados, salas com carteiras danificadas, paredes (e até o teto) completamente riscados.
Dois anos depois, o Atheneu Sergipense foi fechado para reforma. Alguns alunos foram transferidos para o Colégio Tobias Barreto e outros, como eu, para o recém inaugurado Colégio 8 de Julho, onde hoje está instalada a Secretaria de Estado do Planejamento e Gestão. Em 1977 o Atheneu foi reaberto, totalmente reformado, agora apenas com as três séries do ensino médio, mas sob nova direção, à frente a professora Maria da Glória Monteiro.
Primeiro dia de aula, alunos reunidos no auditório (hoje Teatro Atheneu), Maria da Glória deu seu recado, curto e grosso: a palavra de ordem seria, dali em diante, disciplina. Quem ousasse descumprir o regimento interno, receberia a devida punição.
Diariamente, com seu ar austero e de poucos amigos, a diretora percorria o colégio, entrava nas salas e, quando encontrava um risco na parede ou alguma carteira danificada, indagava sobre quem causou o dano. Se não aparecesse, a classe inteira era suspensa. Aluno fora da sala durante o horário de aula? Nenhum.
Mas o rigor disciplinar não atingiu apenas os alunos. Primeiro dia de aula, todos os professores em sala, interrompendo a tradição de irem aparecendo aos poucos, alguns um mês após o início do ano letivo. É bem verdade que algumas medidas eram desnecessárias, como a obrigatoriedade dos professores usarem gravata e alguns alunos, acho que da 3a Série, usarem a farda de gala com seu quente casaco de caqui.
O fato é que a rigorosa disciplina não nos fez mal algum, ao contrário, continuávamos os mesmos, com as mesmas alegrias e brincadeiras. A diferença foi que, aos poucos, começamos a nutrir um profundo orgulho por envergar aquela farda e dizer que estudávamos em um colégio organizado, com professores que cumpriam sua obrigação de ensinar, com laboratórios de ciências funcionando e a biblioteca se transformando em local que atraía cada vez mais alunos. Ao orgulho era adicionada emoção no desfile cívico de 7 de Setembro, com a nova e imponente banda marcial a nos conduzir vaidosos com a farda de gala.
Um episódio que vivenciei traduz um pouco daquele momento. 1978 foi ano eleitoral e resolvemos, eu e um colega, lançar a candidatura do ex-governador Seixas Dórea a senador, com o número de Avogadro (6,02 x 10 à 23a potência). Produzimos santinhos e distribuímos com os colegas, até que fomos chamados à diretoria. Em sua sala, Maria da Glória nos deu sua peculiar repreensão e, como punição, teríamos que copiar 3 vezes o extenso Hino Nacional. Ousado, comentei que seria uma boa oportunidade de aprender o hino, já que eu não o sabia de cor. Surpresa, a diretora indagou: "O senhor (era assim que nos tratava) não conhece o Hino Nacional? Então copiará 10 vezes". E assim decorei o hino.
Na tradicional festa anual de reencontro dos ex-alunos do Atheneu deste 2011, lá estava, pela primeira vez, professora Maria da Glória. Fui até ela, agradeci pelo que me ensinou e ainda lhe pedi permissão para tirar esta foto.
segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Turismo em Sergipe: reflexões e contribuições
Comecei a me interessar pela economia sergipana a partir da criação do
Fórum Empresarial de Sergipe, da qual participei no final dos anos 90,
cuja agenda sempre priorizou a temática do desenvolvimento econômico do
Estado. Logo nos primeiros anos, os membros do Fórum produziram
documentos com propostas setoriais que foram encaminhados ao governo, um
deles versando sobre o turismo.
Daí em diante passei a conversar com empresários, ler estudos e examinar pesquisas, sempre com especial interesse porque reconhecia a importância desse setor como um dos agentes dinamizadores da nossa economia. E aqui abro parêntese para evidenciar um problema que afeta o desenvolvimento do nosso turismo e que acredito não ser fácil resolver: a reduzida autoestima do sergipano que considera nossas praias menos atrativas que as demais do Nordeste. Mas esse é tema para outro post. Fecho parêntese.
Com o advento do governo Marcelo Déda assumi a titularidade da Sedetec e, nos primeiros dois anos, a atuação com a Setur (à frente João Gama) foi muito próxima, de verdadeira parceria. Em 2009, com a extinção daquela pasta, a função turismo foi incorporada à Sedetec e, por quase dois anos, coordenei essa política pública, fazendo algumas apostas sobre as quais comentarei a seguir.
A primeira das apostas, aliás seguindo o que já vinha adotando na Sedetec, foi garantir que a política do turismo também fosse formulada de forma participativa. Para isso, propus ao governador (e ele acatou) alterações no decreto que dispõe sobre o Fórum Estadual do Turismo, a partir de discussões com representantes do trade turístico, dando mais efetividade ao seu papel de protagonista da formulação e do acompanhamento da política estadual do setor. Tornei regulares as reuniões do Fórum e submeti aos seus membros (representantes do próprio governo, da sociedade e do trade turístico) a validação do Plano Estadual de Turismo (elaborado de forma participativa), da matriz de investimentos do Prodetur Nacional/Sergipe e dos respectivos PDITS (Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável) dos pólos Velho Chico e Costa dos Coqueirais.
A segunda aposta foi no Prodetur Nacional/Sergipe, cuja carta consulta foi elaborada e aprovada quando João Gama esteve à frente da Setur e tem investimentos previstos de US$ 100 milhões. Reformulei a Unidade Coordenadora do Projeto e acelerei as tratativas junto ao MTur e ao BID, sempre com o permanente apoio de José Roberto de Lima Andrade, à época presidente da Emsetur. Ajustamos a matriz de investimentos para guardar coerência com os PDITS (creio que pela primeira vez na história do governo estadual um projeto dessa magnitude teve seus investimentos definidos exclusivamente a partir de critérios técnicos), introduzimos demandas da área da cultura e conseguimos conveniar com o MTur quase R$ 30 milhões a título de antecipação de contrapartida não-reembolsável. Nesse montante estão os recursos aplicados nas rodovias Santa Luzia/Crasto e Convento/Pontal, além de cerca de R$ 6 milhões para ações de promoção do destino turístico Sergipe.
A terceira aposta foi no turismo de eventos, desde sempre, e inexplicavelmente, tratado sem muita ênfase tanto pelo governo, quanto pelo próprio trade turístico. Logo no começo do governo, em 2007, a Sedetec e a Setur ampliaram o apoio ao Aracaju Convention & Visitors Bureau, mas o maior desafio continua sendo superar as limitações do Centro de Convenções de Sergipe. Adepto da filosofia popular de que o ótimo é o inimigo do bom, e ciente das dificuldades de captar no mínimo R$ 50 milhões para construir um novo, discuti com representantes do trade turístico e conclui que a ampliação e reforma do CCS era viável e de baixo custo (cerca de R$ 10 milhões). Fomos adiante e a Codise (titular do equipamento) elaborou o anteprojeto e ainda captamos no MTur os recursos para a elaboração dos projetos de engenharia. Quero crer que essa estratégia esteja mantida, sem prejuízo de um projeto maior de um novo centro de convenções, até porque não há qualquer restrição a termos dois, complementares, um médio e um grande.
Apesar de ter sido apenas um ano e sete meses, com discrição e dedicação deixamos nossa modesta contribuição, que teve como uma marca importante a composição de uma equipe técnica nomeada com base nos melhores princípios da meritocracia. Pessoalmente foi grande o aprendizado, sobre o qual quero compartilhar algumas conclusões com o viés da boa e necessária crítica construtiva (e que assim seja recebida). Primeiramente, conclui que o nosso trade turístico é por demais heterogêneo e suas lideranças pouco propositivas, não valorizando e nem tirando proveito de espaços institucionais nobres, como o Fórum Estadual de Turismo, preferindo exercer sua influência a partir de relações pessoais com os dirigentes governamentais de plantão.
Outra conclusão a que cheguei é que nossos especialistas e empresários optam por fazer mais do mesmo, ao invés de exercitar a criatividade em busca de novos modelos de atração de turistas e de fomento ao setor. Fazer mais do mesmo, por exemplo, é só enxergar o turismo de lazer e valorizar instrumentos como a mídia compartilhada que, na prática, significa tornar-se refém da lógica perversa de certa operadora de viagens, cujo hegemonismo impõe as regras de um jogo em que invariavelmente ela ganha.
Por fim, mas não menos importante, estou absolutamente certo de que o turismo em Sergipe vem se consolidando (é bem verdade que mais lentamente do que desejamos) a partir de inegáveis esforços dos últimos governos e do próprio trade turístico, e que as críticas aos seus trabalhos devem ser feitas com responsabilidade e respeito, mas também precisam ser recebidas com humildade e como inestimáveis contribuições.
Daí em diante passei a conversar com empresários, ler estudos e examinar pesquisas, sempre com especial interesse porque reconhecia a importância desse setor como um dos agentes dinamizadores da nossa economia. E aqui abro parêntese para evidenciar um problema que afeta o desenvolvimento do nosso turismo e que acredito não ser fácil resolver: a reduzida autoestima do sergipano que considera nossas praias menos atrativas que as demais do Nordeste. Mas esse é tema para outro post. Fecho parêntese.
Com o advento do governo Marcelo Déda assumi a titularidade da Sedetec e, nos primeiros dois anos, a atuação com a Setur (à frente João Gama) foi muito próxima, de verdadeira parceria. Em 2009, com a extinção daquela pasta, a função turismo foi incorporada à Sedetec e, por quase dois anos, coordenei essa política pública, fazendo algumas apostas sobre as quais comentarei a seguir.
