(artigo publicado em set/2010)
Não resta dúvida do papel da ciência, da tecnologia e da inovação (CT&I) como um dos mais relevantes fatores de elevação da competitividade da economia, seja de um país, de um Estado ou de uma localidade. Para se tornarem competitivas, e até para terem suas sobrevivências asseguradas, as empresas precisam cada vez mais se atualizar tecnologicamente e adotar perfil inovador na gestão, nos processos e nos produtos.
Podemos afirmar, sem medo de errar, que cresce a importância da tecnologia e da inovação como fator de competitividade empresarial, na mesma proporção em que perdem relevância fatores como incentivos fiscais (marcos legais como a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e a legislação do Empreendedor Individual já promoveram forte desoneração tributária) e acesso a crédito (é crescente a oferta de linhas voltadas para o investimento com ênfase em micro, pequenos e médios negócios e em formação bruta de capital fixo).
A questão central hoje é como introduzir na agenda das empresas a tecnologia e a inovação, sobretudo em um país como o Brasil onde a pesquisa científica e tecnológica está fortemente concentrada nas universidades e em algumas poucas instituições, quase todas públicas e historicamente distantes das demandas do mercado, produzindo um fosso para o qual ainda contribui boa dose de preconceito.
Eis, portanto, um típico espaço para uma política pública, ainda timidamente presente em parte da federação, embora com tendência ao crescimento fruto da indução do governo Federal que vem fortalecendo o Ministério da Ciência e Tecnologia. Em Sergipe, o primeiro ensaio se deu em 2001 com a criação da Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP-SE), que vinha, ainda que a passos lentos, promovendo o fomento à CT&I até ter sido absurdamente extinta em 2005 pelo governo estadual, segundo dizem seguindo recomendação de uma dessas famosas consultorias de gestão que ali enxergou – com a miopia que lhes é peculiar – um item de custo passível de erradicação.
A partir de 2007, com o advento de um novo governo que tem compreensão clara do real significado da CT&I para o presente e para o futuro de Sergipe, a situação se inverteu: são crescentes os valores que vêm sendo aplicados no segmento, desde o financiamento de pesquisas à concessão de bolsas, sempre lançando mão de recursos não-reembolsáveis (ou a fundo perdido, como se chamava inadequadamente no passado).
Os números falam por si. No caso, por exemplo, da Fundação de Apoio à Pequisa e à Inovação Tecnológica (Fapitec), recriada logo depois de extinta, mas praticamente inativa entre 2005 e 2006, merecem destaque indicadores como a captação de recursos e a aplicação destes por meio de editais públicos, garantindo o acesso aos recursos de forma democrática e transparente.
O montante de recursos captados junto às agências federais (Finep, Capes, CNPq e BNB), que chegou a R$ 3,0 milhões, em 2007, R$ 10,7 milhões, em 2008, R$ 8,7 milhões, em 2009, já atinge R$ 21,9 milhões em 2010. São recursos fundamentais para a execução dos programas de ciência e tecnologia, sendo a contrapartida estadual proveniente do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funtec), numa proporção média de R$ 3,0 de recursos federais para cada R$ 1,0 de recursos estaduais.
Na aplicação desses recursos em programas estaduais de ciência e tecnologia, foram lançados, desde 2007, 44 editais públicos, comprometendo um montante de R$ 27 milhões, enquando de 2001 a 2006 foram 18 editais, perfazendo um total de R$ 8,5 milhões. Em termos quantitativos, desde 2007, a partir dos editais lançados, foram contratados 273 projetos de pesquisa científica e tecnológica, 285 auxílios para a divulgação científica e 573 bolsas concedidas, sendo 164 pioneiras de mestrado e doutorado.
Vale destacar que o governo não apenas honrou todo o passivo resultante de convênios anteriores, firmados em 2004, cuja contrapartida ainda estava em aberto no início de 2007, mas intensificou os programas existentes em pesquisa científica e tecnológica, divulgação científica e em ações de inovação e políticas públicas. Em todas essas linhas foram criados novos programas. Atenção especial foi dada ao programa de formação de recursos humanos qualificados, que vem concedendo bolsas para estudantes de graduação, para mestrado e doutorado e para pesquisadores desenvolverem ações diretamente em empresas.
O acordo firmado recentemente com a Capes, voltado ao fortalecimento da pós-graduação, é fruto do reconhecimento daquela agência em relação ao trabalho atualmente desenvolvido no Estado. Com o CNPq, foram firmados convênios para fomentar projetos de jovens pesquisadores, consolidação de núcleos de excelência e atração de pesquisadores qualificados. Por fim, com a Finep, foram firmados convênios para financiar projetos de inovação diretamente nas empresas e ações de extensionismo tecnológico, além de ações estruturantes em ciência e tecnologia, de forma integrada com instituições estaduais como ITPS e Emdagro, envolvendo ainda o SergipeTec, a UFS e o ITP/UNIT.
Este vasto leque de ações que estamos executando está amparado no Plano Estadual de CT&I que foi concebido a partir das discussões que ocorreram em março de 2008 na Conferência Estadual de CT&I, a primeira da história de Sergipe. A redação final do plano, por sua vez, foi aprovada no Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (Concit), instância na qual estão representadas as instituições públicas e privadas de CT&I.
No plano institucional, inspirados no governo Federal, elaboramos o projeto da Lei Estadual de Inovação, aprovada pela Assembléia Legislativa em 2009 e logo em seguida sancionada pelo chefe do Executivo Estadual. Esse marco regulatório do setor estabelece as condições para viabilizar parcerias entre instituições de CT&I do Estado e empresas, amplia os recursos públicos para projetos inovadores e busca incrementar a geração de negócios com foco em inovação tecnológica.
Com o objetivo de resgatar o papel histório do Instituto de Tecnologia e Pesquisas de Sergipe (ITPS) na prestação de serviços e no suporte tecnológico às empresas sergipanas, sobretudo as de menor porte, foi dada atenção especial ao capital humano (atração e fixação de doutores) e realizados investimentos da ordem de R$ 1,3 milhão na aquisição de sofisticados equipamentos para garantir maior celeridade e confiabilidade nas análises, que saltaram de 5 mil/ano em 2006 para mais de 10 mil desde 2008.
Outro componente de grande relevância para o sistema estadual de CT&I é o Parque Tecnológico (SergipeTec), que encontramos com sérias falhas de concepção, difuso e divorciado das principais instituições de CT&I do Estado, em especial a UFS. Já em 2007 fizemos a relocalização do projeto, da área do Aeroclube de Sergipe para 14 ha cedidos pela UFS, parte da Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos. Desde então, construímos e inauguramos a Biofábrica de Mudas de plantas, estamos executando as obras de infraestrutura e em vias de iniciar a construção do edifício sede. O montante de investimentos, parte de emendas ao OGU e parte do tesouro estadual, já superou a cifra de R$ 20 milhões.
Do exposto restam claros os avanços da política estadual de ciência, tecnologia e inovação, cujos resultados, no curto, médio e longo prazos, contribuem diretamente para tornar a economia sergipana mais competitiva, para fortalecer a pesquisa científica e tecnológica e para assegurar o capital humano indispensável para o presente e para o futuro de Sergipe.
(à época Secretário de Estado do Desenvolvimento Econômico, da Ciência e Tecnologia e do Turismo de Sergipe)