Jornal da Cidade
Revista da Cidade
#Business
07/10/2012
Não é novidade para ninguém que no
Brasil são praticados os preços mais altos do mundo para diversos bens e
serviços: carros, eletrônicos, fármacos, telefonia etc. Também não é novidade
que esses preços abusivos são atribuídos, invariavelmente, à elevada carga
tributária, igualmente uma das mais elevadas do planeta. Lamento desapontá-lo,
mas os elevados impostos não são a principal causa do abuso de preços em nosso
país, e provarei a seguir.
Um dos melhores exemplos para
comprovar que a principal causa do abuso de preços reside no abuso de quem os
pratica é a indústria automobilística. Em geral os veículos importados custam
aqui em média o dobro dos preços praticados nos EUA. Ocorre que a carga
tributária incidente sobre o veículo lá é de 20% e aqui de 40%. Não precisa ser
expert em matemática para perceber que a maior parte do sobrepreço não está nos
impostos.
Uma pesquisa feita pelo banco de
investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras
instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas
matrizes. O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no
geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior
que a de outros países.
Alguns comparativos de preços
provocam indignação. O Corolla, por exemplo, no Brasil custa US$ 37.636,00, na
Argentina US$ 21.658,00 e nos EUA US$ 15.450,00. O Jetta é vendido no México
por R$ 32,5 mil, já aqui o mesmo carro custa R$ 65,7 mil. O Kia Soul, fabricado
na Coréia, custa US$ 18 mil no Paraguai e US$ 33 mil no Brasil. Já o Hyundai
ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson por R$ 56 mil, 37% a
menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.
A verdadeira causa é revelada, às
vezes sem desfaçatez, por altos executivos das montadoras. Quando em visita a
Manaus, o presidente mundial da Honda, Takanobu Ito, respondeu que, retirando
os impostos, o preço do carro no Brasil é mais caro que em outros países porque
“aqui se pratica um preço mais próximo da realidade. Lá fora é mais sacrificado
vender automóveis”. Ele disse que o fator câmbio pesa na composição do preço do
carro no Brasil, mas lembrou que o que conta é o valor percebido. “O que vale é
o preço que o mercado paga”. E porque o consumidor brasileiro paga mais do que
os outros? “Eu também queria entender – respondeu Takanobu Ito – a verdade é que
o Brasil tem um custo de vida muito alto. Até os sanduíches do McDonalds aqui
são os mais caros do mundo”.
Outra pérola: “O preço não tem
nada a ver com o custo do produto. Quem define o preço é o mercado”, disse um
executivo da Mercedes-Benz, para explicar porque o brasileiro paga R$ 265.00,00
por uma ML 350, que nos Estados Unidos custa o equivalente a R$ 75 mil. “Por
que baixar o preço se o consumidor paga?”, explicou o executivo. Pior do que
tudo isso: "sensibilizado", o governo ainda comete a insanidade de
baixar o IPI, medida que só faria sentido se primeiro os preços fossem trazidos
para a realidade do mercado internacional.
As razões são as mesmas para
explicar os obscenos preços praticados por outros setores, a exemplo de
eletrônicos (tablets e smartphones que o digam) e da telefonia - estudos
respeitáveis apontam para um preço médio que chega a 10 vezes mais do que os
praticados nos países desenvolvidos -, com o agravante de termos um dos piores
serviços do mundo (vide o escandalosamente vergonhoso serviço prestado pelas
famigeradas teles).
A conclusão a que podemos chegar,
lamentavelmente, é uma só: os preços são altos simplesmente porque há quem
pague, ou seja, nós. Para eles, do alto das suas montanhas de lucros, somos
pobres e vaidosos otários.
Para
refletir: Não diga que
a vitória está perdida se é de batalhas que se vive a vida. Raul Seixas.
Para ler: Brasil tem
carro mais caro do mundo, Joel Leite, UOLCarros, reproduzido em
jsantana61.blogspot.com
Twitter: @jsantana61
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