A primeira das apostas, aliás seguindo o que já vinha adotando na Sedetec, foi garantir que a política do turismo também fosse formulada de forma participativa. Para isso, propus ao governador (e ele acatou) alterações no decreto que dispõe sobre o Fórum Estadual do Turismo, a partir de discussões com representantes do trade turístico, dando mais efetividade ao seu papel de protagonista da formulação e do acompanhamento da política estadual do setor. Tornei regulares as reuniões do Fórum e submeti aos seus membros (representantes do próprio governo, da sociedade e do trade turístico) a validação do Plano Estadual de Turismo (elaborado de forma participativa), da matriz de investimentos do Prodetur Nacional/Sergipe e dos respectivos PDITS (Plano de Desenvolvimento Integrado do Turismo Sustentável) dos pólos Velho Chico e Costa dos Coqueirais.
A segunda aposta foi no Prodetur Nacional/Sergipe, cuja carta consulta foi elaborada e aprovada quando João Gama esteve à frente da Setur e tem investimentos previstos de US$ 100 milhões. Reformulei a Unidade Coordenadora do Projeto e acelerei as tratativas junto ao MTur e ao BID, sempre com o permanente apoio de José Roberto de Lima Andrade, à época presidente da Emsetur. Ajustamos a matriz de investimentos para guardar coerência com os PDITS (creio que pela primeira vez na história do governo estadual um projeto dessa magnitude teve seus investimentos definidos exclusivamente a partir de critérios técnicos), introduzimos demandas da área da cultura e conseguimos conveniar com o MTur quase R$ 30 milhões a título de antecipação de contrapartida não-reembolsável. Nesse montante estão os recursos aplicados nas rodovias Santa Luzia/Crasto e Convento/Pontal, além de cerca de R$ 6 milhões para ações de promoção do destino turístico Sergipe.
A terceira aposta foi no turismo de eventos, desde sempre, e inexplicavelmente, tratado sem muita ênfase tanto pelo governo, quanto pelo próprio trade turístico. Logo no começo do governo, em 2007, a Sedetec e a Setur ampliaram o apoio ao Aracaju Convention & Visitors Bureau, mas o maior desafio continua sendo superar as limitações do Centro de Convenções de Sergipe. Adepto da filosofia popular de que o ótimo é o inimigo do bom, e ciente das dificuldades de captar no mínimo R$ 50 milhões para construir um novo, discuti com representantes do trade turístico e conclui que a ampliação e reforma do CCS era viável e de baixo custo (cerca de R$ 10 milhões). Fomos adiante e a Codise (titular do equipamento) elaborou o anteprojeto e ainda captamos no MTur os recursos para a elaboração dos projetos de engenharia. Quero crer que essa estratégia esteja mantida, sem prejuízo de um projeto maior de um novo centro de convenções, até porque não há qualquer restrição a termos dois, complementares, um médio e um grande.
Apesar de ter sido apenas um ano e sete meses, com discrição e dedicação deixamos nossa modesta contribuição, que teve como uma marca importante a composição de uma equipe técnica nomeada com base nos melhores princípios da meritocracia. Pessoalmente foi grande o aprendizado, sobre o qual quero compartilhar algumas conclusões com o viés da boa e necessária crítica construtiva (e que assim seja recebida). Primeiramente, conclui que o nosso trade turístico é por demais heterogêneo e suas lideranças pouco propositivas, não valorizando e nem tirando proveito de espaços institucionais nobres, como o Fórum Estadual de Turismo, preferindo exercer sua influência a partir de relações pessoais com os dirigentes governamentais de plantão.
Outra conclusão a que cheguei é que nossos especialistas e empresários optam por fazer mais do mesmo, ao invés de exercitar a criatividade em busca de novos modelos de atração de turistas e de fomento ao setor. Fazer mais do mesmo, por exemplo, é só enxergar o turismo de lazer e valorizar instrumentos como a mídia compartilhada que, na prática, significa tornar-se refém da lógica perversa de certa operadora de viagens, cujo hegemonismo impõe as regras de um jogo em que invariavelmente ela ganha.
Por fim, mas não menos importante, estou absolutamente certo de que o turismo em Sergipe vem se consolidando (é bem verdade que mais lentamente do que desejamos) a partir de inegáveis esforços dos últimos governos e do próprio trade turístico, e que as críticas aos seus trabalhos devem ser feitas com responsabilidade e respeito, mas também precisam ser recebidas com humildade e como inestimáveis contribuições.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Reflexões tecnológicas pela passagem de Steve Jobs
A perda neste 05/10/2011 de Steve Jobs, co-fundador da Apple (empresa de maior valor de
mercado do mundo atualmente) e precisamente definido como visionário, produziu
as mais diversas análises e considerações sobre a indústria da tecnologia da
informação (TI) e me estimularam a fazer minhas próprias reflexões (talvez
provocações).
Primeira delas:
apesar de estranhamente não ter visto em lugar algum, tenho certeza de que a
maior fonte de inspiração de Jobs foi Akio Morita, o discreto executivo da
japonesa Sony que tornou a empresa líder do segmento nos anos 80/90, partindo
da estratégia de "criar" necessidades. Em seu livro, Made in Japan,
ele conta como destronou a holandesa Philips com gadgets como o discman.
Mas Jobs foi
além de Akio. Ele "criou" necessidades (nunca teria valorizado nem
encomendado pesquisas de mercado para identificar gostos, necessidades e
tendências) e, ao mesmo tempo, apostou suas fichas em design e usabilidade (as
interfaces tinham que ser sempre intuitivas), sem abrir mão de tornar seus
produtos fashion, símbolo de status,
objeto de desejo de legiões de consumidores. Sem ter que inventar, ele deu
roupagem especial e singular a produtos que já existiam, desde o mouse até o
leitor de MP3, sem esquecer do tablet.
Aliás, o conceito de tablet não é
novo: no final dos anos 80 vi um especialista da IBM na Fenasoft, Rio de
Janeiro, apontando como tendência para a próxima década dispositivos do tipo prancheta.
Desde então, várias tentativas de produzir tablets
foram rejeitadas pelo mercado, até que Jobs enxergou ali a oportunidade de
criar uma nova necessidade: a de sofisticar o simplório Kindle da Amazon, que
houvera antecipado-se à Apple.
Se
introduzirmos nessa receita um último, mas não menos importante ingrediente, o
carisma pessoal de Jobs, o resultado não seria outro: a liderança de mercado em
um segmento altamente competitivo, que tem feito a concorrência comer poeira.
Não se pode desconsiderar, contudo, os dois pilares do modelo de negócios da
Apple: a verticalização (a empresa produz tudo, hardware e software, mesmo via
terceiros) e a propriedade (tudo é caixa-preta). Digo isso para fazer o
contraponto com as tecnologias livres (abertas, não-proprietárias), nas quais tem apostado um outro
gigante, a Google. Mas essa é outra conversa, assunto para próximas reflexões.
Outra coisa: as comparações
que estão sendo feitas entre Jobs e Bill Gates (fundador e chairman da Microsoft), são impróprias. Bill construiu diferente trajetória empresarial, igualmente hegemonista e também baseada em padrões
fechados, mas apostando com significativo êxito no mercado corporativo
(software e serviços para ambientes computacionais de médio e grande portes). O
largo espectro dos produtos da Microsoft variam de jogos eletrônicos até
gerenciadores de bancos de dados, razão pela qual a gigante disputa, ombro a
ombro, o segundo lugar com a não menos importante IBM.
Carisma,
talento, irreverência e visão de futuro à parte, acredito que Steve Jobs foi,
antes de tudo, um genial businessman.
Deixa sua marca e entra, pela porta da frente, na galeria daqueles que contribuíram
para o progresso da humanidade.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
O apagão de mão-de-obra especializada
O crescimento da economia mundial trouxe uma consequência que atinge atualmente muitos países, inclusive o Brasil: a carência de mão-de-obra especializada, sobretudo nas atividades técnicas e tecnológicas, aí incluídas as engenharias, a computação e suas respectivas carreiras técnicas de nível médio.
Na área de Tecnologia da Informação (TI), embora o setor empregue atualmente 600 mil profissionais no país, apresenta déficit de cerca de 90 mil especialistas, de acordo com projeções do Observatório Softex. Mantida essa tendência, o déficit poderá chegar a 200 mil em 2013. Adicionalmente, de acordo com a Brasscom (associação que reúne empresas de TI de perfil exportador), apenas 85 mil estudantes concluem, em média, os cursos superiores de TI, de um total de 460 mil vagas oferecidas anualmente pelas instituições de ensino.
Com as engenharias o cenário é igualmente desalentador: são 197 mil vagas oferecidas e somente 120 mil preenchidas nos vestibulares. Já o número anual de graduados (dados de 2010) são, comparativamente, assustadores:
| País | Formados | |
| China | 400 mil | |
| Índia | 250 mil | |
| Rússia | 100 mil | |
| Coréia do Sul | 80 mil | |
| Brasil | 32 mil |
Mas a que se deve tamanho desinteresse e o que justificaria uma evasão que chega a ultrapassar 80%? As causas são diversas, mas destaco duas: a ilusão que está por trás da busca pelas carreiras de Estado e a falta de base matemática na escola regular, reflexo do investimento anual em educação por estudante, que é aproximadamente quatro a cinco vezes menor do que a média dos países da OCDE para a educação básica e 20% maior na educação superior.
Sobre a ilusão das carreiras de Estado, temos aí uma perversidade: motivados pela estabilidade do emprego e pelos salários absurdamente elevados, os jovens são pressionados pelas suas famílias a buscarem cursos que favoreçam a participação em concursos públicos (sobretudo Direito, com 1.240 cursos no Brasil e 1.100 no resto do mundo, conforme pode ser visto em http://migre.me/5MAvT). Resultado: 1 em cada 1.000 vai concretizar esse sonho, enquanto os 999 restantes vão engrossar a massa de subempregados frustrados. E onde está a perversidade? Exatamente no desperdício de tantos jovens talentosos, essenciais nas engenharias e com grande potencial para o empreendedorismo, que são vistos ocupando as monótonas carreiras de Estado.
A realidade do ensino médio profissionalizante é ainda pior: a falta de investimentos públicos nas últimas décadas levou o Brasil a uma situação negativamente singular. Enquanto nos países ditos desenvolvidos tem-se 1 profissional de nível superior para cada 5 de nível médio, em nosso país são 2 de nível superior para cada 1 de nível médio. Felizmente os governos Lula e Dilma vêm buscando corrigir esta distorção com a construção de 214 novas escolas técnicas federais que já começam a se somar às 140 unidades construídas entre 1909 e 2002.
Esse cenário se agrava a cada ano e contribui para elevar as (já não poucas) dificuldades para cumprir os cronogramas dos dois megaeventos esportivos (Copa 2014 e Jogos Olímpicos 2016).Leituras complementares:
A inversão de valores e a importância da engenharia - Milton Golombeck - http://migre.me/5PtpJ
domingo, 25 de setembro de 2011
Um pouco dos encantos do Chile
O Chile é um país admirável e em vários
aspectos se diferencia, para melhor, dos demais da América do Sul. Dentro do
contexto da América Latina, é o melhor em termos de desenvolvimento humano,
competitividade, qualidade de vida, estabilidade política, globalização, liberdade
econômica, baixa percepção de corrupção e índices comparativamente
baixos de pobreza. Também é elevado o nível regional
de liberdade de imprensa e de desenvolvimento democrático. Sua
posição como país mais rico da região (empatado com o México), em termos
de produto interno bruto per capita (a preço de mercado e paridade
do poder de compra), no entanto, é contrariada devido ao seu alto nível
de desigualdade de renda, medido pelo coeficiente de Gini. Em
maio de 2010 o Chile se tornou o
primeiro país sul-americano a aderir ao restrito clube da OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Sua bela capital, Santiago, com população superior a 6 milhões de habitantes, é
uma das cidades mais modernas da América do Sul. Entre seus atrativos estão
inúmeros parques, museus, igrejas e uma intensa vida noturna. Via www.booking.com nos hospedamos no excelente Radisson Plaza Santiago Hotel, com
diária de pouco mais de US$ 120, localizado num moderno distrito de negócios em
Las Condes.
Chegamos no começo da tarde de uma quinta-feira
e decidimos almoçar nas redondezas do hotel, na Churrasqueria Bariloche, casa
de carnes com mesas na calçada e chopp gelado, que
serviu um delicioso bife de chorizo. Depois de um necessário descanso no hotel,
fomos jantar no Borde Rio (www.borderio.cl), centro gastronômico formado por 11
restaurantes das mais diversas especialidades. Escolhemos o estiloso Delmónico, de cozinha americana contemporânea, com decoração
inspirada em New Orleans, onde saboreamos uma deliciosa pasta acompanhada do
nacional Montes Alpha Shiraz. Foi aí que conhecemos o pisco sour, um drinque
preparado à base de pisco (aguardente peruana feita de uva) e suco de limão com
outros ingredientes. A máxima “aprecie com moderação” nos pareceu
extremamente adequado para a bebida.
Centro de Santiago: o velho e o novo
A poucos metros do hotel existe uma estação do
metrô, que utilizamos no segundo dia, dedicado a caminhadas pela cidade.
Descemos nas imediações de Cerro San Cristobal, parte do enorme Parque
Nacional, que possui Jardim Zoológico e Jardim Botânico. Para chegar ao topo da
montanha toma-se o funicular (veículo que sobe a montanha preso em cabos sobre
um plano inclinado) e chega-se à
estátua da Virgem Imaculada Conceição, de 22m. A visão de 360° da
cidade é belíssima, local ideal para muitas fotos.
Nas proximidades da entrada do parque está um
dos endereços mais procurados pelos turistas que visitam a cidade: La Chascona,
a casa onde morou Pablo Neruda, ganhador do Prêmio Nobel e mais famoso poeta
chileno. Fizemos o tour guiado pela charmosa casa, hoje um museu, para conhecer
melhor esse adorável poeta, símbolo da esquerda latinoamericana, e perceber seu
fascínio pelo mar que inspirou a arquitetura dos ambientes, como se fossem
espaços internos de um barco. Visitar La Chascona permite também entrar no universo
da relação de Neruda com Matilde, sua terceira mulher, para quem o poeta
construiu a casa. Além disso, tem um gostinho especial as referências a Oscar
Niemeyer, Vinícius de Moraes e Jorge Amado, amigos brasileiros de Pablo Neruda.
Um dos espaços de La Chascona, casa de Neruda em Santiago
A pé, seguimos pela Calle Constitución, em
Bellavista, bairro conhecido como boêmio e cultural e famoso pelos muitos bares e restaurantes. Paramos na
Sangucheria Ciudad Viega (www.ciudadvieja.cl), que
oferece dezenas de marcas de cervejas, onde provamos algumas das fabricadas no
país. De lá caminhamos até o Mercado Central (o tempo esquentou e teria sido melhor
ter tomado o metrô), famoso pelos vários restaurantes que oferecem frutos do
mar. O inconveniente é o assédio de garçons desde as imediações do Mercado,
prática sempre desagradável e irritante. Comemos o peixe mais famoso da região,
o congrio, feito sem muito capricho.
Em seguida caminhamos pelo centro da cidade,
com paradas na catedral e no Palácio de La Moneda, sede do governo. À noite
optamos por uma área famosa por badalados bares, a Orrego Luco de onde seguimos
para jantar no California Cantina & Restaurante (www.californiacantina.net), que fica nas imediações da Calle Providencia. O vinho
escolhido foi o Santa Ema reserva, que nos surpreendeu e voltamos a tomar em
outras ocasiões, inclusive no Brasil.
Para o restante do roteiro - visita a vinícola,
a Viña del Mar e Valparaiso - optamos por alugar um carro, mas não foi fácil
encontrar assim, de última hora. Depois de várias tentativas, finalmente a
Alamos tinha um sedan compacto com GPS a preço razoável. Fomos, então, visitar
a vinícola Concha y Toro (www.conchaytoro.com), que fica nos arredores da cidade. Depois de alguns
transtornos com o GPS, finalmente chegamos à vinícola e fizemos o tour Marquês
de Casa Concha, que inclui degustação de 4 tipos desse que é um dos melhores
vinhos da casa.
No fim da tarde fomos ao Parque Arauco, belo
shopping center com uma praça aberta, em torno da qual existem vários
restaurantes. Escolhemos a varanda de um deles para aproveitar e apreciar a lua
cheia, enquanto artistas locais tocavam bons hits no palco instalado no centro
da agitada praça.
O domingo, penúltimo dia da viagem, foi
dedicado a Valparaiso e Viña del Mar, viagem agradável de 120 Km. Valparaíso
faz por merecer o título de patrimônio da humanidade. Para fugir dos
ataques piratas, comuns no século 16, os moradores construíram as casas em
morros, de onde se avista o mar como se fossem cartões postais. A cidade também
tem uma outra casa de Pablo Neruda, visita obrigatória. Em 1959, o poeta
chileno procurava por um lugar onde viver e escrever com tranquilidade. Neruda
encontrou La Sebastiana, batizada assim
em homenagem a seu construtor, Sebastian Collado. São
cinco pavimentos, pequenos, mas sempre originais, igualmente inspirados em um
barco, em cujos diversos ambientes estão dispostos móveis e objetos que o poeta
e diplomata trazia das mais diversas partes do mundo.
Valparaiso, vista de La Sebastiana
A poucos quilômetros de Valparaiso, está Viña
del Mar, balneário mais sofisticado, cheio de prédios a beira mar, lojas, bares
e restaurantes. Depois de cumprir o ritual de molhar os pés nas águas do
Pacífico - ainda mais geladas porque o dia estava frio -, paramos num
restaurante mexicano e fomos para o elegante Chez Gerald (www.chezgerald.com), com vista maravilhosa
para a praia.
Foram quatro dias desbravando um pouquinho da
diversidade chilena, marcante tanto do ponto de vista climático, quanto humano.
Impressiona perceber como os chilenos conseguiram vencer as adversidades
geográficas, o relevo acidentado, a instabilidade sísmica e o clima,
tornando-se um país que é referência para os vizinhos da América Latina. E para
aqueles que querem experimentar a neve, nas proximidades de Santiago está a
famosa estação de ski do Valle Nevado, excelente opção para uma viagem de
inverno. Enfim, um destino que vale muito conhecer.
Jorge Santana
& Eloisa Galdino, em março de 2011
domingo, 21 de agosto de 2011
Consumo de bebidas alcoólicas: diferenças entre EUA e Brasil
O consumo excessivo de bebidas alcoólicas, e suas graves consequências, é tema recorrente que tem fomentado polêmicas mundo afora. Há muito tem me chamado a atenção o rigor da legislação federal dos EUA que trata da matéria e que proibe, dentre outras coisas: o consumo de qualquer bebida alcoólica por menores de 21 anos; o consumo em logradouros públicos; e o funcionamento de bares após 2h da madrugada.
É notável como a sociedade norte-americana trata com naturalidade essas restrições. Nos bares e pubs, normalmente após 21h, é comum os jovens serem obrigados a apresentar documento de identidade na entrada para comprovar idade superior a 21 anos, mesmo que tenha mais de 18 e que não vá consumir bebida alcoólica. As baladas costumam começar cedo, atingindo o auge entre 23h e 1h, sendo absolutamente normal policiais fardados circularem tranquilamente inspecionando o ambiente. Quando chega 1h30, as luzes acendem, a música para e, pontualmente às 2h, o estabelecimento é fechado e as pessoas costumam ir para suas casas. Perambular pela rua? Não convém porque certamente a polícia vai abordar.
Maior rigor ainda é aplicado aos raros que teimam em beber e dirigir, considerada uma das mais graves infrações do trânsito. Se houver um acidente e for detectado que o motorista ingeriu álcool além dos limites estabelecidos em leis estaduais, as penalidades costumam ser severas.
Conversei com cidadãos de lá e para eles tudo isso é natural e correto. Chegando aqui, troquei idéias com um amigo norte-americano que reside em Aracaju e, consequentemente, conhece a liberalidade da legislação brasileira. Ele foi taxativo: atualmente o rigor da legislação americana já é dispensável porque a sociedade já incorporou e apóia incondicionalmente as limitações. Segundo ele, se um grupo de jovens sai para a noite e um deles insiste em dirigir após beber, os demais tentam impedir e, se não conseguirem, jamais aceitam a carona.
Opinando sobre o Brasil, ele acredita que o rigor adotado nos EUA caberia muito bem aqui, onde festas começam muito tarde da noite e varam a madrugada (idem quanto aos bares), com o consumo exagerado de bebidas, sobretudo por jovens com menos de 21 anos, contribuindo para elevar a níveis assustadores as estatísticas de acidentes graves, muitos deles fatais.
A conclusão a que chego é que temos muito a aprender com outros países do mundo (vários deles, além dos EUA, também possuem legislações muito restritivas quanto ao consumo de álcool), inclusive nesse particular, onde a excessiva tolerância e permissividade têm imposto um custo muito elevado para a sociedade.
É notável como a sociedade norte-americana trata com naturalidade essas restrições. Nos bares e pubs, normalmente após 21h, é comum os jovens serem obrigados a apresentar documento de identidade na entrada para comprovar idade superior a 21 anos, mesmo que tenha mais de 18 e que não vá consumir bebida alcoólica. As baladas costumam começar cedo, atingindo o auge entre 23h e 1h, sendo absolutamente normal policiais fardados circularem tranquilamente inspecionando o ambiente. Quando chega 1h30, as luzes acendem, a música para e, pontualmente às 2h, o estabelecimento é fechado e as pessoas costumam ir para suas casas. Perambular pela rua? Não convém porque certamente a polícia vai abordar.
Maior rigor ainda é aplicado aos raros que teimam em beber e dirigir, considerada uma das mais graves infrações do trânsito. Se houver um acidente e for detectado que o motorista ingeriu álcool além dos limites estabelecidos em leis estaduais, as penalidades costumam ser severas.
Conversei com cidadãos de lá e para eles tudo isso é natural e correto. Chegando aqui, troquei idéias com um amigo norte-americano que reside em Aracaju e, consequentemente, conhece a liberalidade da legislação brasileira. Ele foi taxativo: atualmente o rigor da legislação americana já é dispensável porque a sociedade já incorporou e apóia incondicionalmente as limitações. Segundo ele, se um grupo de jovens sai para a noite e um deles insiste em dirigir após beber, os demais tentam impedir e, se não conseguirem, jamais aceitam a carona.
Opinando sobre o Brasil, ele acredita que o rigor adotado nos EUA caberia muito bem aqui, onde festas começam muito tarde da noite e varam a madrugada (idem quanto aos bares), com o consumo exagerado de bebidas, sobretudo por jovens com menos de 21 anos, contribuindo para elevar a níveis assustadores as estatísticas de acidentes graves, muitos deles fatais.
A conclusão a que chego é que temos muito a aprender com outros países do mundo (vários deles, além dos EUA, também possuem legislações muito restritivas quanto ao consumo de álcool), inclusive nesse particular, onde a excessiva tolerância e permissividade têm imposto um custo muito elevado para a sociedade.
sábado, 30 de julho de 2011
Software livre: uma opção de negócio
Numa fria manhã da primavera de 1996, no anfiteatro do campus de Santa Cruz da Universidade da Califórnia, assisti atento à disputada palestra de Scott Mc-Nealy, à época CEO da Sun Microsystems, empresa que criou a tecnologia Java, quando ele insistia em afirmar: "o computador é a rede". Saí dali convicto de que era a hora de aprumar o leme da Infox em direção a Java, mas também preocupado com o futuro da SCO, empresa parceira que organizava aquele fórum e responsável pela distribuição SCO Unix.
Poucos anos depois, o crescimento do Linux enfraqueceu a SCO e passamos a adotar aquele sistema operacional de código aberto em nossos projetos, adaptando-nos à perda da confortável receita originária das vendas das licenças do SCO Unix, parcialmente recomposta pela prestação de serviços de suporte, treinamento e mentoring para Linux e Java.
O mesmo se deu com o banco de dados que adotamos durante anos, aos poucos substituído por MySQL e PostgreSQL, ambos free softwares. Fizemos, portanto, opção deliberada por usar e convencer nossos clientes - públicos e privados -, a adotarem software livre, proporcionando economia e adicionando ganhos de qualidade, desempenho e confiabilidade. Tal economia tem permitido que o cliente invista mais e melhor em desenvolvimento de sistemas e serviços de suporte, ou seja, no núcleo do nosso negócio.
Foi por essas razões que compreendemos, assimilamos e nos incorporamos facilmente às políticas públicas dos governos Federal e estaduais, que estabeleceram a preferência pelo software livre nas contratações de produtos e serviços de Tecnologia da Informação (TI). Ao longo dos últimos 15 anos, temos colecionado projetos desafiadores e vitoriosos, todos eles adotando software livre, quebrando mitos e preconceitos e proporcionando enormes economias para os clientes.
Dentre tantas, merece destaque a experiência de construção do Creta - Sistema de Processo Digital para Juizados Especiais Federais, contratado pelo TRF 5a Região, baseado em Recife, premiado nacionalmente e reconhecido como a mais efetiva solução de processo eletrônico para o judiciário brasileiro. A base de dados do Creta na Seção Judiciária do Recife armazena hoje o conteúdo de 325 mil processos, ocupando 1,1 Tb e suportando até 800 sessões simultâneas de usuários acessando a aplicação. Qual o custo para o cliente na aquisição dos produtos envolvidos (Linux, Java, JBoss e PostgreSQL)? A resposta é zero. Se, contudo, a opção fosse por softwares proprietários, ultrapassaria a cifra de R$ 10 milhões!
A partir da experiência do Creta, com o apoio do TRF 5a Região, ousamos construir um sistema mais abrangente, capaz de atender toda a demanda do judiciário, tornando eletrônicos - ou virtuais, ou digitais -, todos os processos, independentemente de classe e de instância. E assim nasceu, em menos de dois anos, o PJe - Processo Judicial Eletrônico, padronizado nacionalmente pelo CNJ e em adoção por tribunais federais e estaduais.
Alguns dirão que zerar o custo de aquisição não significa eliminar o custo total de propriedade (TCO), e é verdade. Em torno do software livre existe um crescente número de empresas provedoras de serviços - a exemplo da RedHat -, que vendem treinamentos, mentoring e subscrições anuais que garantem suporte técnico nos mais diferentes níveis. Dificilmente, contudo, o TCO de um software livre será superior ao do equivalente software proprietário.
O relato dessa experiência concreta não tem a intenção de alimentar o ultrapassado debate ideológico e maniqueísta que se estabeleceu em torno da adoção do software livre, mas chamar a atenção para uma oportunidade que se abre onde muitos ainda vêem uma ameaça e, adicionalmente, alertar para o inexorável crescimento da adoção do software livre como opção consciente de empresas e usuários de TI, sobretudo diante dos muitas vezes abusivos preços das licenças dos softwares proprietários.
(artigo publicado na edição 36, em julho de 2011, da revista Tecnologia da Informação: http://www.mflip.com.br/pub/assespro/?numero=36)
sábado, 2 de julho de 2011
Copa e Olimpíada: quem vai pagar a conta?
Exercitando minimamente a autocrítica, havemos de reconhecer que em nosso querido Brasil continuam fortemente sedimentados "princípios" que norteiam alguns agentes públicos e privados e que produzem inestancáveis sangrias dos cofres públicos.
Eis a razão de tantos, como eu, injustamente taxados de pessimistas, preocuparem-se com a realização dos dois maiores eventos esportivos do planeta por essas bandas: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Ao primeiro, adicione-se um fato recente: quem o capitaneia, a famosa FIFA, teve seus dirigentes envolvidos em esquemas de deslavada corrupção, e sobre a CBF, dispensam-se comentários.
Como somos um povo desmemoriado, a farra dos recentes Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro (PAN-2007), cujo orçamento saltou de R$ 400 milhões para R$ 3,4 bilhões, com fartos indícios de superfaturamento, deveriam servir como um grande sinal de alerta. Consideremos, pois, que o orçamento oficial das Olimpíadas de 2016 é de R$ 38,7 bi e da Copa de 2014 R$ 40 bi (a anterior, na África do Sul, custou R$ 15 bi). Se a "margem de erro" for a mesma do PAN-2007, estamos literalmente ... deixe prá lá.
É bem verdade que esses eventos, em alguma medida, vão antecipar investimentos em infraestrutura, sobretudo urbana, que podem se traduzir em ganhos permanentes para os cidadãos, além de poder alavancar a indústria do turismo. Ocorre que, a partir da experiência do PAN-2007, estudos apontaram que esses investimentos pouco favoreceram justamente quem mais os demandam: as classes menos favorecidas (vide link abaixo para o artigo "O Jogo da Desigualdade").
E quanto aos propagados argumentos dos defensores desses megaeventos? Os estudos provam que, em alguns casos, e o mais emblemático é Barcelona, pode-se obter um grande saldo positivo mas, infelizmente, é a exceção. No final das contas, sobretudo em se tratando de países em desenvolvimento, a tendência é sobrar um gigantesco passivo a ser pago, como de costume, pela sociedade, como ocorreu com a Grécia. Esperemos que, ao menos no caso da Copa de 2014, antes de pagar essa conta o povo brasileiro curta o efêmero momento de alegria com a conquista do campeonato.
Como a "sorte está lançada" (ou seria o azar?), não nos resta sabotar ou torcer para que não dêem certo. Ao contrário, devemos exigir dos agentes envolvidos com a organização das duas competições o máximo de transparência, seriedade e espírito público, embora tendo que nos esforçar para conter o natural ceticismo.
Sobre o tema, recomendo essas leituras ilustrativas:
- O Jogo da Desigualdade - http://migre.me/5a2II
- Rio 2016, e agora? Oportunidades e Desafios - http://migre.me/59QXb
- Prioridades do Futebol - http://migre.me/59QXT
Atualização em 11/09/2011:
Nesta data, a Folha de São Paulo traz matéria intitulada "Custo da Copa corre o risco de explodir", da qual destaco os seguintes trechos:
O Portal da Transparência do governo, montado pela Controladoria-Geral da União, diz que a Copa custará R$ 23,4 bilhões. A Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), que tem acordo de cooperação técnica com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o Ministério do Esporte, trabalha com outros números. Estima em R$ 112 bilhões o custo total do Mundial e em R$ 84,9 bilhões, se considerado o recorte feito pelo Portal da Transparência, com o cálculo incluindo só aeroportos, portos, segurança, arenas e mobilidade urbana.
De acordo com o procurador-chefe do Ministério Público Federal do Amazonas, Athayde Ribeiro Costa, atual coordenador do Grupo de Trabalho Copa do Mundo 2014:
"Há grande risco em financiar obras com projetos falhos e sem detalhamentos. Isso porque o valor da obra será feito em estimativas aleatórias e futuramente serão demandados aditivos acima dos limites legais", diz Costa. Segundo ele, o temor de que a desorganização conduza a uma situação de descontrole está se confirmando. Com esse quadro, "aumentam riscos de sobrepreço, de paralisação de obras, de obras inacabadas e de corrupção".
No Amazonas, o MPF determinou à Caixa e ao BNDES a suspensão do repasses de recursos por falta de projetos para a construção do monotrilho e da arena Amazônia, em Manaus.
Os dois projetos devem consumir quase R$ 900 milhões e, segundo o MPF, não têm projetos executivos, o que eleva o risco de sobrepreço. Ainda de acordo com o MPF, são obras com custos atuais que não podem ser considerados definitivos.
Eis a razão de tantos, como eu, injustamente taxados de pessimistas, preocuparem-se com a realização dos dois maiores eventos esportivos do planeta por essas bandas: a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Ao primeiro, adicione-se um fato recente: quem o capitaneia, a famosa FIFA, teve seus dirigentes envolvidos em esquemas de deslavada corrupção, e sobre a CBF, dispensam-se comentários.
Como somos um povo desmemoriado, a farra dos recentes Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro (PAN-2007), cujo orçamento saltou de R$ 400 milhões para R$ 3,4 bilhões, com fartos indícios de superfaturamento, deveriam servir como um grande sinal de alerta. Consideremos, pois, que o orçamento oficial das Olimpíadas de 2016 é de R$ 38,7 bi e da Copa de 2014 R$ 40 bi (a anterior, na África do Sul, custou R$ 15 bi). Se a "margem de erro" for a mesma do PAN-2007, estamos literalmente ... deixe prá lá.
É bem verdade que esses eventos, em alguma medida, vão antecipar investimentos em infraestrutura, sobretudo urbana, que podem se traduzir em ganhos permanentes para os cidadãos, além de poder alavancar a indústria do turismo. Ocorre que, a partir da experiência do PAN-2007, estudos apontaram que esses investimentos pouco favoreceram justamente quem mais os demandam: as classes menos favorecidas (vide link abaixo para o artigo "O Jogo da Desigualdade").
E quanto aos propagados argumentos dos defensores desses megaeventos? Os estudos provam que, em alguns casos, e o mais emblemático é Barcelona, pode-se obter um grande saldo positivo mas, infelizmente, é a exceção. No final das contas, sobretudo em se tratando de países em desenvolvimento, a tendência é sobrar um gigantesco passivo a ser pago, como de costume, pela sociedade, como ocorreu com a Grécia. Esperemos que, ao menos no caso da Copa de 2014, antes de pagar essa conta o povo brasileiro curta o efêmero momento de alegria com a conquista do campeonato.
Como a "sorte está lançada" (ou seria o azar?), não nos resta sabotar ou torcer para que não dêem certo. Ao contrário, devemos exigir dos agentes envolvidos com a organização das duas competições o máximo de transparência, seriedade e espírito público, embora tendo que nos esforçar para conter o natural ceticismo.
Sobre o tema, recomendo essas leituras ilustrativas:
- O Jogo da Desigualdade - http://migre.me/5a2II
- Rio 2016, e agora? Oportunidades e Desafios - http://migre.me/59QXb
- Prioridades do Futebol - http://migre.me/59QXT
Atualização em 11/09/2011:
Nesta data, a Folha de São Paulo traz matéria intitulada "Custo da Copa corre o risco de explodir", da qual destaco os seguintes trechos:
O Portal da Transparência do governo, montado pela Controladoria-Geral da União, diz que a Copa custará R$ 23,4 bilhões. A Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), que tem acordo de cooperação técnica com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e o Ministério do Esporte, trabalha com outros números. Estima em R$ 112 bilhões o custo total do Mundial e em R$ 84,9 bilhões, se considerado o recorte feito pelo Portal da Transparência, com o cálculo incluindo só aeroportos, portos, segurança, arenas e mobilidade urbana.
De acordo com o procurador-chefe do Ministério Público Federal do Amazonas, Athayde Ribeiro Costa, atual coordenador do Grupo de Trabalho Copa do Mundo 2014:
"Há grande risco em financiar obras com projetos falhos e sem detalhamentos. Isso porque o valor da obra será feito em estimativas aleatórias e futuramente serão demandados aditivos acima dos limites legais", diz Costa. Segundo ele, o temor de que a desorganização conduza a uma situação de descontrole está se confirmando. Com esse quadro, "aumentam riscos de sobrepreço, de paralisação de obras, de obras inacabadas e de corrupção".
No Amazonas, o MPF determinou à Caixa e ao BNDES a suspensão do repasses de recursos por falta de projetos para a construção do monotrilho e da arena Amazônia, em Manaus.
Os dois projetos devem consumir quase R$ 900 milhões e, segundo o MPF, não têm projetos executivos, o que eleva o risco de sobrepreço. Ainda de acordo com o MPF, são obras com custos atuais que não podem ser considerados definitivos.
domingo, 29 de maio de 2011
A solução do "enigma" matemático da conta de R$ 30,00
Um dos "enigmas" matemáticos mais difundidos e comentados, aparentemente sem solução, na verdade não passa de uma "pegadinha" ou uma indução ao erro por partir de uma premissa falsa.
Trata-se da história de 3 amigos pagando uma conta de bar: a conta totalizou R$ 25,00, cada um pagou R$ 10,00 e combinaram dar ao garçon gorjeta de R$ 2,00. Feito isso, o garçon embolsou sua parte e devolveu R$ 1,00 a cada um dos clientes.
Nesse ponto surge a falsa questão: se cada um dos clientes recebeu R$ 1,00 de volta, então os 3 pagaram R$ 27,00 (3 x 9,00) que, somados aos R$ 2,00 que ficaram com o garçon, totalizaria R$ 29,00. Onde estaria, então, o R$ 1,00 para completar os R$ 30,00? Sumiu?
Vamos ao raciocínio correto, de duas formas:
a) Os R$ 30,00 foram assim divididos: R$ 25,00 para a conta, R$ 2,00 para o garçon e R$ 3,00 para os clientes (o troco), sem sobrar nem faltar nenhum R$ 1,00.
b) Os R$ 27,00 foram assim divididos: R$ 25,00 para a conta e R$ 2,00 para o garçon, ou seja, e obviamente, a gorjeta do garçon é parte dos R$ 27,00, não fazendo sentido ser somada ao total.
Como pode ser visto, em ambas as análises as contas fecham. A tentativa de somar os R$ 2,00 aos R$ 27,00 e querer chegar aos R$ 30,00 é a "pegadinha".
Trata-se da história de 3 amigos pagando uma conta de bar: a conta totalizou R$ 25,00, cada um pagou R$ 10,00 e combinaram dar ao garçon gorjeta de R$ 2,00. Feito isso, o garçon embolsou sua parte e devolveu R$ 1,00 a cada um dos clientes.
Nesse ponto surge a falsa questão: se cada um dos clientes recebeu R$ 1,00 de volta, então os 3 pagaram R$ 27,00 (3 x 9,00) que, somados aos R$ 2,00 que ficaram com o garçon, totalizaria R$ 29,00. Onde estaria, então, o R$ 1,00 para completar os R$ 30,00? Sumiu?
Vamos ao raciocínio correto, de duas formas:
a) Os R$ 30,00 foram assim divididos: R$ 25,00 para a conta, R$ 2,00 para o garçon e R$ 3,00 para os clientes (o troco), sem sobrar nem faltar nenhum R$ 1,00.
b) Os R$ 27,00 foram assim divididos: R$ 25,00 para a conta e R$ 2,00 para o garçon, ou seja, e obviamente, a gorjeta do garçon é parte dos R$ 27,00, não fazendo sentido ser somada ao total.
Como pode ser visto, em ambas as análises as contas fecham. A tentativa de somar os R$ 2,00 aos R$ 27,00 e querer chegar aos R$ 30,00 é a "pegadinha".
terça-feira, 24 de maio de 2011
Madrid, siesta e fiesta (em outubro de 2009)
Após alguns dias em Lisboa, seguimos para Madrid. É marcante a diferença entre essas duas principais cidades da Península Ibérica. Madrid tem ares de metrópole, movimentada, that never sleeps. Ficamos hospedados no Tryp Memphis, em plena Gran Via, a rua mais famosa e agitada da cidade, novamente com excelente tarifa obtida via booking.com (média de 90 euros a diária). Em toda a sua extensão, nas calçadas largas da Gran Via são encontradas mesas de bares que servem a indissociável dupla cañas e tapas (chopps e petiscos).
Um dos extremos da Gran Via é a Plaza Cibeles, cartão postal da cidade onde fica o Palácio das Comunicaciones. A praça é cruzada pelo Paseo del Prado que leva ao imperdível Museo del Prado, a maior pinacoteca do mundo. Reserve algumas horas para deleitar-se diante de agumas dezenas de obras-primas de artistas como Goya, Velásquez e El Greco. No sentido oposto, seguindo pelo Paseo del Prado, chega-se à Plaza Colón em cujas imediações, especialmente na Calle Serrano, são encontradas lojas de grandes grifes internacionais.
O outro lado da Gran Via dá na Plaza de Espanha, cujas estátuas de Cervantes e de seus personagens Dom Quixote e Sancho Pança formam outro cartão postal da cidade. Dali segue-se em direção ao Palácio Real e à Catedral de Almudena até se chegar na Calle Mayor que nos leva à Plaza Mayor, parada obrigatória para fotos. Vale buscar a saída da Plaza que dá na Calle Imperial, para poder se deleitar com as imagens do cotidiano madrilenho presentes nas inúmeras vielas do entorno da Plaza.
E como diriam os espanhóis, cerca de la Plaza Mayor fica o Mercado de San Mateus, que descobrimos por acaso e acabou revelando-se uma grata surpresa. São várias tendas formando uma verdadeira feira de delícias e petiscos os mais variados, principalmente de frutos do mar, que podem ser deliciosamente consumidos ali mesmo, acompanhados com cerveja ou vinho. Os boquerones (espécie de pequenas sardinhas) fritos e a famosa salada de frutos do mar são simplesmente imperdíveis.
Fizemos outra parada em uma das mesas ao ar livre do charmoso Anciano Rey de los Vinos (www.elancianoreydelosvinos.es). Lá saboreamos mais uma taça de vinho acompanhada de um purito Romeo y Julieta (nos freeshops de Lisboa e Madrid você compra uma caixa com 5 unidades por apenas 4 euros).
No retorno para a Plaza de Espanha, em direção ao hotel, resolvemos cortar caminho pela Plaza Oriente e mais uma surpresa, o La Botilleria Del Café de Oriente (www.botilleria.es), com seu charmoso ambiente no lado de fora, com vista para o Palácio Real. Não resistimos a mais essa parada de começo de noite, temperatura caindo, para beber um tinto Rioja, optar por um jantar leve e deixar o tempo passar. Não foi a primeira vez que deixamos a programação seguir o acaso, abrindo mão de planos anteriormente traçados para nos entregar ao inesperado.
Não há como deixar de aproveitar uma viagem ao exterior e ir às compras nos outlets, hoje presentes em todas as grandes cidades. São shoppings normalmente a céu aberto, afastados dos centros das cidades, onde lojas das mais famosas grifes vendem seus produtos com descontos expressivos. Foi o que fizemos no sábado indo ao Las Rozas Outlet, a cerca de 20 minutos do centro de Madrid, com translado de 20 euros a partir da Plaza de Espanha número 7.
Na última noite optamos por um jantar especial e a escolha recaiu sobre El Espigón (www.elespigon.com). É uma casa de cozinha andaluza, charmosa e confortável, mas que pratica preços razoáveis. Na entrada a especialidade é a fritada de frutos do mar, uma deliciosa combinação de pequenos peixes, camarões e lulas fritos. O cardápio da casa é formado por uma variedade de peixes e crustáceos feitos com simplicidade, mas extraindo seus melhores sabores. Destacamos também os licores caseiros de sabores variados e servidos à vontade.
Somente a TAP tentou ofuscar o brilho dessa inesquecível viagem a dois, e conseguiu, ainda que parcialmente. No embarque em Lisboa, provenientes de Madrid em vôo da mesma companhia que atrasou apenas 30 minutos, fomos impedidos de embarcar de volta para o Brasil e obrigados a permanecer mais 24 horas em Lisboa. A empresa recusou-se a tratar o episódio como negativa de embarque, alegando atraso de conexão para livrar-se da multa de 600 euros.
Depois dessa viagem, chegamos a uma conclusão: Madrid é uma daquelas cidades que merecem ser visitadas, ou melhor, vividas, mais de uma vez. Tantas quantas possíveis.
(*) Co-autoria de @EloisaGaldino
Um dos extremos da Gran Via é a Plaza Cibeles, cartão postal da cidade onde fica o Palácio das Comunicaciones. A praça é cruzada pelo Paseo del Prado que leva ao imperdível Museo del Prado, a maior pinacoteca do mundo. Reserve algumas horas para deleitar-se diante de agumas dezenas de obras-primas de artistas como Goya, Velásquez e El Greco. No sentido oposto, seguindo pelo Paseo del Prado, chega-se à Plaza Colón em cujas imediações, especialmente na Calle Serrano, são encontradas lojas de grandes grifes internacionais.
O outro lado da Gran Via dá na Plaza de Espanha, cujas estátuas de Cervantes e de seus personagens Dom Quixote e Sancho Pança formam outro cartão postal da cidade. Dali segue-se em direção ao Palácio Real e à Catedral de Almudena até se chegar na Calle Mayor que nos leva à Plaza Mayor, parada obrigatória para fotos. Vale buscar a saída da Plaza que dá na Calle Imperial, para poder se deleitar com as imagens do cotidiano madrilenho presentes nas inúmeras vielas do entorno da Plaza.
E como diriam os espanhóis, cerca de la Plaza Mayor fica o Mercado de San Mateus, que descobrimos por acaso e acabou revelando-se uma grata surpresa. São várias tendas formando uma verdadeira feira de delícias e petiscos os mais variados, principalmente de frutos do mar, que podem ser deliciosamente consumidos ali mesmo, acompanhados com cerveja ou vinho. Os boquerones (espécie de pequenas sardinhas) fritos e a famosa salada de frutos do mar são simplesmente imperdíveis.
Fizemos outra parada em uma das mesas ao ar livre do charmoso Anciano Rey de los Vinos (www.elancianoreydelosvinos.es). Lá saboreamos mais uma taça de vinho acompanhada de um purito Romeo y Julieta (nos freeshops de Lisboa e Madrid você compra uma caixa com 5 unidades por apenas 4 euros).
No retorno para a Plaza de Espanha, em direção ao hotel, resolvemos cortar caminho pela Plaza Oriente e mais uma surpresa, o La Botilleria Del Café de Oriente (www.botilleria.es), com seu charmoso ambiente no lado de fora, com vista para o Palácio Real. Não resistimos a mais essa parada de começo de noite, temperatura caindo, para beber um tinto Rioja, optar por um jantar leve e deixar o tempo passar. Não foi a primeira vez que deixamos a programação seguir o acaso, abrindo mão de planos anteriormente traçados para nos entregar ao inesperado.
Não há como deixar de aproveitar uma viagem ao exterior e ir às compras nos outlets, hoje presentes em todas as grandes cidades. São shoppings normalmente a céu aberto, afastados dos centros das cidades, onde lojas das mais famosas grifes vendem seus produtos com descontos expressivos. Foi o que fizemos no sábado indo ao Las Rozas Outlet, a cerca de 20 minutos do centro de Madrid, com translado de 20 euros a partir da Plaza de Espanha número 7.
Na última noite optamos por um jantar especial e a escolha recaiu sobre El Espigón (www.elespigon.com). É uma casa de cozinha andaluza, charmosa e confortável, mas que pratica preços razoáveis. Na entrada a especialidade é a fritada de frutos do mar, uma deliciosa combinação de pequenos peixes, camarões e lulas fritos. O cardápio da casa é formado por uma variedade de peixes e crustáceos feitos com simplicidade, mas extraindo seus melhores sabores. Destacamos também os licores caseiros de sabores variados e servidos à vontade.
Somente a TAP tentou ofuscar o brilho dessa inesquecível viagem a dois, e conseguiu, ainda que parcialmente. No embarque em Lisboa, provenientes de Madrid em vôo da mesma companhia que atrasou apenas 30 minutos, fomos impedidos de embarcar de volta para o Brasil e obrigados a permanecer mais 24 horas em Lisboa. A empresa recusou-se a tratar o episódio como negativa de embarque, alegando atraso de conexão para livrar-se da multa de 600 euros.
Depois dessa viagem, chegamos a uma conclusão: Madrid é uma daquelas cidades que merecem ser visitadas, ou melhor, vividas, mais de uma vez. Tantas quantas possíveis.
(*) Co-autoria de @EloisaGaldino
sábado, 21 de maio de 2011
Computação em nuvem
A área de Tecnologia da Informação (TI) é famosa pela capacidade de criar neologismos e importar estrangeirismos, quase todos vindos do inglês e rapidamente se incorporando às demais línguas sem dar lugar às respectivas palavras e expressões traduzidas. Assim ocorreu com software, termo usado no mundo inteiro e que significa, em português, programa de computador. Um novo conceito domina o setor de TI neste momento mundo afora: o de cloud computing ou simplesmente computação em nuvem, cujo significado e importância vão além dos comuns modismos ou invencionices. Na verdade estamos diante de um novo ponto de inflexão na dinâmica curva evolutiva da TI, que está transformando drasticamente a forma como se compra e usa os seus recursos. É sobre isso, de forma introdutória, que escrevo a seguir.
O modelo de computação em nuvem está associado à utilização dos recursos (memória, capacidade de armazenamento e de processamento) de computadores compartilhados e interligados por meio da Internet, acessados remotamente (daí a alusão à nuvem). Computadores, dados e programas são vendidos como serviços compartilhados que podem ser acessados de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, sem a necessidade de se preocupar com os vários aspectos operacionais envolvidos. O poder computacional e a capacidade de armazenamento tornam-se commodity, comprados quando necessários e escaláveis sob demanda.
Atualmente, a computação em nuvem é dividida em cinco tipos: infraestrutura como serviço (IaaS), quando se utiliza uma parte de um servidor que se adeque às necessidades do contratante; plataforma como serviço (PaaS), quando se contrata apenas uma plataforma (banco de dados, webservice etc); desenvolvimento como serviço (DaaS), quando são oferecidas ferramentas de desenvolvimento compartilhadas; software como serviço (SaaS), quando o software é utilizado via Web (a exemplo do Google Docs, MS Sharepoint Online etc); comunicação como serviço (CaaS), quando se utiliza de uma solução de comunicação unificada oferecida remotamente.
A lista de vantagens da computação em nuvem é enorme, a começar da possibilidade de utilizar softwares sem que estes estejam instalados no computador do usuário e, na maioria das vezes, sem precisar se preocupar com o sistema operacional e o hardware que está usando em seu computador pessoal, acessando seus dados na "nuvem computacional" independentemente disso. O mesmo vale para o ambiente corporativo das organizações.
É no quesito economia, certamente o mais importante, onde residem as maiores vantagens da adoção desse novo modelo computacional, cujos recursos são vendidos de forma compartilhada e pagos sob demanda de uso, portanto, a custos bem menores do que aqueles requeridos para se ter e manter estrutura computacional própria. Essa economia começa com a eliminação das licenças de uso de software, uma vez que a maioria dos provedores de serviços em nuvem fornece aplicações que vão desde a gratuidade até o pagamento por nível de utilização.
No que se refere à infraestrutura (computadores, sistemas operacionais, bancos de dados etc), os custos de manutenção podem cair drasticamente, a depender do que for transferido para a nuvem. Isso inclui toda a gama de serviços de suporte, desenvolvimento, instalação, configuração e manutenção de softwares, além daqueles relacionados a hardware, que passam a ficar a cargo do provedor dos serviços em nuvem, restando nas organizações apenas os computadores clientes (dos usuários finais) configurados em rede e com acesso à Internet.
Há outros aspectos relevantes a justificar a corrida para as nuvens, como a compreensão de que se trata de uma resposta perfeita para a emergente comunicação móvel corporativa, dispensando a dispendiosa infraestrutura para suportar soluções móveis. Outro quesito tido como mais importante do que a economia para algumas empresas, é a agilidade com que suas demandas por escalabilidade (mais capacidade de armazenamento ou de processamento) são atendidas.
Apesar de todas as vantagens citadas, migrar para a nuvem requer uma séria de cuidados, sobretudo quando se trata de aplicação de missão crítica. São muitas as recomendações dadas pelos especialistas, incluindo avaliar a reputação do provedor do serviço, o nível de segurança oferecido, a facilidade (ou não) de trocar de provedor (garantia de portabilidade) e os dispositivos contratuais com níveis de serviço claros e penalidades bem definidas. A principal recomendação é: comece levando para a nuvem uma aplicação de menor porte e baixa criticidade.
É preciso ter em mente que a computação em nuvem ainda está na infância, com regras e políticas incipientes. Exemplo dessa fragilidade foi a recente falha no sistema da Amazon, chamado Elastic Compute Cloud, que afetou diretamente mais de 70 sites, dentre outros do FourSquare, que permite aos usuários a marcação do local em que se encontram, e a do jornal norte-americano The New York Times.
Embora o mercado de computação em nuvem venha evoluindo rapidamente, não faltam críticas sobre a falta de interoperabilidade, receio quanto ao aprisionamento a determinado fornecedor e riscos de segurança. Uma iniciativa para responder à demanda por interoperabilidade é a Open Data Center Alliance, organização cujos membros incluem a BMW, Deutsche Bank, JPMorgan Chase, Lockheed, Marriott, Shell, Terremark, UBS, Baidu, eBay e Kraft Foods. A aliança foi formada no ano passado e o número de membros mais do que dobrou desde então, chegando a 150 empresas, que somam 85 bilhões de dólares de gastos anuais com TI.
Por outro lado, o recente lançamento pela Google do Chromebook, notebook com sistema operacional de código aberto concebido para utilizar computação em nuvem (o usuário acessa os programas que estão disponíveis remotamente, bastando uma conexão à Internet), é mais uma demonstração de que estamos diante de um caminho sem volta.
Empresas como Google, IBM e Microsoft foram as primeiras a iniciar uma grande ofensiva nessa "nuvem de informação" (information cloud), que especialistas consideram uma nova fronteira da era digital. Aos poucos, essa tecnologia vai deixando de ser utilizada apenas em laboratórios para ingressar nas empresas e em computadores domésticos.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Telecomunicações no Brasil: até quando seremos explorados?
Não é de agora que tenho chamado a atenção para os abusos perpetrados pelas empresas de telecomunicações (teles), sobretudo nas operações de telefonia móvel. Para não parecer que critico sem fundamento, ainda mais no twitter, cuja limitação de 140 caracteres dificulta maiores explicações, resolvi escrever esse post, pegando carona em matérias sobre o tema publicadas na Folha de São Paulo de 08/02/2010.
Vamos aos textos extraídos das matérias (em azul), seguidos de meus comentários:
Uma pesquisa recente da consultoria europeia Bernstein Research colocou o minuto de celular no Brasil em segundo lugar entre os mais caros do mundo. O país só perde para a África do Sul e está à frente da Nigéria. O que o levantamento não revelou é que as tarifas são elevadas porque o governo brasileiro não abre mão de impostos e as operadoras não querem baixar o valor extra cobrado por minuto de seus clientes quando estes telefonam para um assinante da concorrente.
Resultado: em média, o consumidor brasileiro paga R$ 0,45 por minuto, segundo a pesquisa, em chamadas locais para celulares da própria operadora. Esse valor passa de R$ 1 caso a chamada termine em um número da operadora móvel concorrente.
Há anos, as teles, por meio de sua associação, a Acel, defendem a redução da carga tributária que, em média, é de 42% do preço por minuto ao consumidor. O setor diz que é uma das cargas mais pesadas do mundo.
Até o momento, o governo -tanto o estadual quanto o federal- não deu nenhuma sinalização de que irá baixar as alíquotas que incidem sobre o serviço. Dados da Telebrasil, associação que reúne representantes do setor de telecomunicações (incluindo as teles fixas e móveis), revelam que, em alguns Estados, a arrecadação com serviços de telecomunicações chega a 40% do total.
Aqui reside um imenso equívoco: se a carga tributária é de 42%, como justificar que a tarifa média praticada no Brasil chega a ser 10x maior que a média mundial e 3x a média dos países em desenvolvimento, segundo outros estudos realizados pelo IPEA e OCDE?
Não é só imposto
Mas não é só isso que pesa para o consumidor. A conta também sobe porque as operadoras móveis não querem perder parte de sua receita de interconexão, valor cobrado por minuto nas ligações que, para serem completadas, precisam passar pela rede de companhias concorrentes.
Em média, esse valor oscila entre R$ 0,40 e R$ 0,45 por minuto e é adicionado ao preço do minuto definido em contrato pela operadora nos planos pré e pós-pagos escolhidos pelo cliente. Entre o quarto trimestre de 2008 e o terceiro trimestre de 2009, TIM, Vivo e Oi angariaram R$ 4,9 bilhões com a interconexão. A Claro não divulga essa informação.
"Grande parte desses recursos [de interconexão] é dinheiro na veia das operadoras", diz Paulo Mattos, diretor de regulamentação da Oi. "Se pegar a receita anual de todas elas [incluindo a própria Oi], 35% é dinheiro da interconexão."
Mattos afirma que esses valores praticados no Brasil são 150% superiores aos da Europa e dos EUA.
A GVT chegou a ir à Justiça contra as operadoras móveis, considerando abusivos os preços cobrados pela interconexão. A disputa foi parar até na SDE (Secretaria de Direito Econômico), órgão do Ministério da Justiça que investiga casos que podem ferir a concorrência comercial.
Anatel diz que consultoria vai estudar modelo
A Anatel informa que já contratou uma consultoria especializada para ajudá-la a definir o modelo de custo dos serviços prestados pelas operadoras móveis. O trabalho deverá ser concluído em 18 meses.
A UIT (União Internacional de Telecomunicações) participa desse projeto. A organização, ligada à ONU, atuou na elaboração desses sistemas de monitoramento de custos das teles em outros países.
Contudo, os valores (de interconexão) em vigor atualmente são considerados exorbitantes. A Folha apurou que a agência pretende acelerar a definição de um modelo de custos para que os consumidores possam utilizar o celular sem se preocupar tanto com o preço do minuto, como acontece em países desenvolvidos.
Segundo a consultoria Bernstein Research, nem mesmo em nações em desenvolvimento o minuto passa de R$ 0,10, já considerando impostos. Na Índia, cujo PIB (Produto Interno Bruto) se assemelha ao do Brasil, o minuto é R$ 0,02; na Indonésia e na China, R$ 0,06; no México, na Rússia e no Egito é R$ 0,10, mesmo preço cobrado nos EUA.
Recentemente, países da América Latina e Caribe começaram a revisão dos custos das operadoras para derrubar o preço do minuto. No Chile, a interconexão caiu pela metade.
Vejam que detalhe interessante: a ANATEL precisava de 18 meses (!!) para definir novo modelo de custos! Será que os estudos foram contratados e iniciados? Quem souber morre ...
As teles afirmam que a interconexão está nesse patamar porque o investimento na telefonia celular é muito maior que na fixa, exigindo novos aportes a cada três anos.
Isso porque haveria uma evolução de tecnologias mais acelerada na plataforma móvel. Um exemplo: nem bem foram realizados os aportes na construção de uma rede de telefonia 3G (terceira geração) no Brasil e as operadoras já discutem os investimentos necessários ao 4G (quarta geração).
Por isso, elas dizem que não dá para abrir mão da receita da interconexão sem colocar algo no lugar. Além disso, ainda segundo as companhias, parte dessa receita ajuda a manter o cliente pré-pago, que gasta, em média, menos de R$ 10 por mês. Essa quantia não remunera o serviço e afeta a lucratividade da companhia. Resultado: com uma redução drástica da interconexão, seria preciso aumentar mais o minuto.
A TelComp, associação que representa as operadoras que defendem a competição, acredita que a redução da interconexão obrigaria as empresas a se tornarem mais eficientes, criando fórmulas e planos que atraiam novos clientes, estimulando justamente o uso do celular na realização de chamadas.
Foi o que aconteceu em países da Europa e nos EUA, que praticamente zeraram o valor da interconexão, fazendo com que o tráfego de voz saltasse rapidamente para um dos mais elevados do mundo.
Esse trecho é autoexplicativo: as teles tentando justificar o injustificável ou perpetuar um modelo de negócios baseado na sua baixa competitividade.
Eis as minhas conclusões:
1. As telecomunicações no Brasil se transformaram em um dos melhores negócios do mundo, combinando a oferta de serviços de péssima qualidade, com tarifas exorbitantes e regulação frouxa (há quem justifique a frouxidão da Anatel por conta do marco regulatório intencionalmente omisso, obra da era privatizante de FHC e que os governos seguintes, assim como o Congresso Nacional, mantêm intocável).
2. O cenário transcende a telefonia móvel e atinge a oferta de serviços de comunicação em banda larga, também abusivamente caros e com velocidades ridículas para os tempos atuais. O cinismo é tanto que, com a chegada do concorrente GVT, a Oi reduziu drasticamente os preços do seu problemático Velox, comprovando os abusivos sobrepreços até então praticados.
3. Nós usuários temos parcela significativa de culpa porque: a) usamos excessivamente o celular; b) não utilizamos outras formas de comunicação de custo baixíssimo, uma vez que rodam na Internet, como Skype, e-mail etc. Mais recentemente, aplicativos de voz sobre IP (VoIP) foram disponibilizados com alta qualidade, a exemplo do Viber para iPhone, mas pouquíssimas pessoas utilizam.
Vamos aos textos extraídos das matérias (em azul), seguidos de meus comentários:
Uma pesquisa recente da consultoria europeia Bernstein Research colocou o minuto de celular no Brasil em segundo lugar entre os mais caros do mundo. O país só perde para a África do Sul e está à frente da Nigéria. O que o levantamento não revelou é que as tarifas são elevadas porque o governo brasileiro não abre mão de impostos e as operadoras não querem baixar o valor extra cobrado por minuto de seus clientes quando estes telefonam para um assinante da concorrente.
Resultado: em média, o consumidor brasileiro paga R$ 0,45 por minuto, segundo a pesquisa, em chamadas locais para celulares da própria operadora. Esse valor passa de R$ 1 caso a chamada termine em um número da operadora móvel concorrente.
Há anos, as teles, por meio de sua associação, a Acel, defendem a redução da carga tributária que, em média, é de 42% do preço por minuto ao consumidor. O setor diz que é uma das cargas mais pesadas do mundo.
Até o momento, o governo -tanto o estadual quanto o federal- não deu nenhuma sinalização de que irá baixar as alíquotas que incidem sobre o serviço. Dados da Telebrasil, associação que reúne representantes do setor de telecomunicações (incluindo as teles fixas e móveis), revelam que, em alguns Estados, a arrecadação com serviços de telecomunicações chega a 40% do total.
Aqui reside um imenso equívoco: se a carga tributária é de 42%, como justificar que a tarifa média praticada no Brasil chega a ser 10x maior que a média mundial e 3x a média dos países em desenvolvimento, segundo outros estudos realizados pelo IPEA e OCDE?
Não é só imposto
Mas não é só isso que pesa para o consumidor. A conta também sobe porque as operadoras móveis não querem perder parte de sua receita de interconexão, valor cobrado por minuto nas ligações que, para serem completadas, precisam passar pela rede de companhias concorrentes.
Em média, esse valor oscila entre R$ 0,40 e R$ 0,45 por minuto e é adicionado ao preço do minuto definido em contrato pela operadora nos planos pré e pós-pagos escolhidos pelo cliente. Entre o quarto trimestre de 2008 e o terceiro trimestre de 2009, TIM, Vivo e Oi angariaram R$ 4,9 bilhões com a interconexão. A Claro não divulga essa informação.
"Grande parte desses recursos [de interconexão] é dinheiro na veia das operadoras", diz Paulo Mattos, diretor de regulamentação da Oi. "Se pegar a receita anual de todas elas [incluindo a própria Oi], 35% é dinheiro da interconexão."
Mattos afirma que esses valores praticados no Brasil são 150% superiores aos da Europa e dos EUA.
A GVT chegou a ir à Justiça contra as operadoras móveis, considerando abusivos os preços cobrados pela interconexão. A disputa foi parar até na SDE (Secretaria de Direito Econômico), órgão do Ministério da Justiça que investiga casos que podem ferir a concorrência comercial.
Anatel diz que consultoria vai estudar modelo
A Anatel informa que já contratou uma consultoria especializada para ajudá-la a definir o modelo de custo dos serviços prestados pelas operadoras móveis. O trabalho deverá ser concluído em 18 meses.
A UIT (União Internacional de Telecomunicações) participa desse projeto. A organização, ligada à ONU, atuou na elaboração desses sistemas de monitoramento de custos das teles em outros países.
Contudo, os valores (de interconexão) em vigor atualmente são considerados exorbitantes. A Folha apurou que a agência pretende acelerar a definição de um modelo de custos para que os consumidores possam utilizar o celular sem se preocupar tanto com o preço do minuto, como acontece em países desenvolvidos.
Segundo a consultoria Bernstein Research, nem mesmo em nações em desenvolvimento o minuto passa de R$ 0,10, já considerando impostos. Na Índia, cujo PIB (Produto Interno Bruto) se assemelha ao do Brasil, o minuto é R$ 0,02; na Indonésia e na China, R$ 0,06; no México, na Rússia e no Egito é R$ 0,10, mesmo preço cobrado nos EUA.
Recentemente, países da América Latina e Caribe começaram a revisão dos custos das operadoras para derrubar o preço do minuto. No Chile, a interconexão caiu pela metade.
Vejam que detalhe interessante: a ANATEL precisava de 18 meses (!!) para definir novo modelo de custos! Será que os estudos foram contratados e iniciados? Quem souber morre ...
As teles afirmam que a interconexão está nesse patamar porque o investimento na telefonia celular é muito maior que na fixa, exigindo novos aportes a cada três anos.
Isso porque haveria uma evolução de tecnologias mais acelerada na plataforma móvel. Um exemplo: nem bem foram realizados os aportes na construção de uma rede de telefonia 3G (terceira geração) no Brasil e as operadoras já discutem os investimentos necessários ao 4G (quarta geração).
Por isso, elas dizem que não dá para abrir mão da receita da interconexão sem colocar algo no lugar. Além disso, ainda segundo as companhias, parte dessa receita ajuda a manter o cliente pré-pago, que gasta, em média, menos de R$ 10 por mês. Essa quantia não remunera o serviço e afeta a lucratividade da companhia. Resultado: com uma redução drástica da interconexão, seria preciso aumentar mais o minuto.
A TelComp, associação que representa as operadoras que defendem a competição, acredita que a redução da interconexão obrigaria as empresas a se tornarem mais eficientes, criando fórmulas e planos que atraiam novos clientes, estimulando justamente o uso do celular na realização de chamadas.
Foi o que aconteceu em países da Europa e nos EUA, que praticamente zeraram o valor da interconexão, fazendo com que o tráfego de voz saltasse rapidamente para um dos mais elevados do mundo.
Esse trecho é autoexplicativo: as teles tentando justificar o injustificável ou perpetuar um modelo de negócios baseado na sua baixa competitividade.
Eis as minhas conclusões:
1. As telecomunicações no Brasil se transformaram em um dos melhores negócios do mundo, combinando a oferta de serviços de péssima qualidade, com tarifas exorbitantes e regulação frouxa (há quem justifique a frouxidão da Anatel por conta do marco regulatório intencionalmente omisso, obra da era privatizante de FHC e que os governos seguintes, assim como o Congresso Nacional, mantêm intocável).
2. O cenário transcende a telefonia móvel e atinge a oferta de serviços de comunicação em banda larga, também abusivamente caros e com velocidades ridículas para os tempos atuais. O cinismo é tanto que, com a chegada do concorrente GVT, a Oi reduziu drasticamente os preços do seu problemático Velox, comprovando os abusivos sobrepreços até então praticados.
3. Nós usuários temos parcela significativa de culpa porque: a) usamos excessivamente o celular; b) não utilizamos outras formas de comunicação de custo baixíssimo, uma vez que rodam na Internet, como Skype, e-mail etc. Mais recentemente, aplicativos de voz sobre IP (VoIP) foram disponibilizados com alta qualidade, a exemplo do Viber para iPhone, mas pouquíssimas pessoas utilizam.
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